Termino

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< POV GG >

Acordei com o despertador marcando 6:30, tava na hora de começar a me arrumar para a gravação. Levantei da cama, minhas memórias de ontem estão tão embaralhadas, olho para as roupas de Ian todas dobradas na cabeceira da minha cama. Ainda não acredito que esteja acontecendo tudo isso.
Tomei um banho rápido e me arrumei casualmente, não precisaria me montar hoje, então, só passei um gloss na boca e me despedi da minha mãe para ir até o meu estúdio. Cheguei lá com um Uber, olhei para o estacionamento, a moto dele tava lá... Meu coração já nem palpitava mais. Com um rosto desanimado entrei no meu estúdio, todo mundo já tava trabalhando.
— Bom dia gente!!
Falei saldando todos.
Eles responderam de volta.
Tava todo mundo ligeiramente ocupado e andando de um lado para o outro. Comecei a preparar a garganta para começa a cantar, enquanto o pessoal preparava o beat da música, tava tudo certo.
Estava bebendo água quando escuto:

— Então, tudo pronto?
Me virei, era ele. Ian, meu coração errou as batidas quando viu ele, um sorriso apareceu em meu rosto. 
— Tá sim.
Ele sorriu, mas logo fechou a cara e desviou o olhar, aquilo doía tanto.
—Vamo Gloria?
Ruxell me chamou.
— Cla-claro.

Fui até o microfone e coloquei o retorno nos ouvidos. Escutei o beat do jeito que eu imaginava sair pelo fone. Comecei a cantarolar.
— Hoje a noite brilha
Mas nunca como o teus olhos, que me iluminam.
Hoje a lua deixou pra gente esse trabalho, de mostrar para o mundo quem tem essa luz...

...

Terminei de cantar as primeiras vozes e estavam fazendo umas correções de ruído e demos uma pausa.
Estava bebendo água quando Ian aparece do meu lado.

— Adorei a letra. Você realmente arrasa.
Eu apenas assenti com a cabeça, nem consegui olhar pra ele.
— Como você tá?
— COMO VOCÊ ACHA QUE EU TÔ?
Me exaltei. A cara dele continuava a mesma, ele estava tão pleno, parecia ter aceitado tudo e tava tudo bem.
— Estou indo. Seguindo com a vida... E você?
— Estou indo também... Só tô te lembrando, você e eu na sua casa.
Eu olho pra ele confuso.
— Pra conversar, e eu pegar minhas coisas.
Eu levantei meu dedo indicando que ele ficasse em silêncio.
— Vamos resolver isso lá, não aqui.
Me viro para seguir com as gravações.

...

Depois de mais umas três horas, eu estava me arrumando pra ir para minha casa.
Droga, tenho que falar com o Ian pra eu levar ele.
Pensei comigo.
Olhei para ele, ele estava vindo falando no celular. Terminando uma chamada.

— Tchau Hugo, vou passar pra deixar a chave.
Ele desligou na minha frente.
— Vamo?
Permaneci quieta.
— Você vai agora? Eu vou de Uber.
— Eu te levo.
Olhei para ele meio com desprezo.
— Você veio de moto, né?
Ele foi saindo.
Dei tchau a todo mundo e fui com ele para a moto estacionada.
Ele tinha com ele, um capacete reserva. Não sei se ele sempre teve, ou se ele comprou para o outro...
Ele sentou na moto e esperou eu ir, me sentei atrás e segurei na camisa dele, não queria muito contato.
Rapidamente, ele acelerou e primeiro passamos na casa dele, onde ele fez algo que eu não me importe, pois sabia que o outro estava na casa dele, acelerou a moto e já estávamos na frente da  minha casa.
Sai de cima da moto sem falar muito, peguei a chave e abri a porta, pelo visto, mamãe já tinha ido trabalhar. A casa estava silenciosa demais, talvez minha mãe não reagiria bem com Ian aqui, amava Ele... Mas depois disso, ela ficou mais fria quando eu a lembrava dele; o mesmo não falou nada, só me acompanhou para o quarto onde ele sabia muito bem onde era, pois passou muito tempo nele.

— Tá aqui sua roupa.
Disse colocando elas na mão e me virando pra ele.
Quando o olhei ele parecia admirar o quarto.
— Vai com calma Daniel, não quer conversar?
Abaixei a roupa e coloquei novamente na cabeceira.
Fiquei em silêncio. Esperando que o mesmo falasse, não consigo olhar a rosto, mas ele demonstra está tão nervoso quanto eu.

— A primeira vez, que eu conheci o Hugo, foi no trabalho. Ele me chamou pra sair com os amigos, ele sabia que eu era comprometido... Mas bebemos, e acabamos ficando.
Sorri.
— Então, na primeira vez... Você estava bêbado.
Olhei pra ele tentando segurar o choro.
— Eu não contei pra você, no tempo, porque fiquei com muita vergonha. Mas a segunda vez...
Ele deu uma pausa, como se estivesse revivendo aquele dia, pelo sorriso no seu rosto, parecia ter sido bom.
— Eu estava lúcido. Mas me deixei levar, e isso foi a gota d'água... Comecei a ficar mal, a parecer estranho quando te olhava e você tava todo apaixonado por mim e meus sentimentos não pareciam o mesmo.

Aquelas palavras me destruíram de tantas as formas.
— Não queria contar como tinha sido babaca, mas não queria deixar você sem explicação. Neguei o Hugo por algumas vezes, como eu te neguei também, estava confuso, Daniel. Você estava trabalhando, quando eu tentei conversar com ele, ele sentia o mesmo por mim. Eu gosto dele. O amo. E fiquei mais algumas vezes, eu o amo, do mesmo jeito que te amava. Por isso também estava contigo. Quando eu percebi, eu tinha te deixado de lado. Não queria te machucar mais. Guardei toda coragem pra revelar pra você o quão estúpidos eu fui, você não merece isso. Eu não consigo mais confiar em mim mesmo em relação a nós dois... Por isso. – ele pegou as camisas dele perto de mim. – Eu não quero mais isso, você já passou por coisa pior. Eu sou um babaca. Me perdoe.

Ele foi saindo do quarto. Me levantei da cama, e o segui calada, todas as respostas estavam alí, Eu vi ele pegando a moto e saindo dali.
A única coisa que eu consegui fazer foi chorar a tarde toda. Aquilo me doía tanto. Por que ele faria isso? Ele, ele... O homem que eu tanto amava. Me deixando pra nunca mais voltar. Nem entrei em rede social, nem nada, nem tive coragem de falar com a Flávia.
Peguei meu celular, fui no contato dele e apenas troquei o antigo nome para:
Ian Perucas.

Era isso, era a única aproximação que eu queria ter, profissional. Adiei algumas coisas e publis porquê eu realmente não tava bem, nada bem....

Tua Voz, Meu VícioOnde histórias criam vida. Descubra agora