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 Parada em frente ao banco, Murphy observa o sol nascer lentamente atrás dos edifícios que habitam o horizonte, o som dos pássaros se misturavam com os barulhos terríveis dos necróticos, o cheiro de mato que cresce sobre o asfalto velho se perdia no fedor dos necróticos, sentia olhares vindo de dentro das lojas mas não era de animais, era de necróticos, as vezes Murphy só queria esquecer que eles estavam ali, esperando alguém vacilar para enfim atacar. Eles haviam passado a noite dentro daquele banco, além de seguro era tudo que eles tinham, dormindo sobre o chão duro e usando as bolsas como travesseiros, digamos que aquela era uma péssima noite, mas não era nem de longe a pior noite da vida de Murphy.

 Com os raios solares em seu rosto, a garota sentia o calor confortável de uma manhã fria em meio aos pequenos tremores de terra, aquilo a fazia lembrar de quando era pequena, ela acordava assustada chamando pelo seu pai, via ele se aproximando pela escuridão passando a mão sobre seus cabelos e sussurrando letras de uma música antiga - ele adorava aquela música. Elijah se aproxima empurrando sem querer a irmã, ele estava correndo de Aiden, os dois sempre brincavam de manhã, EJ pula em cima do Modificador o derrubando no chão.

 — Tomem cuidado. — diz a irmã. — Não quero que os dois se machuquem. — Ele faz uma careta e se vira, ainda em cima de Aiden.

Com o fim da brincadeira, o lobo se aproxima da garota parando ao seu lado, ele funga e lambe várias vezes o seu rosto, como se estivesse dando "bom-dia" a Murphy, "Acho que Elijah não foi o único que teve uma boa noite de sono" pensou a garota. Seus pelos brancos exalavam um leve cheiro de grama, Murphy não entendia por que muitos temiam o Aiden, ele era diferente dos outros Modificadores, não era perigoso mas é difícil dos outros entenderem. Por fim o lobo se afasta novamente em direção a EJ, prontos para partir, Murphy sente uma leve mão em seu ombro, se virando percebe se tratar de Lou.

— Ei, garota. Vocês já estão indo ? — Ela para ao seu lado, Lou foi uma das primeiras a acordar, desde cedo programando a rota mais segura para o grupo. Por isso Murphy não se assusta com a alegria dela logo de manhã.

— Sim, temos uma longa caminhada até a próxima cidade e o EJ não é tão rápido. — responde a garota. 

— Ainda há tempo de mudar de ideia, vamos voltar amanhã para Malcolm, tem certeza que não querem vir? — ela pergunta mais uma vez.

— Tenho... quando a Ellie acordar diga que eu peço desculpas pelo tiro, EJ não fez por querer.

— Eu sei disso, e eles também sabem. — Ela se vira para trás se referindo aos outros do grupo que estão ocupados demais em arrumar as coisas para partir.

Com alguns segundos em silêncio e o sol terminando de nascer é possível visualizar as cinco entidades imóveis no céu. Não importa em qual cidade ou estado você esteja, você sempre verá elas.

— Sempre sinto um arrepio toda vez que os vejo. — sussurra Lou. — Eles são assustadores, não acha?

— Já me acostumei, querendo ou não, eles sempre estarão ali. Não tem muito o que fazer.

— Você tem razão. Bom, não quero atrasar vocês. — Lou tira rapidamente um walk-talk de sua bolsa e entrega a Murphy. — Se precisar de algo, nos avise... é só chamar, ficaremos atentos para qualquer contato.

— Muito obrigada. — Murphy aceita o objeto como se fosse um presente, mesmo ela tendo a certeza que não entrará em contato com eles. Faz semanas que EJ havia quebrado o que ela usava, ela precisava mesmo de um.

 Prontos para partir, os irmãos se despedem pela última vez do grupo, caminhando novamente para mais um dia de sobrevivência em meio a merda.

A lei de Murphy - O labirinto do arquitetoOnde histórias criam vida. Descubra agora