Capítulo 7

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Vou para aula logo após o café da manhã. Estava com tanta fome que comi dois sanduíches e um pedaço gigante de torta de maçã.

Essa era minha melhor refeição do dia, então não podia simplesmente ignorar ou comer pouco.

Fico rabiscando durante a maior parte do tempo. Tento desenhar o prédio, as nuvens daquele noite, o garoto e suas asas...

— Ei — alguém cutuca minhas costas.

Só pela voz irritante, sei quem é.

— O quê? — pergunto sem olhar para trás.

As vezes eu pensava em desistir de artes plásticas só pra essa encheção diária acabar.

Em contraposição, não queria dar o gostinho de vitória a ela. E eu amava meu curso.

— Você estava bem ontem?

— Como assim?

— Sei lá, você chegou e não disse nada — sussurra a garota. — Pegou a mochila, jogou ela do lado da cama e então apagou. Sequer foi lá pro seu fim de mundo tomar um banho, como faz todos os dias.

— Eu só estava cansada. Óbvio que esse não é o seu caso, todo mundo sabe, mas algumas pessoas tem uma vida dura pra cacete todos os dias, só pra sobreviver.

— Mesmo assim, foi esquisito.

— Pra quem me odeia, acho que você fica reparando muito em mim, não acha?

Irene ficou em silêncio por alguns segundos. Se recuperou da leve provocação e disse:

— Estou tentando ser legal.

— Falsa simpatia não combina com você, Irene.

O barulho de suas costas batendo na carteira é fraco. Sei que sua cara está emburrada é que ela cruzou os braços. Essa atitude é tão imaginável dentro da minha mente.

— Foda-se então. Que saco — ela diz.

Volto minha atenção para o desenho novamente. Eu não iria cair naquele papinho de novo.

Da primeira vez que achei que ela queria realmente ser minha amiga, abri meu coração para ela. Tentei realmente fazer nossa amizade dar certo, me submeti a tantas coisas...

E nada disso adiantou de algo, porque a ela não tinha a porra de um pingo sequer de consideração.

Porque quando contou para Deus e o mundo todo o meu passado, minhas dificuldades, eu prometi que não iria cometer o mesmo erro duas vezes.

Algumas mensagens chegam em meu celular, uma atrás da outra, em certo desespero.

A melodia de Creep, umas das bandas favoritas de Pitty, me informa que é ela a remetente de todo aquele alvoroço.

Olho para meu professor, distraído, e clico em seu nome, lendo todas as  notícias com uma vara emburrada.

Não acreditava no que estava lendo.

Laura: Aconteceu. Pedi demissão.

Laura: Me desculpe não avisar, minha mãe está doente.

Laura: Estou viajando hoje a noite com a minha filha até o Texas para cuidar dela.

Laura: Passo na lanchonete mais tarde para pegar o restante do meu dinheiro e me despedir de você, claro.

Laura: Eu te amo, sabe disso, né?

Laura: Você é uma garota forte. Vai conseguir realizar tudo que sonha com ou sem mim pra puxar sua orelha.

Laura vivia dizendo que nunca deixaria o Tom de lado. Que ele possuía a obrigação de aguentá-la diariamente e só em caso de vida ou morte, pediria demissão.

E eu me apeguei a isso, com a ideia que algo como "vida e morte", nunca chegaria para ela.

Bem, a verdade é que chegava para todos.

Meus dedos passam delicadamente pela lateral de meus olhos, enquanto tento evitar permitir que as lágrimas caiam.

Ela era como uma mãe para mim, apesar de ser apenas cinco anos mais velha que eu. Uma mãe, uma tia, uma prima, uma irmã. Ela era tudo para mim.

Mas principalmente a pessoa mais próxima que eu tive pra chamar de família e confiar.

Mesmo sabendo disso, não havia nada que eu pudesse fazer sobre. Porque ela tinha a própria vida.

Só que ainda era triste.

Ággelos ❄ GOT7Onde histórias criam vida. Descubra agora