6 - Queria que isso nunca estivesse acontecido

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Hector

— Vamos, me respondam. O que estão fazendo aqui? — Zia Ester pergunta enquanto se escora na árvore em que eu e minha irmã estávamos.

Mamma nos pediu para mostrar o lago aos meninos — Bianca diz enquanto sorri docemente — e o que a senhora está fazendo aqui, zietta?

— Depois que seu pai fez aquele vexame no jantar eu preferi ficar aqui fora, onde é bem mais calmo. Calmo até eu ouvir a sua voz irritante da Bianca — Rimos enquanto ela toca a ponta do nariz de minha irmã — Acho que agora eu posso finalmente voltar para o jantar. Espero que o pai de vocês esteja com um humor melhor.

Ela ri enquanto se distancia de nós, desaparecendo no meio da escuridão em direção a casa. Bianca estende o dedo mindinho em minha direção, como se esse segredinho em questão dependesse da nossa vida.

— Quero que me compre mais livros — Ela me olha incrédula e eu solto um risinho baixo — Esta é a minha condição. Três livros novinhos de minha escolha e eu não conto para ninguém que você deu uma escapada com o Lorenzo.

— Que cobra venenosa você é — Ela cerra os olhos enquanto estende a mão em minha direção — Ok espertinho. Eu aceito.

Sorri apertando sua mão e olho para os garotos lá na frente, percebendo que Andrea nos observava. Suspirei fundo enquanto caminhava ao lado de Bianca para a ponte. Minha irmã puxa fraco a manga de Lorenzo, o chamando para um canto mais afastado da trilha, procurando um local mais calmo para curtirem um momento a sós.

— Para onde eles vão? — Andrea pergunta. Me parece tão inocente de sua parte.

— Acho que eles vão brincar de pega-pega no escuro — Solto um risinho e Magnus me olha enquanto fala — E você, Hector? O que acha que eles vão fazer?

— Acho que eles vão atrás de um lobisomem — Damos risada enquanto nos olhamos — É noite de lua cheia rapazes. Talvez eles descubram alguma coisa.

— Não duvido nada que o lobisomem seja o Lorenzo — Contenho um risinho ao escutar aquela frase vindo de Andrea, andando na frente pela ponte de madeira velha. Atravessamos algumas árvores antes de chegarmos a uma encruzilhada que leva a dois lugares; a da direita sobe em direção ao riacho que alimenta o lago e a outra a parte debaixo do lago, um pouco mais afastado.

— Qual dos dois caminhos vocês preferem? Temos o do riacho — aponto para a da direita — e a do fim do lago — Aponto para a esquerda — Qual dos dois vocês querem seguir?

— Eu quero ir pelo riacho — Andrea diz animado enquanto olha para a encruzilhada.

— Eu quero ir pelo lago — Magnus fala e eu solto um suspiro. Não acredito que serei eu que terei que tomar essa decisão — Por onde você quer ir, Hector?

— Bem. Eu gosto bastante do da esquerda — Sorri tímido e olho para Andrea — Bem, o caminho do riacho é bem claro e é só seguir linha reta.

Ele concorda com a cabeça e olha para Magnus, mordendo o lábio inferior fraco enquanto toca meu ombro.

— Vocês podem ir pelo caminho do lago. Eu vou sozinho pelo outro caminho — Ele sorri sem jeito enquanto se distancia, indo até o começo da trilha da direita —Temos uma hora para voltar?

— Volte pra casa antes das dez e meia, é perigoso ficar aqui quando anoitece — Sorri começando a descer a encruzilhada da direita junto a Magnus.

— Sua família não parece se dar muito bem...Tem alguma ideia do porquê? — Nego com a cabeça suspirando — Desculpe. Sei que não é o tipo de pergunta que um empregado faz para um de seus patrões.

— Não sou seu patrão, meus pais são. E outra, você pode me perguntar esse tipo de coisa — Sorri doce em sua direção e ele me olha rapidamente, desviando logo em seguida — Como você percebeu, minha família não se dá muito bem. A minha família por parte de mãe é legal e super gentil com todo mundo, mas a parte do meu pai é complicada. Você viu o jeito que meu pai e a minha zie não se dão muito bem.

Não faz nem um dia que eu conheço o Magnus, mas eu continuo contando tudo pra ele. É uma coisa esquisita, mas ele parece me escutar e prestar atenção no que eu falo.

— Não acho sua família problemática. Algumas coisas para apimentar as relações familiares não faz mal — Solto um risinho enquanto aqueço meus braços por conta do vento gelado — Está com frio?

— Um pouco — Ri baixinho enquanto me auto abraço, sentindo minhas mãos geladas tentarem esquentar meu corpo — Droga, esqueci minha blusa em casa.

— Há outro jeito de esquentarmos as coisas — Ele sorri ladino, me olhando com aqueles lindos olhos verdes — Quer descobrir?

Concordo com a cabeça devagar, suspirando enquanto meus olhos descansam sobre seus lábios. Acho que ele percebeu, porque logo em seguida ele morde o lábio inferior, me observando calmamente.

— Posso? — Ele pergunta enquanto se aproxima cada vez mais de meu rosto, tocando levemente minha bochecha direita com a ponta dos dedos — Se não quiser...

— Eu quero — O interrompi enquanto o olho nos olhos, suspirando a poucos centímetros de seus lábios — E eu quero muito.

Levo uma de minhas mãos até sua nuca, brincando com a ponta dos dedos em seus cabelos cacheados. Sinto sua respiração bater em meus lábios e sinto um arrepio. Isso está acontecendo mesmo ou é uma ilusão? Porque se for, eu não quero que acabe.

Escuto um barulho vindo da trilha e me afasto assustado, vendo o jeito que Magnus ficou envergonhado. Mas era só um coelho correndo pela mata. O observo por alguns instantes antes dele começar a andar em direção ao fim da trilha.

— Magnus — O chamo enquanto caminho atrás dele. Ele murmura alguma coisa que eu não consegui escutar, sem ao menos me olhar — Magnus?

— O que foi? — Ele para bruscamente, me fazendo bater em suas costas sem querer — Pode dizer, Hector.

Meu nome em sua boca sai tão sexy que todos os pelos do meu corpo automaticamente se arrepiam enquanto eu me afasto e ele se vira. Ele me olha sério, observando todo o meu corpo com aqueles olhos verdes intensos.

— Me desculpe pelo que aconteceu — Ele diz simples, mas eu sinto como se tivesse levado uma facada no peito — Sei que não era o que você queria. Me desculpe novamente.

— Magnus... — Tento falar alguma coisa, mas sou interrompido pela risada alta de Bianca.

— Onde está o Andrea? — Lorenzo pergunta enquanto segura a mão de Bianca — E o que vocês estão fazendo sozinhos aqui?

— Ele ainda deve estar no riacho — Magnus responde por mim — Ele preferiu ir por aquele caminho enquanto eu e o Hector viemos por esse.

— Hector, você esqueceu que a trilha que leva ao riacho está um completo breu a essas horas?! — Bianca fala um pouco mais alto enquanto eu percebo o que fiz.

— Merda — Começo a subir a trilha de volta, sendo seguido pelos três logo em seguida — Como que ninguém arrumou a porcaria daquelas luzes?

— Eu não sei! Pappa disse que tinham resolvido, mas está um completo breu lá em cima! — Bianca diz enquanto anda mais rápido, ficando ao meu lado — O que aconteceu entre vocês dois?

— Não é da sua conta, Bianca — Digo irritado enquanto chegamos na encruzilhada, começando a subir a trilha do riacho.

Detesto ser assim com ela. Mas realmente não é conta dela. Não é da conta de ninguém. Só minha e do Magnus. Magnus. Queria que essa merda nunca tivesse acontecido.

*

Zia:Tia

Mamma:Mamãe

Zietta:Titia

Pappa: Papai

Verão VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora