SENTIR O VENTO EM SEU ROSTO talvez fosse uma sensação que jamais imaginaria amar sentir. Na verdade nunca sequer pensou em como seria a vista daqui de cima, a adrenalina que sente ao mergulhar e subir novamente, como se tivesse asas, como se soubesse voar. E se pudesse, nunca mais colocaria os pés no chão novamente. Nunca mais perderia seu tempo andando ou correndo, fugindo. É bem melhor fugir pelos céus, não? Enola adorava sumir por um tempo, ficar sozinha com Hades, o Fúria da Noite, aquele que tomou a melhor decisão por ela mesma, tirando-a daquelas muralhas enormes, sem ter como olhar para o horizonte. Ela simplesmente saia com o Dragão, voava por ai, e logo depois voltava.
Evitava também participar das corridas de Dragões para não perder para Astrid novamente, já estava começando a ficar humilhante seu jeito horrível de não conseguir pegar nenhuma ovelha, ou perdê-la para qualquer um dos outros. Mas nunca admitiria isso para ninguém.
Fez Hades subir em alta velocidade, como se estivesse correndo contra as correntes de ar, a morena sentiu o vento ressoar pelos seus cabelos e fechou os olhos por um instante, tombando o corpo, fazendo o Fúria da Noite dar um giro e voltar a planar perto das águas. Ela segurou firme na sela preta feita das escamas de seu Dragão, batendo sua mão sobre as ondas e subindo logo depois ao se assustar com os peixes que pularam ali, rindo de si mesma. Hades, como não era nem um pouco bobo, inclinou sua cabeça na água a pegar alguns peixes, os engolindo todos de uma vez, fazendo Enola o encarar em desaprovação e seu Dragão retribuir com um olhar provocante.
- Você diz que gosta de Corvina, mas qualquer peixe está bom para você, não é? - Sentou-se de jeito desleixado na sela, já que não sobrevoavam alto e a velocidade era aceitável, e viu Hades fazer um som com a garganta, uma risada, debochada, aliás. - Eu apenas não te bato, porque senão perco a mão.
Voltou a voar alto, encontrando roxas enormes onde pudesse pousar, e assim o fez, descendo da sela de Hades, passando por ele e não deixando de fazer um carinho em seu queixo. Sentou na grama perto ao penhasco para ter uma visão melhor da paisagem, enquanto seu Dragão deitava para descasar suas asas e deixar que seu estômago fizesse seu trabalho, digerindo todo aquele peixe. Era tão prazeroso chamar aquela fera ranzinza de seu. Seu Dragão. Seu Hades.
Não levou muito tempo para conquistá-lo, até porque ele já havia caído em seus encantos muito antes, mas ainda precisava se acostumar com a ideia de ser dona de algo, de alguém. Já que nunca teve algo realmente seu. Sempre tinha que partilhar tudo com todos, inclusive com sua irmã mais velha, que já não quer recordar a um bom tempo. Mas mesmo assim, lembranças do passado sempre invadiam sua mente, a sensação de não poder ter feito ou dito algo em certos momentos era grande. Poderia der falado mais, ter questionado mais, ter se defendido mais. Já era tarde, no fim das contas.
Retirou de sua gola seu colar vermelho, um rubi. O único presente que sua mãe lhe deu antes de partir. Felizmente tinha algo que não dividiria com ninguém, e sabia que poderia estar sendo um pouco cruel, mas ficava feliz apenas em pensar que sua mãe não deixou nada para seu pai ou para sua irmã. Apenas para a segunda filha do Palácio, Enola.
Ela o guardou novamente. Era algo tão pessoal que nem mesmo Soluço sabia na existência daquele colar, e nunca ficaria sabendo. Virou-se para encarar Hades, que tirava uma serena soneca, e então sorriu ladino ao deixar a ideia de acordá-lo para mais tarde. Viu dois pontinhos pretos voarem entre as roxas, e estreitou os olhos com um sorriso divertido ao perceber quem era.
Ele estava tentando voar de novo? Ela já não havia o feito prometer que nunca tentaria sem alguma supervisão? Sentia-se traída, mas o sorriso em seu rosto não desaparecia de jeito nenhum, nem mesmo quando passou a negar com a cabeça. Até soltara algumas risadinhas baixas enquanto se levantava, mas sequer notou realmente, ou fingiu não ser nada de mais.
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𝐖𝐀𝐑𝐑𝐈𝐎𝐑𝐒 ━━━ (como treinar seu dragão.)
Aventura❝A FUGITIVA CHAMAVA-SE ENOLA HEDDLE, vinda de um Reino distante, grande demais para sequer caber direito em um mapa, ou até mesmo bem maior do que todas as ilhas naquele grande arquipélago. Se viu em uma situação difícil após misteriosamente defende...