Virando rapidamente, Murphy pega a faca em sua cintura golpeando duas vezes o que estava em pé - um golpe na perna e outro na barriga - levantando rapidamente e o empurrando contra o chão. Prestes a dar outro golpe, o homem segura fortemente sua mão, mas sem hesitar, a garota deposita vários socos com a outra. Murphy sentia o sangue do homem espirrar em seu rosto, cobrindo seus olhos com o líquido viscoso. Ela não sentia nojo, muito menos repulsa, tantas coisas que já comeu ou bebeu fazia com que isso não chegasse nem aos pés.
— Onde está meu irmão? Seus filhotes de Berrugos! — gritou furiosa sem parar de esmurrá-lo. Querendo ou não, em meio aquela confusão, Murphy ainda teve tempo de pensar o quanto aquela frase saiu engraçada. Isso te fez lembrar de EJ, toda vez o pequeno acha que sapos são Berrugos filhotes, e a graça vem daí, não existem filhotes de Berrugos.
Com a fúria tomando conta da garota, nada lhe resta a não ser mostrá-los a sua verdadeira forma; Murphy para de socar o rosto do homem erguendo a mão a alguns centímetros do seu, sem menos esperar duas lâminas de metal expelem entre os dedos de sua mão. Eram garras. Duas enormes garras lutando por espaço entre os dedos. Garras no qual ela mesma chamava de "plano B".
O homem com o olhar assustado solta a faca que tem em mãos, receio que em toda a sua vida ele nunca tinha visto algo assim antes. Sem mais delongas, Murphy finaliza a batalha dando apenas um único golpe em seu rosto, fazendo com que em minutos já não houvesse vida em sua frente.
O outro homem que continuava no chão olhando para Murphy muda o semblante para algo sério e assustado. Para ele, era incompreensível saber exatamente o que Murphy era, como uma garota de dezesseis anos poderia ter garras e matar tão facilmente um homem com mais de noventa quilos? Talvez ela seria o próprio diabo?
— Onde está o meu irmão, Caralho! — a essa altura, Murphy já não ligava se fala ou não palavrões, seu ódio já estava à flor da pele. Guardando as garras, ela limpa com a blusa o sangue que escorria em seu rosto, caminhando lentamente na direção do velho que a olha incrédulo, ele visualiza suas mãos ensanguentadas sem entender o que acabará de ver.
— O'Que você é? — ele força a voz para perguntar. — Um demônio? Uma entidade? — Murphy solta uma pequena risada internamente, eram tantos adjetivos que nem ela mesmo sabia ao certo qual usar. Isso a faz balançar a cabeça em negação, parando a alguns metros do homem, a garota escuta chamar seu nome. A voz vinha de trás de algumas estantes caídas.
— Murphy! — escutou novamente a pequena voz ecoando por toda a biblioteca, então se virou até as prateleiras podendo ver um vulto saindo de trás delas. Suspirou aliviada ao ver que se tratava do pequeno Elijah, sem pensar duas vezes o menino corre ao encontro de Murphy, ela ergue os braços esperando ele se aproximar. Seu rosto assustado continha uma grande quantidade de sangue, parecendo que ele havia mergulhado em um balde de tinta vermelha, a menina o embrulha em seus braços tocando seus cabelos.
— Elijah, você está bem? Fiquei tão preocupada. — Aliviada, Murphy solta um grande suspiro, seu coração batia forte, parecia que eles não se viram a anos. Quase uma eternidade. Quase.
Ela se afasta um pouco para poder ver melhor seu rosto assim podendo também examiná-lo à procura de arranhões, mordidas ou algo do tipo, procurando qualquer coisa que alertasse Murphy do pior. Mas não encontrou nada.
— Você demorou, Murphy... — o velho ainda ali começa a se rastejar em direção a saída, mas logo parou ao perceber um lobo parado na porta, vendo que não há saída a não ser a morte, o homem parece ter aceitado o seu destino.
Aiden caminha até ele, dando uma longa fungada no velho; há bastante sangue em seus pelos, sangue o suficiente para fazer Murphy questionar se são dele ou não.
— Eu não tenho escolha, há não ser morrer em suas mãos. — o raquítico homem se vira, ficando deitado de costas para o chão, seus cabelos já começam a cair e sua pele fica seca como o barro em dias quentes. — Assim serei digno da praia, mas me fale... o que você é ? — a sua voz já não sai forte como antes, fazendo Murphy perceber que ele está quase tomado pela necrose, seus olhos e ouvidos sangram excessivamente e sua respiração falha aos poucos.
— Eu... eu não sei ao certo, e não irei te matar, não sujarei as minhas mão com o seu sangue, mas ele vai. — Murphy apontou para Aiden que está apenas a alguns metros do homem. O velho fecha os olhos aceitando o destino de sua morte, sussurrando suas últimas palavras.
— Eu não morrerei como eles. — o lobo então dá apenas um golpe quebrando seu pescoço, EJ agarrado na perna de Murphy vira o rosto para outra direção. "Eles?", questionou Murphy. "Que raios são eles?", "Será que ele se referiu aos que morreram aqui?", essas são perguntas que a garota jamais saberá a respostas. E isso particularmente a irrita, nunca saber de nada é um saco.
— Vamos, antes que esse lugar vire uma imensa cratera. — as crateras são resultados de uma necrose-temporal, isso sempre ocorre quando há um corpo interrompido no lugar, ou seja, quando um ser infectado não vira necro-morto. Havia um jeito de interromper as crateras, o jeito era queimar os corpos o quanto antes, e isso Murphy não iria fazer, no momento sua prioridade era a proteção de EJ e roupas novas, enquanto isso não acontecia, Murphy repetia a mesma frase que repetiu para seu pai. "Eu prometo proteger o meu irmão. Eu prometo proteger Elijah."
"Eu prometo".
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A lei de Murphy - O labirinto do arquiteto
Ciencia FicciónEm um mundo devastado pela melancolia, onde o suspiro e o pensamento humano tornaram-se frios e a vagante carcaça se camufla em meio a neve, escutamos os gritos melódicos das almas sobre o olhar possessivo da lua, a sobrevivência se tornou um dos pr...