Capitulo 5

287 42 5
                                    


     Quando Jin Ling era criança, ouvira certa vez uma história de um Príncipe primaveril que controlava a primavera e o verão (algo que ele nunca entendeu, primaveril já não se referia a primavera?) que não conseguia produzir flores, só um calor abismal que impedia qualquer coisa de crescer, o príncipe do inverno, ao saber que seu oposto era incapaz de criar aquelas belas e magníficas obras naturais, saiu de seus domínios para ajudá-lo, mesmo que isso o matasse, na época, o pequeno Jin achou magnífico e perturbador na mesma medida. Ao sair de seu território o príncipe invernal, antes imortal, perdeu sua imortalidade e ficou frágil a morte, isso era ridículo, potencialmente jogar sua vida fora por alguém que nem lhe conhece, alguém que nem você conhece, mas o amor que ele sentia por aquela estação quente e alegre (e pela pessoa que a criava) foi maior do que o medo de morrer, mesmo que ele nunca pudesse viver em tal lugar, a simples vontade de ajudar o outro príncipe mesmo se colocando em risco, era um ato de amor incrível, um ato que ninguém faria com Jin Ling, ou era isso que ele pensava.


    Esse com certeza não foi o seu primeiro pensamento ao abrir os olhos, nem o segundo, ou o terceiro, esses foram reservados para como fora um idiota por não notar todo o amor que recebia de seu tio e sonhar com todo amor que queria receber de Lan Sizhui, embora fosse apenas um sonho lúcido.


     Mas depois de alguns desmaios e uma viagem para uma cidade próxima, Jin Ling não conseguia parar de pensar nisso, de repente aquela história se tornara tão, mas tão compreensível que se tornou assustador.


     Se tornou assustador perceber que faria o mesmo por Lan Sizhui, perceber que fez o mesmo, quando finalmente se lembrou do conto, acabou percebendo que aquela era uma estupidez que todos realizaram pelo menos uma vez na vida, sacrificar sua segurança pelo bem de uma pessoa amada.


     Estava quase se perdendo em pensamentos novamente quando a porta de seu quarto foi aberta de supetão, a reclamação vulgar morreu na garganta ao notar quem estava ali.


     — A-Ling! — suas roupas ainda estavam sujas de sangue, seu cabelo ainda estava anormalmente bagunçado, sua respiração estava desregulada, suas roupas amarrotadas, sua fita na testa torta, ele ainda estava perfeito.


     Jin Ling ainda não havia se recuperado do choque de ver a segunda pessoa que mais ama (e que deveria estar descansando) parada em sua frente, totalmente bagunçado e maravilhoso.


     — Eu sinto muito, eu realmente sinto muito, a culpa é toda minha — as palavras foram ditas em meio a soluços melancólicos, seus braços circularam o Jin ainda perplexo — se eu não tivesse perdido o controle nada disso teria acontecido, mas... eu não consegui aguentar, ele estava te machucando, aquela desculpa de ser humano estava... — sua voz morreu enquanto uma aura assassina dominava o local, era estranhamente reconfortante saber que era por si, e não para si.


     — Como- como você sabia que era eu? — Jin Ling sabia que tinha coisas mais importantes para perguntar, mas esta pergunta estava rondando sua mente dês de que recobrara seu lado racional. — eu mesmo mal me reconheci...


     — Bem... eu lhe reconheceria de qualquer forma, reconheceria o som de seus passos estando surdo, reconheceria sua sombra estando cego, reconheceria seu cheiro mesmo num campo de batalha — suas bochechas estavam apenas parcialmente coradas, o discípulo sempre perfeito da seita Lan parecia imune as próprias palavras —é um pouco clichê falar isso, mas... não consigo não notar você, não consigo não pensar em você, a pergunta não deveria ser como lhe reconheci, mas por que demorei tanto para fazê-lo.


     Felizmente não precisara dar uma resposta após a fala de Sizhui, temia o papel de idiota que faria, sua voz com certeza teria falhado e se suas pernas conseguissem aguentar seu peso por mais cinco minutos ultrapassaria qualquer esperança que tinha.


     Uma dezena de discípulos de Gusu Lan entraram em seu quarto em um mar de branco, quebrando pelo menos uma dúzia das milhares de regras existentes em sua seita. Todos preocupados com a estrela de sua seita, Jin Ling ficou aliviado por ser deixado de lado, por não precisar dar uma resposta, por ninguém nota-lo ali, infelizmente, a dose de alivio e de magoa foram semelhantes, quer dizer, não é que ele quisesse a atenção, mas aquele era seu quarto, estavam na pousada que sua seita estava pagando, ele tinha sido possuído, ele que quase morrera, e, mesmo assim, ninguém além de seu tio se dignou a perguntar de seu bem estar.


     Jin Ling inclinou a cabeça enquanto engolia a melancolia que assolou seu coração, comtemplou mais uma vez todas aquelas pessoas felizes e preocupada que não lhe notaram em seu próprio quarto e suspirou decidido a esquecer tudo aquilo de vez.


     Saiu o mais silenciosamente possível dali, não notando o olhar apreensivo que recebera de Lan Sizhui.




Notas: eu espero realmente que tenham gostado, eu só atualizei pq prometi que atualizaria, mas achei que ficou meio pequeno, o que acharam?

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 27, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

𝙰𝚙𝚎𝚗𝚊𝚜 𝚙𝚘𝚛 𝚟𝚘𝚌𝚎Onde histórias criam vida. Descubra agora