5. Hot Milk

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Ao ter interações com a Nathália, minha nova amiguinha, senti como se tivesse algo que pudesse contar, pelo menos naquele instante e foi ai que muito o que vivi, me traumatiza até hoje de interações sociais.

Ao chegar na escola, sempre cumprimentava os coleguinhas de turma e sempre tinha uma novidade para conversar com as amigas, como o novo episódio de um desenho ou de uma ideia para algum desenho ou até simplesmente bobagens de criança, como que cor o cabelo fica, se os olhos podem mudar de cor ou até se é a lua quem persegue a gente quando estamos brincando.

Nesse dia, em especial, veio uma dinâmica de sala, em querer perguntar para nós se tínhamos alguma ideia do que queríamos ser quando crecer.

—  Bom meninada, hoje teremos uma atividade interessante, que é, o que vocês querem ser quando crescerem? —  diz a professora em tom investigativo

—  Talvez vocês não tenham uma ideia no momento, mais seria algo legal o que se interessam em ser —  diz em tom mais infantil

Um menino levanta a mão, Paulo Cézar bem no canto da sala e diz: —  Professora, eu quero ser policial, para pegar os bandidos!

— Ah sim, vou anotar no quadro que profissões teremos —  pega o giz e escreve no quadro "policial" e diz —  quem quiser levantar e quando eu der a palavra pode ir falando.

Nesse momento as crianças foram se organizando e foram saíndo profissões como médica, ator, atriz, cantora, desenhista, piloto de corrida, jogador de futebol até que chegou a minha vez

Levantei o braço e percebi que era a última —  Eu quero ser astronauta. —  ao dizer isso, todos se entreolharam e teve burburinho no fundo que foi compreensível a seguinte frase " é profissão de menino, porque ela não podia escolher algo mais menininha" 

Se arrependimento matasse, teria escolhido qualquer outra profissão como administradora, professora, sei lá, qualquer uma outra, mais isso doeu, machucou que não disse mais nada durante o restante da aula.

 - Hora do recreio - 

— Florence, você está bem? —  diz em tom de curiosidade —  Eu ouvi o que os meninos disseram, mais não ligue para eles, são uns bobões. —  diz tentando animar Florence.

 Estava sentada na mesa do lanche, sem sequer tocar no lanche que mamãe havia preparado para mim com maior carinho — Eu sei, é só um pouco triste ter o sonho quebrado assim — diz em tom choroso.

Nathália ao ver sua amiga em uma condição nada legal, decide ir para o grupo de suas amiguinhas e deixar ela sozinha até a hora do recreio acabar.

Hoje, seria a aula de culinária, então me dirigi a sala de aula, peguei o avental dentro da mochila e fui para a cozinha acompanhando a professora, porém querendo ir embora e chorar no colo de mamãe, mais deveria dar uma chance, era a primeira vez em na cozinha da escola.

- Na cozinha da escola - 

A cozinha tinha um tamanho modesto, tinha uma mesa grande, bastante utensílios de cozinha, como bandejas, travessas, ingredientes para a receita, fogão a gás, pia e geladeira, para utilizar na receita. A professora ao organizar todos em seus lugares, inclusive eu quem era uma das menores da turma, me sentei próximo ao fogão, já que era uma das melhores posições para a compreensão do que iríamos fazer hoje.

— Hoje minha turma querida, desenvolvi uma atividade legal para nós , vamos a aprender a fazer cueca virada!! — diz em tom enérgico para animar as crianças

Todos da turma —  YAY!!! —  com uma entonação entusiamada para pôr a mão na massa.

—  Nesse caso, essa receita é bem simples, acredito que vocês tiram de letra, eu vou dividir vocês em 2 grandes grupos, no caso como somos em 20, ficam 10 para cada lado e ai eu acompanho vocês e vou ter uma ajudante a Clara, que vai me auxiliar na receita e ficar de olho em vocês também —  diz em tom de piada porém com uma certa seriedade

Nisso, eu acabei de separando de Nathália, mas fiquei em um grupo que tinham as mesmas quantidades de meninos e meninas, e eu não tinha muita afinidade com eles, apenas com os outros, e ai os meninos começaram a me provocar de modo cruel.

— Agora você quer ser uma menina-macho, sendo astronauta —  soltou uma risada de desprezo —  que pena de você, daria apenas pra ser a esquisita mesmo.

Eu tentando ter auto controle, já que, precisava me enturmar e fazer a atividade, porém continuavam enchendo o saco.

—  Então, já que ela é uma anã, deve chegar no máximo próximo de uma estrela qualquer, uma pena, nem voltaria —  e olhando para mim rindo enquanto estava fazendo a atividade.

Como estava com a colher de madeira para misturar a massa, já estava brava o suficiente e respondi em alto e bom som —  SE É TÃO LEGAL DESTRUÍR O SONHO DOS OUTROS PORQUE NÃO PARA DE ME CHATEAR —  e no ápice da raiva acerta no braço do menino zueiro a porrada com a colher suja de massa de cueca virada.

Nesse estalo, a professora ao ver a cena e o berreiro do menino, me levou para a diretoria e levou o menino a enfermaria para ver se não tinha acontecido nada a mais, isso foi revoltante.

- Na diretoria - 

A professora abriu a porta para eu conversar com a coordenadora Fátima e ver o que fariam comigo, apesar que as coisas não estavam favoráveis ao meu lado, nervosa e com medo, fiquei com receio de contar qualquer coisa, foi a primeira vez que chorei sem a presença dos meus pais.

Enquanto estava tendo minha crise de choro, tentava explicar o que havia me chateado para não receber punição alguma — eu-eu-e-.... respondi daquela... forma... porquê ele estava caçoando de mim... por... querer —  tentando engolir o choro —  ser astronauta e isso me deixou brava.

—  Então, a sua reação foi bater no coleguinha porque ele foi malvado com você? —  diz a coordenadora em tom ameno 

 — S-S-Sim — diz secando as lágrimas e soluçando devido a tamanha pressão em contar o que afligia

A professora trouxe Marcos, o menino que estava junto com os outros tirando sarro de Florence, para ele se explicar porque estava fazendo aquilo

—  Então Tia Fátima —  em tom tímido — eu não acho certo uma menina querer entrar na área dos homens, ela devia fazer algo mais de menina. — diz em tom de desprezo.

— Marcos, —  diz a Fátima em tom sério —  as pessoas tem direito de sonhar o que elas quiserem, independente de ser de menino e menina, se ela quiser ver o mundo sendo astronauta que seja, mais não dá o direito de você zuar o sonho dela, sendo que isso motiva ela quando crescer se tornar isso. —  e manteve os olhos fixos em Marcos para ele entender a gravidade do que ele disse e se sentisse culpado pela chateação que causou em Florence.

—  Mas, não é certo, meu pai disse que isso é só pra meninos e não meninas! —  diz com os braços cruzados e contrariado em esboçar qualquer pedido de desculpas —  É a verdade! 

—  Marcos, peça desculpas a Florence, porque você a magoou, acredito eu que não gostaria que zombassem do seu sonho né? Já que você se inspira em alguma coisa, não acho justo só a Florence ser atacada aqui —  diz se virando de lado com os braços cruzados, tentando colocar panos quentes na história —  E ai? Vai esperar até quando para pedir desculpas a ela? —  indica para Florence, sentada ao lado dele.

Ele se vira para pedir desculpas com uma certa resistência —  Desculpe Florence —  em tom baixo porém contrariado.

Ao ter aceitado as desculpas e já estar de boa com a situação, a professora nos acompanhou para a cozinha novamente para experimentarmos a cueca que fizemos, então entrar na sala junto com o Marcos, não foi uma visão nada legal para Nathália.


A difícil vida de uma gostosaOnde histórias criam vida. Descubra agora