A MONTANHA - PARTE II

Angústia

Will

Eu fui direto pra cabana, meu corpo ardendo. Cada músculo parecia estar sendo torcido e retorcido.
Assim que soltei Gus depois do abraço meu corpo começou a ficar diferente. No começo foi só um incômodo, então meu corpo parecia em chamas.

Eu não sabia o que era, ia chamar o Gus pra ajudar, mas eu era um lobo muito antes de conseguir pronunciar qualquer palavra.

Eu me transformei sem querer.
Acreditem, isso não acontecia desde a minha adolescência.

Eu não queria assustar Gus, mas eu estava muito assustado.

Tudo parecia diferente, a transformação foi dolorosa.
Meus olhos de lobo pareciam menos focados.
Era como se eu tivesse dobrado de peso, me senti cambalear.

Me lembrei da última vez que senti dor, passou depois de uma noite de sono. Então joguei minhas roupas debaixo da cama com a boca e me concentrei em chegar no lugar onde eu poderia ser um lobo, sentir dor e dormir sem medo.

Quando cheguei, simplesmente me joguei na cama, como lobo mesmo.
Tentei me tornar um homem, mas não consegui.
E isso me assustou ainda mais.

Que diabos faz um lobo não conseguir voltar a forma humana ??

Ah sim, a dor. A dor me faz permanecer lobo ou homem.

Aquela estranha dor começou me consumir, se alastrou e se alojou no meu abdômen me fazendo curvar.

Eu tentava respirar fundo e não conseguia. Minha garganta estava travada.
As minhas patas ficaram dormentes.
Meu olhos perderam o foco.

Abri uma das gavetas perto de mim usando as unhas e encontrei um potinho de remédios qualquer.
Eu caí da cama no processo.
Eu abri o potinho com a boca e lambi uns quatro até conseguir engolir.
Só consegui voltar pra cama.
Apaguei.

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Eu estava acordado.
Estava quente, estou suando, mas deve ser o cobertor grosso em cima de mim.
E eu estava na forma humana.
Me levantei.
Meus músculos pareciam normais. Tudo estava onde deveria estar.
Minha cabeça estava dolorida, mas fazia sentido.

Fui até o banheiro e joguei uma água na cara, olhei no espelho e refletia o que eu sentia.
Um lixo.
Eu estava péssimo.

Minha barriga roncou, nem lembro a última vez que eu comi.

Tentei me tornar um lobo, para correr até a clínica e não consegui.
Meu corpo se recusava a se transformar.

Droga.

Peguei algumas roupas velhas e comecei a caminhada de cinco horas.

O sol se punha quando cheguei em casa.
Abri a porta, me preparando para o que dizer ao Gus.
Eu não queria preocupar ele.
Eu já estava bem.

Eu sabia que tinha algo errado, mas demorei a perceber. Enquanto percorria os corredores, eu olhei dentro de uma das salas. Estava vazia.
A seguinte também.
Voltei até a sala, as coisas pessoais não estavam ali.

Meu estômago faminto se contorceu.

Eu cheguei até o quarto, e abri a porta devagar.

Gus estava sentado na cama, apoiando a cabeça na cabeceira.
Ele levantou os olhos quando eu abri a porta, mas não se moveu.

Meu coração disparou.
Tem algo errado, muito errado.

Os olhos dele, geralmente quentes e brilhantes, estão bem opacos.
Os rosto dele esta inchados.
Ele estava chorando.

Ele desviou os olhos.

- oi. - Eu disse.

Ele continuou em silêncio.
Eu olhei melhor a minha volta, as paredes vazias. Não tinha chinelos ou sapatos jogados pelo chão, o despertador não estava na mesinha ao lado da cama.

A suspeita se confirmava, mas eu precisava ouvir dele.

Forcei as palavras a saírem pela minha garganta. E elas saíram falhadas, palavras doloridas demais para se pronunciar.

- Você está me deixando ?

Ele não me olhou.

- Eu fui na escola... - A voz dele soou rouca.

- Ah...

- Liguei pra sua mãe também.

Meu coração pesou.
Ele continuou.

- Você não ia me contar nada ?

- Eu.. Eu.. Espera, você ... você foi na escola num domingo ?

Ele voltou os olhos com raiva pra mim.

- Hoje é quinta Will.

ah.
merda.
merda.
Quantos dias eu dormi ????

- Eu posso explicar Gus, eu posso...

- Não precisa.

- Eu estava na caban...

- Eu sei Will, eu fui lá.

Ah sim, o cobertor.

- Gus eu sei que as coisas estão... estão .... Eu posso tentar...

Ele se levantou.
Chegou perto.

- Eu te amo Will. E faria qualquer coisa por nós, qualquer coisa. Eu não sei o que está acontecendo com você. Eu não sei mais nada sobre nós... Mas eu também me amo. E eu não posso ficar esperando você voltar assim. Não dá. - Lágrimas começaram a riscar o rosto dele. - Então... Faz o que você precisa fazer... Seja quem você precisa ser. Eu vou continuar te amando..  E... e quando você for essa pessoa... você me encontra.

Ele aproximou nossos lábios e me deu o beijo mais leve.

Eu me recusava a acreditar. Não conseguia me mover, não consegui respirar.

Ele pegou uma mochila do chão, me deu um sorriso forçado por baixo das lágrimas.

E saiu.

Sim, postei chorando.
Me contem o que estão achando ?? Quais suas teorias para nosso casal ? ❤️