Eu acordei cedo. Vislumbrei a chuva lá fora, as gotas que desciam em uma longa jornada pelo vidro da porta. A sacada estava molhada, algumas folhas haviam voado e repousado no chão. Um passarinho se abrigava em um dos galhos da árvore que ficava no meu quintal. O cheiro daquela manhã me trazia memórias. Eu abri a porta e deixei entrar aquele frio leve, que mesmo sendo tão delicado, arrepiava a pele. O céu estava escuro, as nuvens pesadas e eu sabia que iria chover muito mais. Eu havia me tornado especialista em tempestades.
Respirei fundo e apertei o hobby de seda sobre o meu peito. Eu dei mais uma olhada para aquele tempo nostálgico e retornei para o quarto. Observei o corpo nu, coberto apenas da cintura para baixo, o cabelo loiro despenteado, a barba cerrada e a fina camada de pelos no peito.
A noite havia sido boa, mas, em todos esses anos, tudo continuava vazio. Havia um vazio dentro de mim e por mais que eu me esforçasse, nada o preenchia. Os únicos momentos que me faziam bem, eram aqueles em que eu estava no meu estúdio, dando pinceladas nas minhas telas. Era uma terapia disfarçada de trabalho. Claro, momentos de sexo eram bons, ainda mais com alguém como Nate. Infelizmente, não passava disso: Sexo bom e vazio.
Eu me sentei no sofá em frente a minha cama e o olhei por mais algum tempo. Ele tinha tudo o que qualquer mulher gostaria que um homem tivesse. Desde dinheiro, beleza, palavras bonitas e era um bom amigo.
O conheci na minha galeria. Ele procurava por um quadro para dar de presente a um amigo e no outro dia, ele voltou e comprou mais um. Isso se repetiu por três dias seguidos, até ele me contar que os que ele havia comprado por último, eram para ele mesmo e era uma desculpa para me ver. Dias depois, eu me abri com ele e deixei claro que eu não queria nada que nos levasse a um compromisso e ele aceitou. Houve dias em que ele ouviu toda a história do meu passado e em outros, ele conviveu com meu silêncio e em todas as vezes, ele se mostrou um bom ouvinte. E era assim que eu o via: Um amigo que dividia a cama comigo e nada mais.
— Não tem nada mais sexy do que vê-la parada, me olhando.
— Se você não estivesse nu na minha cama, eu talvez não estivesse olhando-o.
— Então é isso? Eu sou apenas um corpo para você ficar admirando? Um objeto sexual?
— Isso mesmo.
— Me sinto usado — ele disse e fez uma cara de quem tinha se ofendido.
— Ah, mas você também me usou.
— Só por isso, vou perdoá-la — disse dando risada.
Eu me levantei também sorrindo e fui até o banheiro, preparar meu banho.
— Vamos ao Red Castle, tomar café? — eu o ouvi dizer enquanto eu enchia a banheira.
— Isso seria ótimo — falei alto.
O Red Castle tinha todas as suas mesas ocupadas e estávamos sentados ao lado de um grande janelão vermelho. Na rua, alguns carros passavam, enquanto uma mulher atravessa a rua com uma criança no colo, debaixo de um guarda-chuva. A criança tinha a cabeça em volta de um gorro, o corpinho bem agasalhado e se eu não estivesse errada, tinha mais ou menos, um aninho de idade. Era um lindo menino.
As memórias estavam todas lá, tentando escapar da minha cabeça, até que uma, conseguiu.
— Será que ele vai ser popular como você era na escola?
— Não sei. Mas vou ensiná-lo a observar as garotas que fazem belos desenhos nas aulas de artes.
— Ensinar o que você nunca fez?
— Isso foi muito baixo, docinho. Lembre-se que era você quem me ignorava.
— Enquanto você dava atenção para um monte de garotas.
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Instáveis
RomanceVocê sabe o que é instabilidade? É aquela falta de firmeza, é aquela tendência a tombar, é simplesmente ser suscetível a cair. Pronto! Agora você sabe que instabilidade é o que define Daphne e Weston. No começo, tinham tudo para dar certo, o proble...