12. Nyx

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Vi se estava tudo certo no espelho antes de sair.

Uma vestimenta mais simples, apenas para um jantar casual

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Uma vestimenta mais simples, apenas para um jantar casual.

Caminhei até a mesa simples com duas cadeiras, em uma sala pequena com uma janela enorme para o jardim, reservado o suficiente para deixá-la a vontade.

Minutos depois, escuto batidas na porta.

- Entre!

Uma onda de calor passeia por meu corpo quando vejo ela, com um vestido preto simples que se agarrava a sua cintura, e seu belo rosto corado, iluminado pelas velas ali.

Ela caminhou até a cadeira em minha frente, as pedras da tiara cintilando perante a luz, e sentou graciosamente.

- Você está... incrível.

Minha voz saiu muito mais rouca do que eu esperava, e engoli a seco quando o calor que emanava do seu corpo aumentou.

- Agradeço seu elogio, Senhor.

- Não. - Eu falei firme, fazendo seu olhar ficar afiado de repente -  somos amigos, não importa qual seja minha posição de poder. Me chame pelo meu nome, Atenes.

- Com todo respeito, Senhor - ela enfatizou a palavra, a raiva queimando na voz - se somos tão amigos como você afirma, por que mentiu sobre algo tão importante para mim?

Eu me calei, não podendo falar dos motivos.

- Pode não ser importante na sua concepção, mas eu sou uma simples criada, sempre fui e sempre serei. Me importa muito com quem estou falando, e não saber que você é o homem mais poderoso do continente é inaceitável. E pior do que esconder o que você é, ainda se passou por um criado seu e conversou sobre você comigo como se fosse verdade!

Ela terminou a fala levemente ofegante e claramente furiosa comigo, com as mãos em cima da mesa fechadas.

- Desculpe -me, por favor.

- Me explique por que fez isso, me explique por que eu estou aqui. Eu vou ser sua serva aqui ou...

- Não!

Sua expressão ficou assustada por alguns momentos por causa do meu tom de voz, mas logo se tornou ainda mais furiosa do que antes, fazendo seus lábios se apertarem e as sobrancelhas franzirem de leve.

Eu gostaria de dizer como ela ficava linda brava, mas talvez isso fizesse a mesma usar a faca da mesa para arrancar minhas bolas, e eu não desejo isso.

- Eu.. nunca quis isso, jamais. E você é livre para fazer e ir onde quiser. Mas, eu imploro, fique aqui e me dê a chance de explicar, de te mostrar a verdade!

Ela me olhou surpresa.

- Por favor Atenes!

Seus olhos suavizaram quando ela analisou minha expressão aflita.

- Tudo bem, eu fico. Até por que não tenho para onde ir...

Sorri animado para ela, que continuo emburrada.

- E embora a senhorita fique tão bela emburrada- suas bochechas coraram violentamente e ela se remeixeu na cadeira - acho que comer vai melhor esse humor tão ácido.

Eu poderia ouvir as batidas aceleradas do seu coração até no outro lado do palácio.

Toquei o pequeno sino ali e, poucos segundos depois , o cozinheiro entrou com duas bandejas e colocou-as na mesa. Quando a tampa foi retirada, olhei para a reação de Atenes.

Seus olhos analisaram a comida e eu consegui ver nitidamente as pupilas dilatarem amplamente, me causando um esforço para segurar a risada.

- Espero que gostem, Senhores.

- Com certeza vamos Carlos. Obrigada pela refeição.

Ele assentiu e, depois de uma reverência a nós dois, saiu silenciosamente pela porta que entrou, fechando-a novamente.

- Você gosta de carne e batatas? Não sabia o que iria preferir, então pedi algo mais simples.

Olhei para Atenes, que me encarava receosa.

- Eu ... nunca comi carne.

Parei onde estava, olhando para seu rosto tenso.

- Atenes, o que você comia lá?

Sua cabeça abaixou e suas mãos foram para seu colo.

- Tudo bem se não quiser falar sobre is...

- Eu não me importo de falar. Geralmente, no café da manhã era servido pão e chá, e no jantar sopa de legumes. A comida era para sobrevivermos apenas, então nunca era algo tão... elaborado.

- Só duas refeições por dia?

- Sim, e era o suficiente afinal.

- Olhe para mim!

Estiquei minhas mãos e ela colocou as suas pequenas e quentes sobre elas, receosa.
Seus olhos subiram lentamente até se fixarem nos meus.

- Não era o suficiente, nada lá. Mas, não importa se você vai ficar ou não, eu nunca mais vou deixar você ter menos do que merece, nunca. Me deixe fazer isso, permita que eu cuide de você.

Ela piscou algumas vezes com os olhos brilhando, e consegui sentir uma onda de sentimentos tomando conta de sua mente. Medo, dúvidas e receio era os que dominavam.

- Confie em mim Atenes. Apesar de minha infeliz mentira, nos tornamos amigos. Eu te conheci um pouco, e tenho certeza que você é uma mulher incrível. Não quero nada além do seu bem.

Seu silêncio dominou por alguns segundos, antes da voz um pouco trêmula e baixa responder:

- Eu vou tentar.

Assenti e a soltei, voltando minha atenção para a comida.

- Ótimo. Mas vamos ao que importa no momento, a comida. Por favor, prove. Se você não gostar podemos arranjar outra coisa.

Cortei um pedaço e comi, apreciando o gosto maravilhoso. As nuances suaves do vinho e do alecrim na carne faziam meu paladar flutuar. Realmente, Carlos era um cozinheiro excelente.

Antes que eu completasse o pensamento, subi meus olhos para Atenes, que levava o garfo devagar até a boca.

Assim que ela mastigou, um gemido de satisfação saiu da sua boca e ela fechou os olhos, franzindo a testa.

Meu corpo inteiro absorveu aquele som, aquele simples e maldito som.

Me amaldiçoei por ter pensamentos tão sujos por um simples ato, mas aquela mulher fazia meu fogo queimar descontrolado a todo momento.

Limpei a garganta e voltei a mastigar, engolindo com dificuldade.

- Essa é, com certeza, a melhor coisa que eu já senti.

E aquela mulher se mostrou feroz, não parando até que o prato estivesse totalmente vazio.

Encarei aquilo assustado, depois de olhar para o meu que não estava nem na metade.

- Como você come tão rápido?

Ela me olha assustada.

- Isso é... contra as regras? Me perdoe, eu não...

- Por favor, esqueça todas as regras. A única coisa que exigo é que você seja você mesma quando estiver comigo.

Ela assentiu m  depois olhou para o meu prato, os olhinhos brilhando.

- Pode pegar se quiser.

Ri quando suas bochechas coraram e girei a mesa até que a comida ficasse a sua frente, olhando enquanto ela comia com tanto gosto que eu não parava de sorrir.

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