Capítulo 6: Novo sentimento

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Eles estavam dirigindo há algum tempo com o silêncio criando uma barreira entre eles. Fluke estava atordoado com o frescor dos eventos anteriores. Desde que conhecera Ohm, ele nunca havia dado mostras de ser alguém reativo ou inconsequente. Então, o que o havia levado a tomar uma decisão tão precipitada quanto atirar no homem a sangue frio daquele jeito? Ele tentava teorizar, roubando pequenos olhares do homem ao seu lado que dirigia de forma impassível.

Por sua vez, Ohm não estava menos chocado. Ele só se sentia prestes a explodir desde o dia em que sua irmã havia morrido por culpa daqueles monstros e talvez isso tenha despertado nele algo que ainda não sabia existir. Talvez todas as pessoas boas também sejam assim: assassinos dormentes à espera da gota d'água capaz de fazê-los levantar a arma em punho e puxar o gatilho, cessando definitivamente com as ameaças ao seu redor.

Quando ele viu o funcionário da loja agredindo Fluke verbalmente, não teve outra coisa que passou pela sua mente além da vontade de querer que ele calasse a boca. Alcançando a arma colocada no cós da calça, ele mirou para a cabeça do sujeito e terminou com o zumbido que tinha em seus ouvidos.

Porém, o olhar que Fluke lançou a ele depois disso o fez tremer. O menor parecia aterrorizado com o comportamento dele e isso o assustava muito. Ele nunca havia imaginado ser capaz de provocar aquela reação em alguém tão importante para si. Matar o idiota? Fácil. Sustentar a dor trazida com o medo de Fluke contra ele? Insuportável.

Foi por isso que ele decidiu dirigir quando chegaram ao carro estacionado do lado de fora da loja. Fluke já ia tirando as chaves do bolso, mas Ohm as pediu estendendo a mão. Mais uma vez, o medo do outro transpareceu quando ele tremeu os dedos ao depositar o molho na palma da mão maior.

De certa forma, dirigir ajudava a distraí-lo e essa sensação era bem-vinda. Ele não queria, de forma alguma, pensar no "depois". O que ele deveria dizer para que Fluke voltasse a confiar nele? O que ele deveria fazer para ser digno do outro? Sua mente rodava em turbilhão atrás de respostas porque sua única certeza era de que queria mostrar a Fluke que ele era confiável, que ele era seu e que nunca faria nada para machucá-lo.

"Vamos parar ali. Tá ficando tarde e já estamos bem longe.", Fluke disse indicando uma casa na beira da estrada. Por sorte, o imóvel tinha uma garagem onde puderam esconder o veículo. Depois de uma vistoria rápida, notaram que o lugar estava abandonado, apesar de ainda conter alguns móveis no interior. Excelente para que pudessem passar a noite.

Foi fácil quebrar a fechadura da porta dos fundos, enferrujada, indicando que não era trocada há tempos. Provavelmente o lugar havia sido abandonado como tantos outros naquela região. Depois da crise econômica dos últimos anos, muitas famílias abandonaram suas casas no interior na tentativa de tentar sorte melhor nos centros urbanos. Infelizmente, isso nem sempre acontecia, mas sem dinheiro algum, acabam sem ter como voltar para suas casas que pereciam sem seus proprietários.

"Tem água.", Ohm disse após abrir uma torneira para conferir.

"Hum. Eu vou tomar banho.", Fluke declarou sem olhar nos olhos do mais alto e adentrando no interior da casa.

Depois de alguns minutos, Fluke saiu do banheiro e encontrou Ohm olhando pela janela do quarto principal.

"Eu… também vou tomar banho…", dessa vez foi Ohm quem evitou olhar na direção do outro. Toda aquela tensão estava fazendo migalhas do seu coração e do seu raciocínio. 

Ohm acreditou que talvez pudesse encontrar algum conforto no banho, mas logo abandonou a ideia. As gotas frias faziam seu coração acelerar e seus músculos ficarem cada vez mais tensos. Ele odiava cada segundo dessa situação porque se sentia perdido.

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