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  Após meia hora de caminhada na beira da estrada, Murphy observa com o canto dos olhos o cansaço de EJ, que ofega a cada passo dado, voltando a atenção a Aiden que caminha na frente, apenas parando para investigar os arbustos ou os esquilos que sobem e descem as árvores.

— Estamos quase chegando na próxima cidade, acha que aguenta andar mais um pouco? — perguntou ao pequeno.

— Não, não sinto mais minhas pernas e estou faminto. Por que você não me carrega como antes? ou o Aiden? — Ele aponta para o canino que se afasta rapidamente.

— Porque antes você era um bebê, agora já está bem grandinho para isso, não consigo mais te carregar e o Aiden precisa estar livre para nos proteger.

— Não acho justo. — EJ resmunga baixinho, mas isso não impede a irmã de escutar, fazendo um leve sorriso brincar em seus lábios. Andando mais alguns minutos é possível visualizar uma estrutura gigantesca escondida atrás de árvores enormes, sem esconder a curiosidade os irmão se aproximam mais um pouco, até perceber se tratar de um "shopping", no caminho Murphy havia vistos diversas placas que anunciava a proximidade com o edifício, mas a garota não deu muita atenção pois umas das regras é nunca entrar em um shopping.

— Não vamos entrar aí, vamos? — EJ pergunta puxando a blusa da irmã.

— Não sei ao certo, está escurecendo rápido... você sabe que não gosto de andar no escuro. — Murphy passa a mão sobre o cabelo. — Ainda faltam mais algumas horas para chegarmos na cidade, e até conseguirmos encontrar um lugar seguro vai demorar um tempão. O que acha? — Ela pergunta ao irmão que se assusta com um grito horripilante que vem da floresta.

— Bom, se ficarmos quietinhos, acho que podemos entrar. — Elijah demonstra um pouco de medo junto com curiosidade, ele nunca entrou em um shopping até agora, Murphy sempre contava histórias assustadoras sobre estes lugares, mas isso não o impede de ficar curioso.

 Adentraram o local cuidadosamente para não pisar em ossadas que continha sobre o chão, as janelas e portas de vidros que tapava toda a frente do lugar estavam no chão como se rendesse a destruição depois de anos em pé, as enormes paredes de cimentos lutam contra as diversas rachaduras que surgem a cada dia, certamente é o resultados dos colapsos de terras e hordas que buscam um lugar escuro e úmido para construir seus ninhos. Conforme eles seguiam adentrando o silencioso edifício ficavam cada vez mais difícil enxergar algo, deixando para trás a luz solar que aos poucos se perdia atrás das árvores, pegando sua lanterna, Murphy iluminava seu caminho podendo observar diversas roupas jogadas no chão, ela abaixou pegando uma pequena blusa branca com pequenas borboletas rosas, sem dúvidas aquilo pertencia a alguma criança pois ainda era visível o sangue velho e seco. Aquele lugar continha histórias, diversas histórias e muitas delas eram ruins ou não terminavam bem, "Espero que não seja o nosso caso" pensou Murphy. Após alguns minutos tentando achar uma loja que não foi aberta até o momento, os irmãos adentram uma parcialmente segura, que dá para passar a noite. Enquanto EJ vasculha o ambiente para poder procurar sapatos novos, Murphy fecha a porta da loja para não ter risco de nem um necro-morto entrar, o lobo cansado se acomoda no chão, enquanto a garota faz o mesmo, ela percebe algo escrito com sangue na parede:

 "A morte vai fazer de mim um homem livre."

— O que está escrito? — pergunta Elijah chamando a atenção de Murphy. O garoto para em sua frente com os novos sapatos em suas mãos, sentando perto da irmã.

— É só uma frase idiota, não se preocupe. — Ela abre sua bolsa pegando as duas latas de feijão que havia achado naquele restaurante do dia anterior, dando uma para EJ e abrindo a outra, Aiden que está cansado só pensa em dormir, no caminho para cá ele havia achado uma árvore cheia de esquilos, o que resultou em um pequeno e satisfatório banquete para o lobo.

 O pequeno EJ faminto devora em segundos a sua refeição, virando os grandes olhos castanhos para Murphy.

— Ainda estou com fome. — fazendo pequenos movimentos de círculos em sua barriga, voltando o olhar para a sua lata vazia.

— Está bem, pode ficar com a minha comida... não estou com fome mesmo. — Ele sorri e logo pega a lata da mão de Murphy. Claro que ela está mentindo, mas é melhor ela ficar com fome do que o seu irmão de cinco anos. — Devagar, se não a comida não faz efeito.

Terminando de comer, EJ se acomoda perto da garota, tirando o livro infantil que tinha achado de sua pequena bolsa, Aiden levanta voltando a se acomodar atrás deles, fazendo que praticamente usasse ele como travesseiro.

— Lê para mim? — pergunta EJ com o livro em mãos.

— Claro, deixe-me ver. — abrindo o livro a garota percebe que há páginas faltando, mas isso não incomoda EJ, ele só quer escutar a história perto da irmã.

— ... Poderia pousar na tocha da estátua da liberdade mas... — conforme vai narrando ela aproxima o livro do irmão para que ele possa ver as imagens. — ... e se você movesse a língua como um camaleão? Poderia pegar a comida do prato sem usar as mãos, mas o que sua mãe diria? Se erguesse o pescoço como uma girafa, você teria que esticar os braços BEM no alto, para coçar a cabeça...

— O que é um camaleão? — pergunta EJ curioso.

— Um camaleão é... bom, um camaleão é um tipo de lagarto que muda de cor quando quiser. — Seu rosto curioso muda para uma expressão de surpresa.

— Uau. — ele sussurra. — E eles ainda existem?

— Eu não sei, na verdade nunca vi um. — ele volta o olhar sobre o livro, podendo ver um desenho do lagarto.

— Eles são assim ?

— Eu acho que sim. — Murphy responde.

— Um dia eu vou ter um camaleão e o nome dele vai ser... ahm... Carl. — disse ele.

— Ahm, Carl. É um nome bonito. — ele solta um pequeno sorriso.

 A garota volta a ler para EJ se perdendo no fantástico mundo do livro e nas perguntas sem respostas do irmão, a fazendo esquecer de tudo que á do lado de fora, como se nada de ruim estivesse acontecendo, como se ela se sentisse segura perto de EJ igual a EJ se sente seguro perto dela, assim esquecendo o frio e o medo, podendo os dois pegar no sono sem perceber.

A lei de Murphy - O labirinto do arquitetoOnde histórias criam vida. Descubra agora