CAPÍTULO O1.

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O1. "Proposta doida."

Kiara soube estar com problemas no momento que a coordenadora de seu curso a chamou para ter uma conversa; seus óculos de armação redonda e sua pequena estatura sempre eram características na mulher que gerava comodidade entre esta e os alunos do curso, ainda assim, a estudante se sentiu ameaçada quando entrou na sala estreita e bem organizada, considerando que nunca havia sido chamada daquele jeito para se sentar no pequeno espaço. E estava certa, no final, visto que foi informada de que sua bolsa tinha grandes chances de ser cortada pela metade.

Ela devia ter adivinhado, parecia bom demais para ser verdade se formar em uma universidade prestigiada de New York com uma bolsa de 60%. Devia ter cogitado a possibilidade após ouvir relatos de estudantes que tiveram sua bolsa cortada integralmente naquele ano, por conta da crise financeira que a universidade estava passando. É, podia ser pior.

Mas tal pensamento não pareceu aliviar o desconforto e embrulho no estômago que perdurou durante o resto de suas aulas na manhã, a voz estridente da Sra. Pezberry ecoando em sua cabeça:

"Sinto muito, Senhorita Carrera, saiba que você é uma aluna dedicada e temos muita sorte de a termos aqui conosco, mas não é minha escolha e não tem nada certo ainda, só achei importante avisar para poder se preparar caso o pior aconteça."

Ao menos a pequena professora parecia ter mais empatia que os idiotas que estavam pensando em cortar sua bolsa sem piedade.

A estudante apertou o botão de seu andar no elevador distraidamente enquanto tais dizeres ainda preenchiam sua mente como agulhas desconfortáveis e irritantes perfurando seu cérebro, queria saber desligar suas preocupações de vez em quando, mas Kiara só conseguia pensar na cara de seus pais quando contasse a notícia, no quanto eles sacrificaram para a trazer até ali e no quanto ela se esforçara para pagar as parcelas da faculdade sozinha. Tudo poderia ir para o ralo agora.

Antes que as portas do elevador pudessem fechar completamente, uma mão surgiu do além e sobressaltou a jovem quando um corpo de estatura mais alta adentrou o estreito cubículo. Ele cheirava a vodca e fumaça.

— Quase meu braço é partido pela metade, mas não foi dessa vez. — A voz ecoou alta no pequeno espaço, preenchendo-a com a inquietude do loiro que mal conseguia se manter parado no próprio lugar.

Kiara não gostava de julgar; não na maioria das vezes, ao menos, visto conseguir muito bem praticar seu julgamento em qualquer um que não tivesse a menor preocupação com o meio ambiente ou com direitos humanitários. De qualquer forma, ela não queria julgar o vizinho do 304, não totalmente. Mas quando estava retornando de uma manhã cheia de aulas e esforço para se concentrar em tirar notas boas, sendo recompensada com um corte pela metade na sua bolsa, era muito difícil não julgar o loiro que só aparecia no prédio vindo amanhecido e bêbado de farras e que, provavelmente, nunca aguentara assistir uma aula inteira da faculdade. Somente sabia que ele estava na mesma universidade porque já o vira lá - duas vezes apenas, em dois anos. Privilégios de ser filho de um dos melhores advogados da América, não era? Nunca arcar com nenhuma consequência, devia ser bom ser um estudante branco e rico — e bonito, com muito contragosto ela tinha que admitir. Bem, Kiara tinha seus motivos para o julgar, para dar um sorriso contido e nada sincero para a brincadeira do rapaz e permanecer sem puxar nenhum assunto.

Então era meio óbvio que a viagem curta até o terceiro andar ia ser preenchida por um silêncio constrangedor e alguns minutos arrastados que Kiara ficou feliz quando acabaram. Ela passou reto até o apartamento 303, mas o barulho de chaves caindo a distraíra e seu olhar pousou na silhueta do loiro na porta do 302.

Um Contrato Para Amar • JJ & KiaraOnde histórias criam vida. Descubra agora