Tom me fala para ficar de olho no novato e dou-lhe algumas poucas explicações durante o expediente, como não irritar o gerente, chegar sempre antes do horário e nunca deixar de sorrir para os clientes, mesmo que isso custasse sua dignidade.
Contudo, ele já parecia saber se portar muito bem diante as situações.
Era rápido, bastante eficiente e quando uma senhora de cabelos grisalhos quis reclamar comigo arduamente por causa dos ovos mexidos "sem sal", e ele a impediu com um breve sorriso, seguido de um pedido de desculpas sincero, fiquei me perguntando se aquele garoto não se tornaria uma ameaça para o meu emprego, e que droga eu faria da vida se fosse demitida por causa de um novato altamente qualificado.
Mas que se foda.
Tranco meu armário após colocar a farda sem graça lá e escoro minhas costas no metal frio, retirando o celular do bolso do meu jeans.
Os livros que aluguei mais cedo já estão na mochila outra vez – apesar de contra a minha vontade –, e sinto a dor invadir meu corpo só de pensar carregá-los o caminho todo até o dormitório.
Mesmo assim, não tenho muito escolha. Estava curiosa. Com os pensamentos nas nuvens desde a madrugada passada, desde aquelas asas, os vídeos estranhos, e precisava pesquisar mais sobre, fosse apenas miragem da minha cabeça ou não.
De repente, passos firmes surgem em minha direção. Olho para o lado, onde o novato se encontra no momento.
Ele desce as escadas e anda até o armário da frente, sem nenhuma expressão no rosto. E não olha para mim um segundo sequer enquanto retira uma mochila escura de dentro, suas roupas e um capacete preto.
Cruzo os braços, numa tentativa de reconfortar a mim mesma.
Eu deveria ser educada e agradecer pelo ocorrido de mais cedo. Deveria agir conforme uma pessoa normal e responsável faria diante a situação.
Meus lábios, entretanto, não agem conforme minha mente sabe que é correto.
— Por que essa lanchonete? — eu pergunto, simplesmente.
O garoto me encara, os olhos castanhos estão sem entender o significado da frase. Mas a intensidade daquele contado direto faz meu estômago queimar. Ele era muito bonito.
— Falando comigo? — meu novo colega de trabalho pergunta, quando ergue uma sobrancelha.
— A não ser que tenha outra presença invisível aqui dentro, sim, estou.
Ele sorri. Não é um grande sorriso, mas uma brecha se abre em seus lábios rosados e o garoto começa desabotoar sua blusa, ignorando minha presença, mesmo seu rosto estando em minha direção. Ele pega uma blusa preta dentro do armário.
— Certo, gracinha, não tenho tempo para interrogatórios.
— Você poderia ter entrado em qualquer outra lanchonete.
O novato deu de ombros.
— Gosto do horário daqui. Pagam bem.
— Não pagam não.
— Que seja. Mas por que está tão irritada com isso? Tem medo de perder o emprego?
Sim, eu tinha.
Tinha medo pra caralho da possibilidade de Tom decidir demitir alguém e o sorteado fosse ninguém mais que eu. Como eu pagaria meu dormitório se isso acontecesse? E minha comida? Meus outros gastos pessoais? Arranjar emprego era difícil demais a situação atual. Ainda mais um que correspondesse com as minhas horas de aula.
Cruzo os braços, enquanto ele termina de vestir sua blusa.
— Tom nunca contratou alguém fora da época de contratação antes. Eu tive que implorar.
— E daí?
— Alguma coisa você teve que fazer pra isso acontecer.
— Nascer bonito conta?
— Você não é bonito.
— Você tem miopia, não tem? — sua voz sai quase sincera.
— O quê?
De repente, seus passos então vindo em minha direção. E quando está próximo o suficiente para eu ver cada detalhe de seu rosto, das incontáveis cores de castanho em seus olhos, a pele saudável, o maxilar definido e os lábios rachados com uma leve cicatriz quase curada, fala:
— Consegue me ver melhor?
Estou abismada demais com a sua frase para ficar nervosa. Sinto meu coração acelerado, mas não demonstro. Não verdadeiramente.
Finjo estar chocada e digo:
— Meu deus, estou!
Ele sorri. Não porque acredita em mim, mas porque sou uma péssima atriz.
— Sério?
— Claro que sim!
— E o que achou disso?
— Sua aparência?
— Sim, minha aparência.
—Bem, a porra do seu ego de merda cobriu ela toda. Mas está tudo certo, já que era isso que você queria que eu visse, não é? E eu vi. É genuíno.
Seu sorriso alarga e agora, consigo ver seus dentes. Brancos, limpos, atraentes.
O novato ainda está perto de mim. Sua respiração e a minha se juntam algumas vezes.
— Será um prazer trabalhar com você, Amara — é tudo o que ele diz.
Então se afasta, pegando um capacete do armário e trancando-o.
Eu me permito finalmente respirar fundo, saindo da sala logo após ele.
Não, definitivamente não era um prazer.
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Ággelos ❄ GOT7
FanfictionAmara nunca acreditou em conto de fadas. Quando criança, perdeu os pais ainda bebê e passou a vida toda em um orfanato. Agora, com vinte anos, ela quer mudar de vida. Estudante de artes plásticas, porém, os dias da garota não são nada fáceis. O bu...