Instáveis

Capítulo Um- Daphne

Seis anos depois, Vancouver.

Você pode se afastar, sofrer e seguir em frente. Você pode continuar com tudo do mesmo modo, se lamentando todos os dias por não ter ido. Você pode chorar todas as noites e se arrepender todos os dias, ou pode ir e chorar por mil noites, até superar. Se você for, irá sentir falta do que era antes e isso vai doer. Vai doer muito! E todos os momentos perfeitos estarão ali, diante dos seus olhos, vagando no escuro, serpenteando nas paredes, te empurrando no abismo da fraqueza. Então, com clareza, você pensa que se tivesse ficado, esses momentos se tornariam átimos raros e com o tempo, inexistentes. Era melhor assim: Ter ido e guardado estes momentos em um baú enfeitado, dentro da sua mente.

Assim, eu fiz.

Agora, ninguém poderia me acusar de ser covarde. Foi preciso muita coragem para fazer isto. Embora eu confesse que partir, pareceu ser a única coisa a se fazer.

Eu fui indo aos poucos, recolhendo os pequenos momentos que eram jogados como migalhas, aos meus pés. Eu fui guardando-os na minha mente, sabendo que em dias não tão distantes, eu iria abrir esse baú e lembrar que tinha tomado a decisão certa.

Esses dias chegaram mais cedo do que pensei e depois de um tempo, eu reduzi a quantidade de vezes em que abri o baú. O problema é que vez ou outra, sempre havia alguma cena, situação, em que me fazia retirar essa caixa da memória. Ontem, eu fiz isso. Eu olhei para o outro lado da rua e vi um jovem com sua jaqueta de basquetebol, se exibindo para sua garota, enquanto ela sorria. Eu já sorri daquela forma quando Weston Sancliff, meu ex-marido, tomava conta do meu coração.

Ele era minha obsessão no tempo de escola, contudo, ele nunca olhou pra mim. Não da forma que eu queria. Estava sempre se exibindo para suas inúmeras garotas, com sua jaqueta do Chicago Bulls, tirando a franja castanha da frente do rosto e dando liberdade para seus lindos olhos verdes.

E foi assim até terminar o colégio. Fui para a faculdade e ele também.

Eu não tinha nenhuma amiga em especial para perguntar por ele e mesmo se eu tivesse, eu não faria. Eu, quando era adolescente, havia treinado anos a fio na frente de um espelho, como agir na presença dele. Eu fingia que ele não me afetava e que não era ele que não me notava e sim, eu que o ignorava. Ridículo, eu sei.

Quando terminei os estudos, voltei para Everest. Quatro meses depois, ele também voltou. Eram raras as vezes que eu o via. Momentos raros e rápidos. Em algumas vezes, ele estava acompanhado com alguma mulher e os dois amigos idiotas, Silas e Phill.

Eu nunca entendi o motivo que justificava West andar com eles. Ambos vivam arrumando brigas na escola, enquanto West sempre tirava notas boas, era o cara que todo mundo queria por perto e um dos melhores no time de basquete.

Mesmo Silas e Phill estando casados, vivam em escândalos. A mulher de Silas, era mais velha e todos sabiam que ele havia casado apenas para ter alguém que o sustentasse. Já Phill, casou-se com uma jovem depois de engravidá-la e a família o ameaçar de morte.

West era o mais novo arquiteto da Fox Group Architecture & Curves. Em um ano, já havia criado grandes projetos. Eu trabalhava em uma galeria de arte e fui encarregada de organizar uma exposição em parceira com a Fox Group, lançando novos artistas.

E como se fosse ontem, me lembro de ter sido apresentada a West.

A primeira coisa que ele fez, foi sorrir e depois, apertar a minha mão. Ele tinha aquele sorriso que fazia a gente se derreter como uma manteiga em dia de calor. E sem mais nem menos, ele disse meu nome. Sim, se lembrava de mim, das aulas de ciências, artes e história e para o meu constrangimento, eu continuei segurando sua mão, enquanto o maldito sorriso não saía do meu rosto. Eu me dei conta do papel de boba que eu estava fazendo e pedi licença para me retirar. Passei a noite toda junto com minha chefe, divulgando o trabalho dos artistas, providenciando as vendas e tirando alguns segundos para admirá-lo.