Uma semana antes...

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— Tina!

Ouso alguém gritar meu nome do fundo do corredor. Viro pacientemente com um suspiro, já sabendo o que estava por vir.

— Você está irritada com o quê? Nem falei nada! — Gustavo falou com um sorriso de lado. Ele não precisava dizer muito. Apenas sua voz era o suficiente para fazer minha cabeça latejar.

— Seja rápido! — Avisei.

— Você sabe que sou seu chefe, né? Posso demiti-la se eu quiser!

Cruzei os braços erguendo a cabeça para encará-lo.

— Vá em frente!

Gustavo comprimiu os olhos e contornou meu corpo com o braço forte. Prendi a respiração focando na ranhura da parede.

— Como se eu fosse demitir minha melhor funcionária e melhor amiga!

— Não sou sua melhor amiga... — Retruquei baixo.

— Eu não disse que você era. Eu disse que eu sou! — Ouvi sua voz debochada em meu ouvido. — Tenho algo interessante para você Tina...

— Espero que seja um aumento... — Murmurei.

Gustavo deu uma risada alta e me forçou a acompanhar seus passos largos pelo corredor estreito.

— Você ganha melhor que muita garçonete ai e tem bônus por ser minha parceira, mas é trouxa demais e não usa porque não quer.

Franzi o cenho, pronta para retrucar ou para chutá-lo, quando o mesmo parou em frente à pequena porta de estoques. Olhei para ele que parecia animado demais, o que não era estranho. Gustavo tinha um senso de humor hipnotizante, quase insuportável.

— Então?

— Entra aí! — Ele pediu com um aceno de cabeça. — Vai medrosa!

Revirei os olhos e abri a porta com um chute. A mesma bateu com tudo na estante de madeira, o que me distraiu do real objetivo, um cartaz enorme escrito:

"Um casal! Uma noite de bebidas grátis!"

Meus olhos brilharam. Eu não podia acreditar que ele concordara com minha sugestão.

— Você disse que não era uma boa ideia!

— Eu disse que iria pensar — Ele deu uma pausa e sorriu —, e que não era uma boa ideia, porém, pensei bastante e pareceu melhor. Não sei se esse será o letreiro. Na verdade, foi à primeira coisa que veio na minha mente...

— Está brilhante! — Falei, e virei-me para encará-lo novamente. — Será no Dia dos Namorados mesmo?

— Essa é a ideia... — Ele murmurou pegando o cartaz o enrolando com cuidado. — Essa época sempre é deprimente. Os casais sempre marcam para jantar em restaurante, os Pubs viram uma onda de melancolia e chifrudos.

Dei uma pequena risada concordando.

— Fico feliz que mudou de ideia. Se eu tiver que ouvir mais choramingos, ia acabar me rendendo ao Moscow Mule do Tony!

— Duvido! Nem que apontassem uma arma para sua cabeça você beberia — Ele revirou os olhos escuros e me passou o cartaz. — Você ficará responsável por isso, tudo bem? Já que a ideia foi sua, merece todo crédito.

— Bom, depende... Eu ganho mais?

Gustavo umedeceu os lábios e me olhou com uma intensidade que me fez desviar o olhar.

— Posso pensar sobre, se você também pensar sobre algo... — Ele começou a falar com a voz suave. Pisquei algumas vezes inebriada com sua aproximação.

— Algo? — Consegui perguntar. — Que algo?

— Todos precisam de um par para entrar aqui, daqui a uma semana — Ele se aproximou ainda mais, sua mão capturou um dos cachos que saiam do meu coque. Em movimentos circulares ele brincava com o cabelo, me torturando por dentro. — Isso nos inclui.

— Preciso trazer alguém, é isso? — Perguntei, com algum fio de esperança.

— Não... Na verdade, quero que você seja meu par, mas você precisa aceitar, é claro!

Franzi o cenho com a proposta, apesar de desconfiar um pouco. Gustavo não era imprevisível, muito pelo contrário, ele sempre deixou bem claro suas intensões. Naquele momento, por exemplo, ele queria uma resposta da qual não me deixava opção a não ser aceitar.

— E se eu não aceitar?

— Você não participará — Ele falou simplesmente.

— É meu expediente.

— Vou te dar uma folga — Ele afirmou em seguida com um sorriso. Que diabo de proposta era aquela?

— Não quero folga! Você sabe que eu não gosto de passar essa data sozinha.

— Então isso é um sim?

— Não! — Exclamei, revirando os olhos.

— Então é um não?

— Não... — Murmurei, levando a mão ao rosto. — Eu não tenho um tempo para pensar?

— Mais tempo? — Ele perguntou com sarcasmo. Desviei o olhar constrangida, odiava quando ele jogava isso na minha cara. — Ok... Até as cinco do dia 12. Esse é o seu limite... Temos um acordo?

Olhei para Gustavo com todo o seu charme estampado no sorriso divertido e na roupa justa preta. Eu tinha a sensação de que não conseguiria evitar dizer sim, mas ainda sim, fiz o menos inteligente.

— Temos um acordo! — Estendi minha mão, apertando a dele selando nosso estúpido acordo.


Moscow Mule: Também conhecido como vodka buck, é um cocktail feito com vodka, cerveja sabor de gengibre picante, e suco de limão. Tradicionalmente, a bebida é servida numa caneca de cobre, que pode ser decorada com uma fatia de limão em sua borda.

O feriado da desilusão (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora