capítulo 4

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Jin Ling não era alguém acostumado a demonstrar abertamente seus medos ou sentimentos. Não notara que geralmente fingia não sentir até ter uns quatorze anos e ouvir aquele canalha que tentara estrupa-lo fazendo piadas de mau gosto sobre o futuro líder do clã.

Depois daquilo, percebeu que o pouco que demostrava já era facilmente voltado contra si, então passara a se forçar a não sentir, como se não ligasse para nada. No começo fora fácil, era só ignorar algumas coisas e fingir que não escutava outras mas, conforme o tempo passava, e todos os sentimentos que se esforçava para não existirem ainda estarem ali ele notou que não conseguia mais demostrar para os outros, era fácil sempre estar irritado mas, todos os outros sentimentos estavam trancados tão profundamente dentro de si que só alguém muito persistente iria descobri-los.

Isso é, se alguém no mundo tivesse persistência o suficiente para não desistir nos piores momentos, o que julgara impossível. Tendo isso em mente, a imagem que viu ao abrir os olhos não poderia ser mais do que uma ilusão criada pelo seu subconsciente para minimizar os danos psicológicos de acordar sozinho no meio da estrada ou em um quarto abandonado do clã Jin.

Lá estava seu tio com uma expressão nunca vista antes, como se ele abrir os olhos fosse a coisa mais maravilhosa que pudesse acontecer, como se fosse um milagre, um alívio tão grande, quase como se Jin Ling fosse a coisa mais importante do universo para si, e talvez fosse, talvez em algum momento no meio de sua própria dor esqueceu de como seu tio o ama mais do que qualquer outra coisa, como sacrificaria deu clã, o mundo, tudo e todos pelo seu bem mesmo que não demonstrasse isso com palavras.

Ao seu lado, completamente inconciente e ensanguentado estava Lan Sizhui desbruçado sobre sua Guqin. A visão foi estranhamente emocionante, muitas vezes pensara que ele só lhe recebia com um sorriso e uma gentileza forçada, afinal, o Lan nunca reclamou sobre sua boca suja, sua impulsividade ou qualquer um dos seus defeitos, e em seu rosto sempre se abria Um sorriso ao lhe ver, seu lado egoísta gritava desesperadamente que aquilo era um sinal que o outro gostava realmente de si, mesmo que não fosse na mesma proporção que o Jin lhe amava. Entretanto, suas inseguranças eram mais poderosas, insistiam em plantar paranóias de que ele só estava se aproximando para parecer misericordioso ou algo assim, só o aguentava por sua posição, mas não faria sentido, o outro não era assim, ele sempre se preocupava e o ajudava, e era tão verdadeiro, não podia ser uma farsa.

Mas ele estava ali junto com seu tio e, eles pareciam tão acabados e preocupados, totalmente ensanguentados a céu aberto, mesmo que não fizesse muito sentido, por qual motivo estariam naquele lugar? E porque estava com aquele cheiro pútrido? Se tivesse forças teria reclamado, mas estava feliz demais para isso, aliviado demais por ter pessoas que o amavam o suficiente para arriscar suas vidas por ele, Jin ling estava tão contente que começou a chorar fazendo esforço para se sentar e abraçar seu tio, aquela pessoa com quem estava sempre brigando, mas que nunca desistiria de si, nem uma única vez.

𝙰𝚙𝚎𝚗𝚊𝚜 𝚙𝚘𝚛 𝚟𝚘𝚌𝚎Onde histórias criam vida. Descubra agora