Mudanças

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Will :

Eu nunca planejei meu futuro.
Eu nunca parei, e sonhei com o que eu queria além do que eu já tinha com Gus.
Meu sonho mais feliz, sempre foi ver nossos cabelos ficarem brancos a medida que o tempo passava por nós dois.

Mas alguma coisa mudou em mim.
A medida que a família de Gus ao meu redor se acostuma com nosso relacionamento, o sorriso dele aumenta.
Os olhos dele brilham um pouquinho mais cada vez que alguém passa e se apresenta pra mim. Estão curiosos, claro, mas não parece haver muito mais do que isso.

Gus feliz é quase um ímã pra mim. Eu me atraio para a forma como as bochechas dele ficam redondas com o sorriso, para os olhos dele exibindo a mais pura sensação de alegria.

Enquanto ele dança com a irmã, eu me esforço pra desviar os olhos, cada centímetro dele parece brilhar, e eu passaria o resto da noite, não, o resto da minha vida vendo ele sorrir desse jeito.

Somos felizes, eu sei que somos.

Mas hoje, eu percebo que podemos mais, podemos muito mais.
Eu deixei todo o peso do medo pra trás.
Hoje eu não sou um lobo solitário.
Não sou um homem desempregado.
Não sou a única salvação da minha matilha.
Não sou o filho de alguém.

Hoje eu sou Will, o marido do Gus.

E toda vez que ele diz isso, com a voz carregada de orgulho, meu peito vibra mais um pouquinho. Fazendo com que uma idéia tome forma dentro da minha cabeça.

Quando ele começa a dançar com a mãe dele, desvio os olhos, com certa relutância.

- Pode continuar olhando.

O avô de Gus diz, com um copo na mão que não vi vazio em momento algum.

- Ah.

Não sei o que dizer.
Não sei mesmo jogar conversa fora.

Ele me olha de um jeito intimidador, buscando alguma coisa na minha expressão.

- Achei mesmo que ele tinha encontrado algo interessante no meio do mato, pra não voltar pra casa.

Meus lábios se levantam por conta própria.

- Ele não gosta muito, na verdade, do mato em si. Sempre reclama do frio.

- Sério ?

- Sim.

- Sabe que Gus não faz nada que não queira né ?

- Sim, eu sei.

- Então, você tem muita, muita sorte garoto. Ele não ficaria por lá se não quisesse.

Dessa vez eu abri mais o sorriso.

- Obrigado, eu tenho sim.

Quase sem querer eu volto meu olhar pro Gus, terminando a dança com a mãe.

- Vocês pretendem voltar pra lá ? - O avô dela pergunta.

- Não, não temos certeza ainda.

- Entendo. Espero que fiquem, Gus fez uma ótima escolha.

Observo ele, o homem na minha frente de repente perde o brilho dos olhos por alguns segundos. Quase perdi o momento de tão fugaz. Ele engole o conteúdo do copo tão rápido quanto água.
Um garçom quase que instantaneamente coloca outro copo na mão dele.
Quando os olhos dele se voltam pra mim, eu escuto o coração dele falhar.
Não sei porque, mas quando ele olha pra mim, tenho a impressão que lembra de alguém.

- Obrigado. - Eu agradeço com sinceridade.

- Pare de agradecer ! Mas que caralhos !

Eu ri.
Eu ri de verdade.
E ele me acompanhou.

A MONTANHA - PARTE IIOnde histórias criam vida. Descubra agora