O medo bateu na minha porta
e se convidou para entrar,
comigo tomou chá
e decidiu a noite ali passar.Os dias foram indo,
e o medo não se foi.
Medo do que? Não sei, não sei.Aprendi a conviver com medo,
medo de tudo e mais um pouco,
e quando chegou a hora
dele ir embora,
fiquei com medo de novo.Medo de não sentir medo,
de me jogar de cabeça,
de me afogar numa piscina.Pedi pro medo, então,
voltar às vezes, pra colocar meu pé no chão,
pra não me deixar fazer besteira.Aprendi, então, que
medo é natural do ser humano
e mentindo está o que diz
que nunca se sentiu assustado.Aprendi, então, que
o medo, na dose certa,
nos faz seguros.
Nos faz não pular de um penhasco,
não nos atirar na frente de um carro.Então de vez em quando,
o convido para entrar.
Tomamos biscoito com chá,
mas nunca mais o deixei
mais de uma noite ali passar.
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A linguagem das Flores
PoetryUma vez eu li que os humanos tem outra linguagem uma mais oculta, que não se usa palavras uma linguagem de sentimentos, de toque e o que é a humanidade senão um imenso jardim? Capa por: Lia Esh