Capítulo 16

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O sol estava no alto do céu e o calor começava a ficar insuportável. O exército estava marchando sem pausa havia algo em torno de cinco horas. Revgar sentia o suor escorrendo pela testa e por todo lugar por baixo de sua roupa.

O Arcano de Rhyfel era só mais um a olhar na direção de Paven de tempos em tempos, torcendo para que o general chegasse à conclusão de que era chegada a hora de fazer uma pausa. Não era muito difícil imaginar que os homens estivessem com fome e sede àquela altura.

Revgar limpou uma gota de suor que ameaçava cair em seu olho antes de soltar um suspiro. Com a vontade que Paven demonstrara de ver Alviora destruída, era capaz de o exército marchar até lá de forma ininterrupta. Não era uma tarefa fácil imaginar qualquer coisa que pudesse interromper a sede de sangue do general. O tenente até entendia parcialmente o ódio pela Lança Branca, mas o preço era alto demais. Que a Alexia descubra alguma forma de ajudar o povo desse vilarejo.

Alviora era um vilarejo que lembrava muito Jandikar. Revgar se lembrava de ter estado no lugar uma vez no passado. A população o recebeu muito bem, inclusive o hospedando e alimentando sem custos. Na ocasião, ele era um emissário dos Arcanos de Rhyfel e estivera no local para oferecer aulas de magia. Lembrava-se claramente das crianças animadas em contato com aquele conhecimento ao qual normalmente nunca teriam acesso em um vilarejo tão pequeno. Nenhuma delas conseguiu de fato fazer algo e ele não descobriu prodígios escondidos lá, mas todas aquelas crianças poderiam dizer que sabiam o básico sobre como magia funciona. Era irônico que, em sua segunda visita, Revgar seria o emissário da morte.

A trombeta soou em três toques curtos que tiraram o tenente das profundezas de seus pensamentos. Imediatamente, ele viu os soldados buscando algum lugar confortável para se alimentar. As poucas árvores que haviam por ali geravam grandes aglomerações de soldados desesperados por uma sombra, por menor que fosse. Entre os mercenários, a líder montou sua casa dimensional e escapou do sol.

Revgar mexeu em suas coisas para pegar uma porção de ração arcana. Não fazia questão de alimentos de maior qualidade. A mentira mais contada da história da existência deve ser que essa porcaria substitui comida de verdade, mas em uma marcha como essa, dá pro gasto.

Após mastigar, o tenente se afastou alguns metros antes de golpear o chão com a mão direita e fazer com que alguns pilares de pedra se projetassem do solo. Mais alguns movimentos e, diante do olhar de todos, havia ali uma casa de pura rocha. O acabamento era inexistente, mas o interior oferecia a sombra que ele queria.

Revgar amarrou seu cavalo do lado de fora e se sentou no interior da casa improvisada. A ausência do sol castigando a sua pele era um alívio absurdo. Sinceramente, como eu não pensei nisso antes? É muito mais prático que montar uma tenda e, se bobear, o resultado é bem melhor. Acho que vou até deixar isso aqui para a posteridade.

— Gostei dessa obra de arte — elogiou Alexia, entrando sem pedir licença.

— Boa tarde pra você também — disse Revgar, sentando-se apoiado em uma das paredes, que estavam geladas por terem acabado de sair de dentro da terra.

— Já comeu? Eu ia te chamar para uma refeição a sós.

— Comi minha ração arcana, mas posso te fazer companhia — respondeu o Arcano de Rhyfel.

Alexia se aproximou do amigo e se sentou ao lado dele. Ela fechou os olhos e soltou um leve gemido de prazer ao contato de suas costas com a pedra fria. Revgar não precisou perguntar para saber que ele não era o único aliviado com a trégua do calor.

— Sério, você precisa fazer isso em todos os acampamentos de agora em diante. Eu prometo não encher a sua paciência por um ano!

— Negócio fechado — respondeu o tenente, dando uma risada de leve.

O Inferno de IstkorWhere stories live. Discover now