Capítulo 4

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Ele esperou o sol terminar de se pôr para agir. Com a mão direita, abaixou o capuz e, então, movendo-se como um gato desceu pelo beco. Em seguida, observou os arredores antes de entrar na rua deserta da feira.

Sentiu a brisa leve batendo no seu rosto suado enquanto progredia por um campo de batalha onde todos os inimigos podiam estar à espreita. Sempre que tinha uma chance, escapava da via principal para se deslocar por ruelas adjacentes.

A cada barulho estranho, o homem parava seu deslocamento para se certificar de que era seguro prosseguir. Alguns poderiam entender que seu zelo era excessivo, mas ele sabia o que aconteceria se fosse capturado pelo inimigo.

Sem dar um único passo em falso, ele demorou aproximadamente trinta minutos para encontrar a loja que buscava. Com cuidado, empurrou a porta apenas para descobrir que ela já estava trancada. Então, olhou para cima e notou a luz acesa, confirmando a presença de alguém. O homem foi para o beco ao lado da venda e procurou por janelas. Viu uma ainda no térreo e, com a máxima discrição possível, tentou abri-la, mas a moradora daquela casa havia sido devidamente cautelosa.

Retornando à porta, o homem tirou uma gazua do bolso e começou a mexer na fechadura. Ele tinha pressa, mas precisava manter a calma para não fazer barulho. Por sorte, os mercadores de Blaskogar não tinham dinheiro para comprar fechaduras mais elaboradas e, com isso, seu trabalho não foi difícil.

Após abrir a tranca, entrou no estabelecimento e observou as diversas prateleiras com frascos e plantas que ele não passava nem perto de conseguir identificar. Em um primeiro momento, não viu escadas que o pudessem conduzir ao andar de cima, mas, então, notou uma porta atrás do balcão.

Ele foi até lá e, mantendo a calma, girou a maçaneta. A porta se abriu como ele desejava, mas as dobradiças rangeram alto o suficiente para assustar o homem. Por pura sorte, o som não pareceu ter sido notado por terceiros.

À sua frente, havia um lance de escadas com uma porta aberta no final à direita. A luz que saía de lá fez com que o homem deduzisse que a pessoa que procurava estava desperta. Ele subiu cada degrau testando o piso para não encontrar uma tábua solta. Finalmente, alcançou o andar superior.

Quando ele viu o interior do quarto, a surpresa foi grande. A mulher que ele procurava estava no lado oposto à porta encostada na parede tremendo enquanto segurava uma faca na mão. Sua maquiagem estava borrada por conta das lágrimas derramadas e seu rosto estampava o medo que ela sentia.

— Eu ouvi você entrar — disse Dóris com a voz embargada. — O que você quer?

— Calma, moça — respondeu o homem. Ele fez um triângulo com as mãos e as colocou em cima do peito. O gesto fez com que a moça se desarmasse. — Um grande amigo viu o que aconteceu hoje à tarde e pediu para que eu viesse te salvar. Consegui chegar antes dos guardas, mas eles já devem estar a caminho para te executar. Desculpa a forma como eu entrei, mas se eu chamasse muita atenção, algum rato poderia te ver fugindo e...

— Eu sei, não precisa se explicar — ela suspirou. — O gesto da Lança Branca fala por si só. E pensar que eu sempre jurei manter distância dessa bagunça toda... — a herbanária fez uma pausa. — Qual é o seu nome, meu querido?

— Zylkoris — respondeu. — Vejo que você está com um vestido longo. Talvez seja necessário correr, então, se tiver outra roupa...

— Vou me trocar — informou — Feche a porta, por favor, meu querido.

Zylkoris obedeceu e, por cinco minutos, esperou do lado de fora do quarto sob tensão constante. A cada instante, a sensação era de que os guardas chegariam e os capturariam no interior daquela loja. Quando o pedido de resgate fora feito por Caleb, companheiro de Lança Branca que o dera abrigo durante o seu período em Blaskogar, o assassino quisera negar, principalmente pelo fato de a herbanária não ser uma lanceira, mas Zylkoris devia um favor ao amigo e não teve coragem de recusar o pedido.

O Inferno de IstkorWhere stories live. Discover now