Capítulo 6

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TW: Abuso familiar, menção de tortura, trauma, abuso físico e psicológico, ataque de pânico.

A casa onde passei minha infância era simples e pequena, em um bairro afastado do centro da cidade e em um condomínio composto por casas bem distanciadas uma da outra. Não haviam muitas pessoas morando ali, e eu mesma apenas conhecia uma vizinha idosa que vivia umas quatro casas de distância da nossa... Mas durante certa parte da minha infância eu pude me divertir ali. 

Minha mãe, uma heroína local, escolhera aquela localização exatamente por causa da discrição que vinha com ela, para poder manter sua vida pessoal longe do trabalho perigoso e da mídia que a importunava. Durante os poucos anos que ela viveu conosco ali, tivemos uma vida tranquila. Mas, depois que ela morreu e que minha tia se mudou para a nossa casa para ajudar meu pai a me criar, as coisas subitamente se tornaram infernais. 

— Hope? Onde você se escondeu dessa vez, sua praguinha? 

O barulho das correntes que meu pai arrastava era o suficiente para me fazer querer gritar. Eu tinha cinco anos, havia mais ou um ano desde que minha individualidade havia começado a se desenvolver, e faziam seis meses desde o falecimento de minha mãe. Minha habilidade era difícil de ser controlada, já que ela era uma mistura perfeita das quirks dos meus pais e cada uma delas por si só já eram bem poderosas. Por isso, o homem estava fazendo de tudo para entender o quão forte minha individualidade era e como controlá-la, aproveitando-se de métodos dolorosos para alcançar seu objetivo e causando diversos machucados espalhados por todo o meu corpo. 

— Se você não sair logo, a punição se tornará mais severa... E você sabe que eu odeio quando você me obriga a fazer isso. 

Sentindo lágrimas quentes escorrendo por minha bochecha, saio debaixo do móvel onde estava escondida e sinto o aperto da mão de meu pai puxando-me em direção ao porão fétido que cheirava à mofo. Ele prende parte das correntes nos meus tornozelos e a outra parte na parede manchada que havia ali, como sempre fazia. 

— Sabe porque eu faço isso, minha filha? — A voz dele era grave, do jeito que ela ficava quando ele estava se distanciando da sanidade e se perdendo em sua própria mente. Meu corpo todo tremia em terror, e não conseguia fazer com que meu cérebro formulasse uma resposta, e nem que minha voz saísse. Como punição por meu silêncio, um tapa atinge minha bochecha direita, fazendo com que eu perdesse o equilíbrio e sentisse o impacto dos meus joelhos no chão. — Me responda quando eu falo com você, menina. 

— Não sei, papai. — Minha voz estava trêmula e fraca. 

— Faço porque tenho grandes planos para você, Hope. Precisamos saber o quão forte você pode se tornar, e ao que tudo indica suas habilidades só respondem a dor já que você é muito nova para ser treinada devidamente. Então por isso... É necessário que eu faça isso, para te ensinar. Faço porque te amo, e porque só assim você poderá alcançar seu potencial máximo. 

Ele me levanta, e agora prende as correntes nos meus braços, fazendo com que eu estivesse estirada em frente à parede. O homem passa a retirar diversas armas de uma maleta que aos olhos de um desavisado pareceria aquelas em que se carregam ferramentas para concerto, e escolhe três facas de tamanhos diferentes. 

Outra cena surge, impedindo que eu presenciasse o que eu já sabia que ia acontecer. Agora eu tinha quatorze anos e segurava um folheto sobre a UA — a escola que, de acordo com minha tia, minha mãe havia frequentado antes de se tornar uma profissional — para que meu pai e minha tia vissem. 

— Todos na minha turma estavam falando sobre essa escola... Disseram que é o melhor lugar para que pessoas que possuem quirks sejam treinadas para usá-las no futuro! 

Minhas mãos tremiam levemente, por mais que eu estivesse me esforçando ao máximo para me manter o mais neutra possível. O que eu estava pedindo era algo que provavelmente irritaria meu pai, mas era algo que eu não conseguiria abrir mão. Olho para minha tia, procurando algum tipo de apoio, mas seu rosto estava completamente livre de emoções.

— Essa escola é para aspirantes à heróis... Não tem nada haver com você, minha filha. — Ele se interrompe, como se estivesse percebendo algo pela primeira vez que o deixava enojado e furioso. — Você quer se tornar uma heroína, garota? 

Seu tom era estranho, e me fez encolher. Começo a negar com a cabeça desesperadamente. 

— Não, n-não é isso. Por favor, não é isso. E-eu só... Eu só... — Respiro fundo, procurando coragem para continuar falando. Sinto uma fagulha frágil queimando no meu peito, e continuo falando.— Eu só quero ter algo em comum com a mamãe. 

Um silêncio pesado se instala no cômodo, me sufocando aos poucos conforme o peso do olhar do homem me faz sentir como se eu fosse cair no chão a qualquer momento por causa dos tremores que se espalhavam por todo o meu corpo. A voz calma e infetada de minha tia quebra o desconforto. 

— Matthias, pense. Tenho certeza de que isso pode lhe ser útil de alguma forma, além de ser uma excelente oportunidade para Hope desenvolver melhor suas próprias habilidades. Fora isso, Mai ficaria feliz em saber que a filha seguiu seus passos indo para sua tão amada escola... 

Minha mãe era um assunto extremamente delicado na nossa casa. Meu pai não gostava quando eu mencionava-a, mas minha tia sempre o fazia, o que mexia muito com ele e com suas decisões. Ela me contava histórias sobre uma heroína bondosa, simpática e otimista que fazia o possível e o impossível para ajudar à todos, e como tal heroína se apaixonou por um estrangeiro com um passado misterioso e um enorme desejo de descrição. As histórias que eu escutava eram a pequena felicidade que eu conseguia ter quando ia para casa, e o sonho de um dia poder me tornar algo próximo à mulher que minha mãe fora era o suficiente para me manter sã. 

— Eu faço qualquer coisa. — Me ajoelho e encosto minha testa no chão, implorando. — Qualquer coisa que o senhor quiser. 

— Qualquer coisa, hein? Bom, acho que existem vantagens em ter alguém no meio dos heróis, repassando informações valiosas e servindo como meus olhos e ouvidos lá dentro... — Ele puxa meu pescoço para cima, obrigando-me a encará-lo, e então coloca a mão sob meu queixo, com um sorriso venenoso. — Sim, principalmente se esse alguém puder parecer inocente o bastante para não levantar suspeitas. Você, Hope, será minha espiã.

Era o preço para seguir meu sonho, um até baixo se comparado com o que eu esperava receber. O suficiente para mim, um que eu não me importaria de cumprir... Ou, pelo menos eu achava que não. 

Então entrei na UA, na mesma turma que Deku e Bakugou e todos os meus outros amigos e na turma que Aizawa ensinava. Foi quando o rumo da minha vida mudou por completo, onde conheci minha salvação e onde encontrei a verdadeira felicidade. Testemunho flashes de todos esses anos, de tudo o que eu vivi sozinha e ao lado da família que eu encontrei fora das garras do meu pai, e me vejo mergulhando cada vez mais em lembranças diferentes, revivendo escolhas que me arrependia e escolhas que eu faria de novo e de novo. 

No final, conforme as lembranças pareciam me comer por inteiro, se tornava cada vez mais difícil para respirar. Eu já havia perdido a noção do que estava acontecendo ao meu redor, mas agora eu me sentia deslizando mais e mais para a escuridão. 

Lover of Mine - Hawks x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora