Quando o arrependimento bate não tem nada no mundo que faça você pensar em outra coisa. Aquele sentimento simplesmente afugenta você em uma solitária como um filme passando em looping, remoendo suas entranhas como uma tortura.
Era assim que eu estava me sentindo, depois de quase um mês, eu não sabia dizer o porquê deu ter terminado com Gustavo. Todos estavam certos, eu era muito idiota.
— Amor não correspondido?
— Não seja patética! Em que momento ele deixou de se apaixonar por você? Vocês deram um tempo! E diferente do Ross, Gustavo não colocou um chifre na sua cabeça! Ele não esta saindo com ninguém, muito pelo contrário, ele esteve na sua cama esses dias, literalmente!
— É...
— Aposto que ele fez juras de amor — Tony falou cruzando os braços. Desviei o olhar. — Deve existir uma estatística que prove que a falta de comunicação, resulta no término precoce. Eu procurarei e esfregarei no seu cérebro de Dory!
— Ok! Eu já entendi! — Falei me erguendo da cama, eu estava cansada de choramingar. — Chega de falar disso, parece que só conversamos sobre relacionamento. Desde quando você virou meu terapeuta?
Tony riu e me deu abraço me erguendo do chão.
— Você é muito cri-cri mulher! Sinceramente você está precisando ignorar um pouco da sua seriedade. Fazer algo ousado!
— Tipo o quê? — Perguntei curiosa.
— Não sei, mas algo que não seja apenas se aventurar dentro desses livros — Ele frisou apontando para minha estante.
— Ler é ousadia! Já leu Se eu confiar? — Tony negou com a cabeça. — Sofri no final, sem saber que sofreria. Fiz algo sem saber as consequências, ou seja, ousadia!
Tony riu e apontou para mim.
— Eu nem vou falar nada...
— Acho bom...
Eu falava até ser surpreendida com uma batida na porta. Olhei para Tony, o mesmo saiu do quarto, e em segundos voltou com Gustavo atrás de si.
— Hum...
— Dessa vez eu bati na porta! — Ele se defendeu antes que eu pudesse falar algo. — Vim fazer companhia. Antônio falou que você estava enjoada.
— Já estou bem... — Falei baixo. Uma parte mim, estava morrendo de alegria por ele está ali e a outra queria chutá-lo para fora. — Provavelmente foi algo que comi na casa dos meus pais...
— É... Ou um bebê! — Gustavo falou dando de ombros, concentrado em tirar um pelo de gato do meu travesseiro preto.
Automaticamente olhei para minha barriga e depois para frente, onde estava Tony me olhando apavorado.— Está doido cara? Tina tendo um bebê no auge da nossa tentativa de ousadia.
— Quê? Não a Tina! Pensei em algo que ouvi hoje — Ele justificou, mas balançou a cabeça. — Esquece nem quero falar nada, já cacei informação demais hoje. Eu não tenho mais nenhuma informação para saber, né?
Sua pergunta veio direcionada a mim. Apenas neguei com a cabeça, por hora eu estava livre de bebês.
— Espera? Está rolando alguma fofoca? — Perguntei despretensiosamente. Tony deitou na cama ao meu lado.
— É cara! Conta para gente... — Ele atiçou.Gustavo nos encarou como se quisesse contar, mas parecia em dúvida, o que me remetia a nossa infância. Quando éramos crianças tínhamos a mania de sair à noite escondidos para brincar na casa da árvore feita pelo pai de Gustavo. Apesar de parecermos aventureiros e destemidos, eu e Tony ficávamos com medo da noite e nunca tínhamos coragem de voltar para casa, então Gusta sempre nos acompanhava — Por ser o mais velho ele tinha permissão de sair na rua, diferente de Mateo que dormia cedo. —, contando as histórias mais engraçadas de seu dia. Com o passar do tempo percebemos que ele era um bisbilhoteiro da vida alheia e sempre que podíamos, tirávamos sarro disso.
— Minha vizinha de baixo está grávida do porteiro! — Ele soltou.
— Espera? Do senhor Omar? — Perguntei chocada. Por muitas vezes eu havia visto o senhorzinho de um pouco mais de sessenta anos me saudar. Ele mal conseguia cruzar o corredor de tão devagar...
— O mesmo... Quem diria né?
— Até um velho enrugado consegue se dar bem! Eu estou na merda mesmo... — Tony resmungou enfiando a cara com tudo no travesseiro. Olhei meu amigo e o abracei.
— Você está tão carente... — Murmurei para ele com um sorriso.
— Estou... — Ele falou baixo com a voz abafada.
— Posso ajudar de alguma forma? Que jogar? Podemos fazer outra coisa — Propus. Tony levantou a cabeça para responder e seu olhar se perdeu atrás de mim. Olhei para o mesmo lugar encontrando a feição enciumada de Gustavo.
— Você está carente também?
— Estou...
— Ok... — Falei com um sorriso, o puxando pelo moletom para mais perto. — Deita aqui...
Ficamos os três deitados esperando as horas passarem sem presa, ou talvez as horas estivessem passando muito rápido... Essa era minha sensação. Porque mesmo que ninguém tivesse tocado no assunto, eu sabia que só me faltavam algumas horas para dizer: sim ou não...
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O feriado da desilusão (Conto)
Historia CortaValentina sempre ignorou os homens, pelo simples fato da mesma não ter paciência para aguentá-los, porém trabalhando no bar mais famoso da cidade e tenho um melhor amigo, Antônio, ela não tinha escolha a não ser conviver com muitos deles. Gustavo, c...