Capítulo Nove- Daphne

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Eu enterrei meu rosto sobre minhas pernas e soltei uma longa respiração. Ele havia dito "não pense, Daphne" e definitivamente, eu não havia pensado. Onde eu estava com a cabeça?

Levantei e vesti minhas roupas olhando para Weston, que ainda dormia. O corpo coberto por um edredom e o rosto para cima, a boca levemente aberta.

Eu terminei de me vestir um pouco com pressa e me aproximei da maçaneta.

— Somos adultos. Não precisamos fazer nada escondido e isso incluí ir embora.

Eu levei um susto ao ouvir a voz sonolenta dele e me virei para olhá-lo.

— Eu apenas preciso ir. Não torne isso pior. Foi um...

— Erro?

Eu apertei meus sapatos que estavam pendurados em minhas mãos e respondi:

— Você sabe que sim.

Ele se sentou na beirada da cama, enrolou o edredom em volta de si e aos poucos caminhou até se aproximar da porta.

— É, eu sei! Então vá, Daphne!

— Não foi certo o que fizemos...

— Já disse que eu sei!

Ele colocou a mão na maçaneta e abriu a porta. Eu pude sentir o desgosto em sua voz.

— Weston...

Ele parou próximo à escada, colocou a mãos no corrimão e me deu um olhar frio.

— Não vamos mais cometer esse erro, Daphne. Nenhum de nós quer passar por toda aquela merda de novo, não é? Você seguiu com sua vida e eu tenho a minha. Mesmo fodida, ainda é minha vida. Eu jamais quero fazê-la sofrer novamente. Fique tranquila.

— Não fala assim, por favor.

— O que quer que eu fale? Quando você disse que foi um erro, você precisava ver seu rosto. Aquela expressão era a mesma de quando você disse naquele dia que me amava. Você disse com sofrimento. Seu rosto dizia que era sofrido me amar. E embora durante esses anos seu rosto começasse a desfocar, minutos atrás, eu pude me lembrar daquela maldita expressão.

— Você não se lembrava do meu rosto?

— Sempre que eu lembrava de você, eu fazia questão de imaginar seu rosto como uma figura sem forma e quando eu chapava, era o que eu imaginava. E os anos foram passando e minha mente sempre desfocava seu rosto. Acho que foi uma forma de bloquear algumas imagens, como aquela maldita expressão. E se quer saber, eu gostaria muito que seu rosto não fosse a primeira coisa que vi esta manhã.

— Você está me machucando... — eu senti um nó na garganta quando ouvi suas palavras. Aquilo doeu.

— Vá embora!

— Eu sinto muito. Eu não queria que ficasse chateado comigo. Mas, sabíamos que seria assim. Eu não consigo viver tudo aquilo...

— Eu sei! — ele gritou. — Acha mesmo que eu não sei, porra? Eu sei que não teremos nossa vida de volta. Eu sei que eu desgracei tudo e eu sei que mesmo sóbrio eu ainda sou um viciado para você. Eu também sei que pra você foi só sexo. Ou você acha que eu pensei que acordaríamos e tomaríamos café na cama e trocaríamos promessas de amor? Acorda, Daphne! O que temos é uma atração desgraçada, porque sabemos o quanto o sexo entre nós é bom. Mas, amor, isso foi enterrado junto com o Theo, não é?

— Não fala o nome dele, por favor... — eu pedi com a voz trêmula.

— Sai daqui e leve seu remorso de ter estado comigo. Pode não parecer, Daphne, mas, ser o erro de alguém, cansa. Eu sou todo errado e parece que nasci para ser um recipiente de erros. Sinto muito por isso, mas, é assim que é — ele passou a mão nos cabelos e olhou para o chão. — Por favor, apenas vá — disse sussurrando.

Eu o olhei por alguns segundos e passei por ele. Desci as escadas correndo, não permitindo que ele me visse chorar.

O que ele queria que eu fizesse? Que eu dissesse que foi certo? Não, não foi! Passamos anos tentando construir nossas vidas e estarmos juntos seria como marretar um muro.

Como seria? Sempre que falássemos algo errado, jogaríamos o passado no rosto um do outro. Foi um erro!

Foi um erro!

Foi um erro!

Foi um erro!

E espero que minha mente se lembre sempre do erro que foi estar com Weston Sancliff.

Eu corri para casa e me deparei com Nate sentado no meu sofá. Os cabelos desalinhados e a mesma roupa da noite anterior. Os cotovelos apoiados sobre as pernas e olhar que me deu parecia o de uma criança chateada.

— Você não foi pra sua casa?

— Parece que eu fui? — ele perguntou.

Lavei meu rosto no banheiro, fui até a cozinha, preparar um café. Minha cabeça estava latejando e a presença de Nate só fez com que a dor piorasse. Eu não queria ouvir suas reclamações.

Depois de algum tempo em silêncio, coloquei meu café sobre a ilha e dei o primeiro gole.

— Faz meia hora que você chegou. Eu estou desde ontem esperando você e a única coisa que você fez, foi preparar seu café, como se eu não existisse. Nada! Nem uma satisfação...

— Não devo nenhuma satisfação a você — eu disse calmamente.

Ele levantou bruscamente e apoiou as mãos na ilha.

— Deve! Deve e muito! Você me fez de idiota no dia em que ele veio aqui. Eu sabia que havia algo estranho. Eu senti isso. Por que não foi sincera? Eu merecia a verdade, não é? Me fez de idiota na casa dos Carlson e faz pouco caso do que eu sinto.

— Nate...

— Eu sei que você não me ama, mas, pensei que pelo menos se importava comigo — ele desviou o olhar. — Não imagina o quanto está doendo em mim.

Eu enterrei o rosto entre as mãos e respirei fundo. Eu deveria ter sido sincera com ele como sempre fui. Ele era tão bom comigo, sempre esteve ao meu lado nos dias ruins. Ele não merecia aquilo.

— Me desculpa. Você está certo, eu deveria ter sido sincera. Eu só não queria que você ficasse assim, mas, eu ia contar.

— Quando? Depois de passar a noite com ele?

A acusação, por mais verdadeira que fosse, me trouxe um mal-estar. Me fez lembrar de quando Weston e eu estávamos colados um ao outro e fiquei constrangida por pensar nisso enquanto eu tentava não magoar outra pessoa. Eu não estava tendo sucesso.

— Desculpe por isso.

— Você disse que não o amava.

— E não... Eu não amo.

— Como pode mentir assim pra mim?

— Eu não o amo. Quantas vezes preciso repetir isso? Foi um deslize, um erro ou qualquer outra merda. Mas, não o amo. Já fomos casados, estávamos fragilizados e surpresos com tudo o que vem acontecendo. Talvez tenha sido saudade, mas, é fato que eu não o amo. Ele já não é mais importante na minha vida.

Eu nem sabia o que estava falando. Eu não sabia o que estava sentindo, o que de fato era verdade pra mim. Eu estava confusa, magoada com as palavras de Weston, irritada com Nate, triste comigo mesma. Eu só queria que Nate fosse embora para eu pudesse desabafar em qualquer canto da casa e falecer na minha angústia.

— Mesmo que você não leve a sério o que temos, eu jamais faria isso com você.

— Não faria porque você me ama. Eu não sinto o mesmo.

— Entendo — ele disse com a voz apagada. — Mesmo não me amando, achei que você tinha consideração por mim, por todas as vezes que fui seu ombro... Por segurar sua mão sempre que precisou.

— Nate, estou cansada. Nada do que eu fale vai mudar o que aconteceu.

Ele assentiu tristemente com a cabeça e se afastou. Pegou as chaves do carro na mesinha de centro e saiu sem me olhar.

Levantei-me, levei minha xícara até a pia e joguei o café. Depois, me joguei no sofá e fiquei olhando para o teto, onde refletia as lembranças da noite anterior.

Eu queria amar Nate, no entanto, não posso mentir que Weston ainda mexia comigo.

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