04. As estrelas não mentem

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Monte Carlo, Mônaco — 26 de maio de 2021

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Tess ainda estava se recuperando.

O último dia tinha sido um verdadeiro porre e fazia parte da lista de dias que ela queria esquecer permanentemente — mesmo sabendo que isso jamais seria possível. Em momento algum Tess imaginou que as coisas piorariam da forma como pioraram. Tudo em um piscar de olhos, em um leve estalar de dedos.

Após contar a Max sobre sua decisão de fazer a cirurgia — que, se tudo ocorresse bem, seria feita em poucos meses —, o clima morreu completamente. Nenhum dos dois tinha energia suficiente para tentar sustentar um entusiasmo fingido. Tess perdeu a fome, sentia o estômago embrulhar sempre que encarava o bolo em sua frente, que, por sinal, tinha mais da metade, e Max estava completamente aéreo. Com as mãos sobre a mesa, batucava os dedos na tentativa de tirar do coração aquele sentimento ruim que estava o assombrando. 

Não demorou muito para que ambos pedissem a conta, pagassem e saíssem do La Fleur. Andaram pelo mesmo caminho por onde tinham vindo, em completo silêncio. Enquanto Tess reclamava mentalmente do quanto o cateter estava a incomodando por estar escorregando do nariz, Max se fazia perguntas que não pareciam ter resposta. Ele não estava bravo com Tess, não tinha motivo para isso, mas sim um pouco chateado. Chateado porque ela vinha guardando tudo aquilo há muito tempo, sem necessidade alguma. Acreditava piamente que se ela tivesse lhe contado antes, teria sido mais fácil entender, seria menos doloroso. Claro que não o faria ficar com menos medo, mas, sim, teria sido bem melhor. 

Max acompanhou Tess até o hotel onde ela estava hospedada e, após uma despedida de poucas palavras e nenhuma troca de olhares, seguiu para casa. O piloto tentou desviar a mente daquele assunto, mas foi difícil ter êxito. E quando finalmente conseguiu focar em outras coisas, uma bomba explodiu repentinamente sobre sua cabeça.

Tess tinha passado mal no meio da madrugada e estava no hospital. 

Quando Max atendeu o celular, por volta das duas, sem nem saber quem era e furioso por ter sido acordado e ouviu a voz trêmula de Verona do outro lado da linha, soube que algo estava errado. A italiana nem precisou terminar de dizer o que havia acontecido para impulsioná-lo a se levantar da cama como um raio, se arrumar em tempo recorde e sair de casa rumo ao The Princess Grace Hospital Centre.

Enquanto dirigia pelas ruas pouco movimentadas de Monte Carlo, porque, por mais que aquela área do principado fosse bastante badalada, não era comum as pessoas estarem fora de suas casas e hotéis tão tarde, Max sentia o coração apertar cada vez mais. Era como se alguém estivesse o segurando com as duas mãos e o esmagando entre elas. Aquela sensação já era horrível por si só, e quando se misturava com a dúvida, o estômago revirado e o suor frio, se tornava mais horrível ainda. 

O piloto parou o carro em uma vaga vazia e entrou no grande edifício correndo, o que chamou a atenção das pessoas que estavam na recepção. Perguntou sobre Tess, deu as informações que Verona lhe passara por mensagem, e caminhou em passadas rápidas até o quarto indicado pela atendente. O hospital estava vazio, com algumas pessoas sentadas em cadeiras aqui e ali, e tão silencioso quanto uma floresta. Max finalizou o trajeto, que para ele não parecia ter fim, parando na frente de uma porta azul grisaceo. Limpou na bermuda que vestia as mãos molhadas de suor e reuniu coragem para empurrar a porta. 

Primeiro ele viu Verona, sentada em uma poltrona reclinável e dormindo, e, depois, Tess. A holandesa também estava dormindo, mas não aparentava estar bem como a amiga. Max sentiu o coração pesar de dor e culpa. Verona tinha lhe dito que Tess havia passado mal por ter teimado em subir uma grande leva de degraus com pressa e, logo após, retirar o cateter, mas ele não conseguia parar de se perguntar qual sua parcela de culpa em toda aquela merda. 

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