Sabe eu nunca fui muito fã de tirar fotos, bem até onde eu me lembro — afinal eu não me recordo de muita coisa sobre a minha infância, pelo estresse pós traumático mas enfim, isso é história para outro dia.
Jeon tinha saído sabe-se lá para onde, sei que ele deve ter ido longe já que escutei o barulho do escapamento de uma moto lá fora, que suponho ser dele. Agora eu estou aqui tentando destrancar a porta com um ferro fino, que eu nada "carinhosamente" arranquei do colchão — eu tenho que agradecer por esses colchões antigos ainda terem molas.
Não deve ser tão difícil destrancar uma porta com isso né? Parece ser tão fácil, sabe eu tinha um tio que conseguia abrir fechaduras de portas com grampos, clipes e qualquer tipo de ferro que caiba no buraco.
Hoje em dia ele está preso por roubar a casa de mais de cinquenta pessoas da cidade, fora que cometeu dois homicídios — graças a Deus eu não segui os passos daquele homem maluco!
— Quer saber que se foda essa porra! — Jogo o ferro em um canto do quarto já entrando em desespero, e corro na direção do banheiro pensando em fazer uma coisa muito maluca, que pode até funcionar.
Retiro facilmente a caixa acoplada do vaso — aquela parte de cima onde fica a descarga, sei que é frágil se cair no chão por ser de porcelanato mas não custa tentar quebrar a maçaneta com isso. Aquela maçaneta é do tipo que quando quebrada, a porta se abre. Paro finalmente na frente do meu alvo e seguro com força a tampa de porcelana, logo eu faço os dois se colidirem em um golpe certeiro.
— Eu não acredito que essa idéia idiota deu certo — sussurro vendo a porta entreaberta e a maçaneta no chão, junto com a tampa do vaso, que por sinal está quebrada. — Tio Nigel, não acredito que vou dizer isso mas você salvou minha vida sendo um vagabundo.
Apenas saio daquele cômodo maldito na velocidade da luz e começo a correr por corredores escuros, a única iluminação do lugar eram lâmpadas com a luz fraca — algumas piscavam dando um ar aterrorizante para o lugar. Eu virava corredores e corredores, tentando ao menos aumentar a velocidade a cada esquina passada.
Parecia um filme de terror psicológico, onde eu era o personagem principal e o Jungkook era o psicopata que apareceria, há qualquer momento — que isso não aconteça, amém.
( ... )
Os corredores eram todos parecidos, como um tipo de labirinto feito especialmente para me ferrar, eu não sei como vou conseguir sair daqui — mas não vou desistir de jeito nenhum. Fazia quase meia hora que eu corria por aquele lugar, minha respiração estava rápida, meus pulmões ardiam e minha asma queria atacar.
Na verdade minha arma estava atacada, mas eu tentava lutar contra minha fraqueza genética pela vontade e oportunidade de fugir.
Um corredor específico tinha uma porta de cor diferenciada, ela era na cor vinho com alguns arranhões parecidos com garras. Eu sei que deveria sair de perto de coisas assim, mas ela parece ser a melhor opção por enquanto. De tudo que eu já passei, isso deve ser a coisa mais normal daqui.
Apenas empurro a porta que estava entreaberta e seguro um grito com todas as minhas forças, eu realmente não esperava ver essa cena.
Jeon Jungkook estava abraçado com um ursinho enquanto chorava abertamente ao redor de um monte de fotos, algumas estavam sujas, outras cortadas e umas inteiramente picotadas. Ele escondia o rosto contra o urso de pelúcia marrom gigantesco, enquanto se lamentava por algo que estava inaudível para meus ouvidos.
Algumas faças estavam cravadas em fotos na parede, adagas perfuravam ursinhos e o garoto estava bem no meio de um monte de caixas sujas e velhas. Merda, ele não tinha saído? Aquele barulho de moto foi de propósito?
— Por quê não está no quarto Tete? — Ele disse sem nem me olhar, enquanto apertava ainda mais o urso de pelúcia.
Congelo dos pés a cabeça pensando no que fazer nesse momento delicado, ele parecia estar tão abatido que eu nem sei se é humano deixá-lo sozinho nessas condições — admito que esses pensamentos são bem suicidas por não querer sair dessa sala, mas porra! Ele também é um ser humano como eu.
— Estava te procurando — falo sem pensar me aproximando dele em passos pesados, é quando percebo eu já estava agachado na sua frente.
Naquela hora eu não fazia ideia do porque de eu estar querendo ajudá-lo, só sei que eu me sentia como num dejavu louco onde aquilo já tinha acontecido.
E realmente, já havia acontecido no passado.
— Eu l-lembrei que a mamãe não e-está viva — Jeon solta uma fungada voltando a chorar, seus olhos estavam inchados e sua cara demonstrava o mais puro sofrimento. — Ela está m-morta Tete, minha mamãe mo-morreu.
Pude ver que ele pela primeira vez não estava de blusa com manga cumprida, coisa que revelou várias cicatrizes de cortes que pareciam fundos — uns em específico estavam recentes e com sangue escorrendo.
— Puta merda — digo vendo que ele realmente tinha se cortado, e por sinal estava bem feio. — Jungkook tem algo para parar isso?! — Falo tentando não berrar de desespero, eu odeio ver sangue e àquilo estava me matando por dentro.
Depois de alguns minutos em silêncio esperando ele se recompor o garoto finalmente me encara, com os olhos marejados.
— Tá tudo bem — ele funga novamente tentando não me olhar. — Eu já me cortei assim antes, a dor me faz lembrar que ainda estou vivo.
Você se cortava com essas facas desde que seu pai fez aquilo, quanto sangue você deve ter perdido durante sua vida ein Jungkook?
— Se acalma, eu vou te ajudar — me levanto novamente num pulo. — Preciso que você permaneça parado aí Jungkook, consegue fazer isso para o Tete? — Tento falar da forma mais amigável possível.
Ele apenas concorda freneticamente com a cabeça voltando a chorar baixinho, enquanto isso eu ia caçar algo para parar seu sangramento.
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𝐋𝐮𝐱𝐮𝐫𝐲 → ᴛᴀᴇᴋᴏᴏᴋ '
Fanfiction𝐋𝐮𝐱𝐮𝐫𝐲 → ᴛᴀᴇᴋᴏᴏᴋ ' Após receber a correspondência do novo vizinho por engano, Kim Taehyung decide ir entregar pessoalmente as cartas e talvez fazer amizade com o novo vizinho. Pobre garoto, não imaginava que esse simples ato ser...