Havia sido uma semana difícil desde a última vez em que a vi.
Daphne havia mudado fisicamente. O tempo em que estivemos juntos, ela mantinha seus cabelos loiros um pouco próximos da cintura. Agora, estavam um pouco abaixo dos ombros e seus olhos azuis ainda me chamavam a atenção. Ela havia ganhado um pouco mais de peso e tinha as maçãs do rosto mais cheias do que eu me lembrava. De fato, ainda era uma mulher muito bonita como sempre foi.
Foi um choque vê-la parada na minha sala e eu pensei por um momento que não era real.
Não, eu não a amava mais. Um dia antes de ela ir embora, eu havia despejado isso nela. Era mentira. Eu só queria que ela tivesse um motivo para ir. Ela não merecia a vida que levava ao meu lado. Entretanto, os dias foram passando e eu me forçava a acreditar que não a amava mais. Seria mais fácil se eu mentisse para mim mesmo. De fato, com o tempo, essa mentira foi se tornando verdade. Ou seria outra mentira que eu contei? De qualquer maneira, eu manteria a distância, exceto se eu não precisasse entregar seu recipiente de vidro. Há alguns dias, ela havia deixado biscoitos sobre a minha mesa e mesmo eu dizendo que não a procuraria, eu precisava devolvê-lo. Apenas isso.
Então, como se eu estivesse indo enfrentar uma batalha, eu apenas respirei fundo e coloquei minha capa de chuva.
Meus primeiros passos estavam cheio de dúvidas e parei por um instante, ainda a frente da minha casa. Eu definitivamente não deveria fazer isso — não que eu fosse um cara sensato —, ainda assim, eu pensei que talvez, pudéssemos estabelecer uma trégua. Eu queria viver em e paz e Daphne, também. Talvez, devêssemos conversar sobre tudo o que ocorreu. Deveríamos fechar esse círculo e nos perdoar, para seguirmos nossas vidas em paz. Talvez, devêssemos.
A casa de Daphne era bonita. A madeira era nova e através dos grandes janelões, podíamos ver a decoração da casa. E olhando isso, pensei que talvez eu pudesse começar a reforma da minha, ainda esta semana. Era uma ótima casa, também. A tempestade havia levados alguns telhados da suíte máster e alguns vidros foram quebrados. Eu precisava trocar o piso e repaginar a parede da lareira. E pensar nisso, me fez lembrar quem eu costumava ser.
Eu parei em frente à sua casa. Tomei coragem e me aproximei mais. Parei em frente a sua grande janela de sala que estava sem o bloqueio da cortina e olhei. Daphne vestia apenas uma camisola amarela, os cabelos amarrados em um rabo de cavalo. Meu coração pulsou um pouco mais rápido quando eu notei o quanto minha ex-mulher ainda era bonita. Na verdade, por um tempo, eu havia pensado nela e em seu corpo, em sua voz, mas, com o tempo, seu rosto foi indo aos poucos e sempre me doía quando eu pensava em Daphne. Por isso, eu trabalhava muito em não pensar.
Eu estava me movendo para sua porta quando notei que ela gesticulou, ainda de costas. O homem que certamente estava tendo algo íntimo com ela — me baseei pelo fato de dele estar sem camisa —, entrou em sua frente e acariciou seu rosto.
Eu queria entender que sentimento era aquele que me tomou na hora. Era como uma minúscula porcentagem do que senti naquele dia em que cheguei em casa e ela havia ido. Sim, Daphne havia ido com sua vida. Eu pude ver isso.
Ela deu um rápido beijo nele e se virou, parando assim que me viu. Eu dei as costas, um pouco embaraçado por ter sido pego em fragrante e comecei a andar.
— Hey! — ela gritou.
Eu parei e voltei meu corpo para ela, que estava há alguns metros. A chuva agora era apenas um chuvisco, mesmo assim, pude ver as pequenas gotas brancas sobre os cabelos claros de Daphne. Ela ainda era magnifica.
— O que estava fazendo?
— Bom, eu... eu só o queria devolver isso — levantei minha mão mostrando seu pote de biscoitos, vazio.
Ela o olhou, mas não o pegou. Cruzou os braços na frente dos seios para que eu não visse seu corpo dando sinais de que estava com frio.
O homem agora vestia uma camisa e trazia na mão, um casaco. Colocou sobre os ombros dela, fazendo-a levar um susto e em seguida, me olhou um pouco incomodada.
— Quem é ele?
Daphne pareceu cogitar algo antes de responder.
— Ele é meu novo vizinho. A senhora Carlson fez alguns biscoitos e pediu que eu os levasse para ele. E agora, ele veio trazer o pote.
— Hmm — ele franziu o cenho e passou a mão sobre o ombro de Daphne, deixando-a visivelmente desconfortável. — Por que ela não foi levar pessoalmente?
— Ela estava com pressa. O senhor Carlson precisava de ajuda com o deque.
Ele assentiu com a cabeça.
— E qual é o seu nome? — ele perguntou.
— San — ela disse rapidamente, não me dando oportunidade para responder.
Ela havia dado o começo do meu sobrenome. Daphne não queria que ele soubesse quem eu era.
— Você é daqui mesmo de Vancouver, San?
— Não... — Sim, quer dizer... Apenas não sou dessa área.
— É de onde, então?
— East Side — eu menti, dizendo a primeira coisa que veio em minha mente.
Ele me olhou um pouco desconfiado e depois estendeu a mão.
— Esqueci de me apresentar. Me chamo Nate. Espero que esteja gostando daqui.
— É pouco tempo para dizer se gosto. De qualquer maneira, confesso que o lugar aqui é muito agradável.
Daphne continuava quieta, evitando o meu olhar.
— Bom... Eu vou nessa. Foi um prazer falar com vocês.
Nate deu um aceno com a cabeça e Daphne me olhou, ainda calada.
— San... — ela disse segundos depois.
Eu me virei e ela apontou para minhas mãos.
— O pote.
Eu olhei e percebei que eu o estava levando novamente para casa. Estendi minha mão e ela o pegou e por alguns segundos, ela olhou em meus olhos e isso levou algumas ondas de arrepiou para meu corpo.
Ela apertou os lábios e se virou com aquele homem e ele tinha seu braço sobre o ombro dela.
Eu caminhei, entrei em casa e fechei a porta. Tirei a capa de chuva e a pendurei. Minhas mãos estavam passando de forma nervosa em minha barba.
Daphne não mentiu quando disse que estava com alguém. Não sei se comprovar aquilo, me chateou. Talvez seja apenas a sombra do nosso passado me dizendo que eu desperdicei a chance que tive com ela.
— O que o senhor quis com isso, pai? — perguntei fechando os olhos.
Se não fosse pelo meu pai, eu não estaria morando há alguns metros da minha ex-mulher. A pessoa que tinha em mente que a morte de Theo, era minha culpa. E dane-se! Ela tinha razão neste ponto.
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Instáveis
RomansaVocê sabe o que é instabilidade? É aquela falta de firmeza, é aquela tendência a tombar, é simplesmente ser suscetível a cair. Pronto! Agora você sabe que instabilidade é o que define Daphne e Weston. No começo, tinham tudo para dar certo, o proble...