Prólogo

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Dazaifu, 13 anos atrás...

  Era de tardinha, quando Sayuri e seu irmão mais velho voltavam para casa após um longo dia colhendo grãos de arroz. O vento gélido soprava por sobre as lindas árvores da floresta que rodeava toda Dazaifu, indicando que em breve já seria noite. O outono estava quase no fim, e logo o inverno chegaria junto com as fortes nevascas comuns para a estação naquela região. Era costume que as grandes famílias estocassem o máximo de comida e lenha para quando o clima invernal se instaurasse.

- Já está cansada, irmãzinha? - perguntou Seiji com um sorriso singelo nos lábios.

- Uhum. - Sayuri respondeu.

  Os dois já caminhavam de mãos dadas há horas, o que era tempo demais para uma mera garotinha de cinco aninhos.

- Certo. Então, suba aqui. - disse Seiji agachando e indicando suas costas.

  Sua irmãzinha não tardou em subir e se aconchegar. Ele estava igualmente cansado e carregava consigo alguns cestos pesados cheios de grãos, mas, sempre buscava fazer de tudo por sua irmã mais nova; a amava do fundo do coração. Então, um pesinho à mais em suas costas não faria tanta diferença assim, já que estava cuidando dela.

- Onii-chan? - Sayuri chamou.

- Sim, pequena Sayuri? - ele respondeu.

- Por que nós sempre voltamos antes de ficar escuro? - ela perguntou curiosa.

- Porque é perigoso andar pelas beiras da floresta de noite. Não se lembra do que o papai disse?

  Sayuri era muito nova para entender exatamente qual era o real perigo que espreitava pelos cantos escuros das árvores durante as noites frias. Por isso, seu pai, Iwasaki-san, costumava explicar que haviam criaturas más que poderiam machucar à ela e ao seu irmão mais velho durante a noite. Criaturas as quais temiam o sol, e por isso somente apareciam na escuridão. Eram apenas boatos, já que nunca havia acontecido nenhum tipo de ataque por perto, tampouco na cidade. Mas ainda assim, Iwasaki-san zelava muitíssimo por seus filhos e sua querida esposa.

- Os monstros malvados podem nos pegar no escuro, não é? - ela perguntou, lembrando-se das palavras de seu pai.

- Isso mesmo. - Seiji riu por conta da forma de Sayuri descrever as criaturas como "monstros malvados". - Mas, para a sua sorte, você tem um irmão forte e corajoso que jamais deixaria que algo ruím acontecesse com você!

- Onii-chan! - ela começou a rir. - Você quase congelou de medo quando apareceu aquela cobra imeeeensa na varanda! - recordou.

- Não foi bem assim... eu apenas fiquei parado para pensar na maneira mais segura de acabar com aquela cobra! - ele se defendeu, também rindo.

- Então você estava sendo inteligente? - Sayuri perguntou.

- Isso mesmo! Um dia posso até te ensinar a ser tão inteligente como eu! - ele se gabou brincalhão.

  Os dois continuaram conversando descontraídos até que chegaram em um poço de águas cristalinas, onde alguns moradores passavam para buscar água comumente. O sol já estava prestes a sumir, mas, como estavam bem próximos de casa, Seiji pensou não haver problema em fazer uma parada para tomar água e recuperar as energias, já que havia caminhado com muito peso por horas. Estava muito cansado.

  Então, desceu Sayuri de suas costas e começou a tomar água. A pequena teve uma ideia boba em sua mente de implicar com seu onii-chan, então, sem que ele notasse, apanhou a água com as mãos e lançou-lhe. Seiji se assustou, e se virou para encará-la. Ela estava caindo aos risos ao ver seu irmão com os cabelos molhados e o rosto pingando.

Passion and Flames - a hashira tale (Rengoku)Onde histórias criam vida. Descubra agora