Forjados em Fogo e Água

9. Nyx

Atenes me olhou confusa.

- O que? Não!

Meus soldados levantaram os olhos para ela imediatamente e pude sentir o choque deles, observando uma simples serva me desafiar daquele jeito.

- Eu te conheço a dias. Não posso fugir do lugar em que sou escrava com um estranho esperando que isso me traga algum benefício!

Eu sabia que me arrependeria de usar isso, mas tínhamos que ir encobertos pela escuridão. Apenas mandaria dizer que surgiu uma emergência e que tive que partir antes que o esperado.

- Menti para você. Não sou um servo.

Suas mãos soltaram as minhas e sua apreensão me atingiu.

- Quem é você?

Levantei a cabeça para falar.

- Sou o homem que reina sobre esse continente.

Esperava que ela sentisse medo e choque, mas tudo o que veio foi decepção e raiva.

Senti sua dor, a quebra da confiança que ela tinha em mim. Eu poderia cair de joelhos por aquilo, imediatamente.

Seus olhos encararam os meus por vários segundos, se tornando mais brilhantes.

Daí, foi ela que simplesmente caiu de joelhos no chão, na minha frente, e baixou a cabeça.

Imediatamente também me ajoelhei a sua frente e levantei seu rosto com uma mão.

Quando seus olhos atingiram os meus, percebi o quanto ela estava furiosa pela mentira. Aquele azul havia virado um mar agitado, louco para me afogar até a morte.

Isso doeria menos do que seu desprezo por mim.

- Venha comigo Atenes, por favor!

A mesma engoliu seco antes de me olhar com tristeza e dizer:

- Sim senhor.

Franzi a testa para aquele tratamento que eu odiava e a sensação de como ele destruía qualquer intimidade que havíamos criado.

Levantei-me segurando sua mão, mas assim que me virei para falar com os soldados ela soltou rapidamente.

- Vamos em silêncio.  Não quero ninguém desse Palácio ciente de que estou indo embora encoberto pela escuridão da noite. Os cavalos estão prontos?

- Sim, senhor.

- Muito bem. Frederico, assegure que a senhorita fique confortável durante a viagem e que tenha tudo que precisa.

- Sim, senhor.

Olhei novamente para ela, que mantinha o olhar nos próprios sapatos.

- Vá pegar seus pertences.

Seu olhar subiu ao meu, cheio de magoa e com aquele azul mais brilhante do que nunca, afiado.

- Não possuo nada aqui, Senhor.

Assenti e ignorei a dor que o aparente corte em nosso laço causava, andando atrás de meu soldado acompanhado de Atenes, protegida pelo outro.

Andamos discretamente pelas saídas mais escondidas e, dando a volta pelo Palácio, subimos nos cavalos que já esperavam. O resto dos soldados estavam lá, alguns com sacos de bagagens.

Olhei para ela, que parecia paralisada olhando para o cavalo.

- Tudo bem?

- Eu nunca .... subi em um cavalo. Não sei como fazer isso ... senhor.

Nossos olhos se encontraram por alguns segundos antes dela desviar para a cela a frente, envergonhada.

- Isso não é um problema. Você subirá comigo até em casa.

Estendi uma mão para ela, que segurou claramente por obrigação.

Mesmo que estivesse claramente chateada, senti a onda de calor que passou por seu corpo quando eu segurei os dois lados de sua pequena cintura para ajudá-la a montar no cavalo deixando -a sentada de lado, bem a frente da cela.

Subi logo atrás e segurei as rédeas, cercando seu corpo com meus braços.

O restante dos soldados também subiu e começamos a cavalgar rapidamente, deixando aquele lugar aos poucos.

Observo o olhar de Atenes para trás de nós, vendo tudo que ficava para trás, provavelmente para sempre.

Rapidamente ela olhou para mim e suas bochechas coraram.

Sorri pequeno para ela, mas a mesma apenas abaixou os olhos e desviou a cabeça para o soldado ao nosso lado. 

Essa seria uma longa viagem.