MALU
Cidade de Quetta
— Por que a senhora olha tanto para o céu? — olho para Aaron, que conversa com minha mãe.
— Não sei. — minha mãe encolhe os ombros, mentindo para o capataz desse centro de sofrimento humano.
Minha mãe olha o céu para lembrar o meu pai, ela conta que ele a chamava de ''estrela''.
— A julgar pelo seu olhar, acho que sabe muito bem porque olha o céu. — Aaron continua. — Não sou meu chefe, Marcela. Eu não sou como o Nasir, ele é cruel, a pior pessoa que existe, mas não sou assim.
Aaron é o capataz que Nasir mais confia. Aaron trabalha aqui há muitos anos.
Lembro que quando eu tinha uns quinze anos, ele falou meu nome alto, olhei para ele. Aaron sorriu... Eu sorri também, mas estava confusa.
Posteriormente ele mandou comida no quartinho. Khalil, irmão de Nasir, chegou perto de mim e acabou sentindo meu hálito na hora do trabalho, tinha cheiro de mortadela. Eu apanhei, ele queria que eu contasse quem me deu alimento.
Não contei.
Fiquei presa por muito tempo, até que fui solta.
Aaron me pediu perdão, até hoje ele manda alimentos lá para o quartinho, e temos creme dental, para tirar o cheiro da comida. Não há desconfianças porque depois de um tempo os produtos de higiene foram liberados.
Eu poderia confiar em Aaron graças a tudo isso? Sim, mas não posso confiar em alguém que trabalha para Nasir por querer, sem ter ameaças ou necessidade por trás.
Não confio em quem compactua com Nasir.
E sim, já indaguei a Aaron e ele nunca falou sobre qualquer obrigação.
— O que quer com isso, Aaron? — volto a prestar atenção na conversa deles. — Obrigada por toda a ajuda, mas não gosto da sua aproximação com minha filha.
— Eu gosto da Mari, senhora.
Meus olhos se arregalam ao escutar essa reposta.
— Desista da minha filha, por favor. Se gosta mesmo da Maria Luiza, desista. Maria é uma escrava, você comanda isso aqui...
— E por isso eu tenho regalias, Marcela. — Aaron interrompe minha mãe. — Se eu casar com Maria, ela terá uma vida diferente, e a senhora pode ir junto.
Meu coração acelera mais.
— E precisa casar para isso?
— Se ela fosse minha, eu ajudaria vocês. Eu juro que ajudaria, seria mais fácil para sair dessa.
— Eu nunca usaria minha filha para isso. Não é assim que mostra gostar da Maria. Se tem como tira-la disso, é só pagar, não precisa casar. Não vejo o sentido de Nasir e ir para você, parece mais uma troca de senhores.
— Nunca acreditará em mim, nunca acreditará que amo sua filha. Mas eu a amo. Eu pago pela liberdade e acham que vão para onde?
— Se amasse Maria, você ajudaria a chegar até Alberto. Vai nos ajudar ou quer Maria para ser sua?
— Vocês precisam de algo? — Aaron muda de assunto, ignora o questionamento da minha mãe.
— Água limpa, pode ser? — Aaron afirma. — A água está barrenta.
— Providenciarei algo. — sorri. — Boa noite, Marcela.
— Boa noite, Aaron.
Quando Aaron se afasta, eu saio de trás da árvore e vou até a minha mãe.
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(COMPLETO NA AMAZON) Casando com o inimigo - Um contrato para a nossa vingança
ChickLitMaria Luiza Pelegrini nasceu e cresceu no cárcere sendo escrava na fazenda da família Lovren. 20 anos longe da civilização, sem conhecer o mundo a sua volta e tendo a mãe como a única pessoa a quem confia. Agora Maria recebe a terrível notícia que s...