21 | MUSIC.

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06/11

𝐀𝐍𝐘 𝐆𝐀𝐁𝐑𝐈𝐄𝐋𝐋𝐘
"Hey you with the red dress on"

Josh saiu do hospital após dois dias, visto que sua recuperação foi positiva e ela não sentia muitas dores, a não ser o incômodo dos curativos na barriga. Ursula estava devastada, o que era completamente esperado, afinal o marido e o amor de sua vida tinha morrido.

O Josh que eu conhecia antes do assalto era completamente diferente do Josh depois que saiu do hospital. Agora ele era calado, introvertido, frio e em seu olhar habitava pavor e angústia. Tentei a todo custo me aproximar dele e conversar, mas ele me afastou em todas elas.

Hoje era o dia do velório de Mark e todos estávamos a caminho da igreja para em seguida ir para o cemitério, onde um homem cheio de saúde e vida iria ser enterrado por um ato de covardia. Fiquei perto de Ursula o tempo todo, segurando em sua mão e dizendo que eu estava ao seu lado.

Josh andava com dificuldade mas não quis ajuda alguma para se locomover. Eu entendia as suas atitudes, mas ele tinha que entender que a culpa não tinha sido dele, mas sim do pai.

Chegamos na igreja por volta das três da tarde. O local estava repleto de pessoas vestidas de preto e vindo prestar sentimentos a Josh e Ursula. A mais velha desmaiou duas vezes e teve que ser amparada por uma ambulância que foi até o local e queria tirá-la dali, mas Josh exigiu que a mãe ficasse.

Nos sentamos nos bancos da igreja e esperamos o pastor falar algumas palavras a respeito de Mark. Tudo o que eu tinha ouvido de Josh a respeito dele era verdade. Mark sempre tentou ajudar a todos ao seu redor e fez com que Josh se sentisse amado, mesmo não sendo seu filho de sangue. Após terminar, o pastor chamou Josh e Ursula para dar algumas palavras.

Josh levou a mãe até o púlpito e segurou em sua mão enquanto ela pegou o microfone vagarosamente e enxugou as lágrimas em um lencinho.

— Depois do meu filho, Mark era tudo o que eu tinha de mais precioso nessa terra. — Ela começou e enxugou mais lágrimas que caíam descontroladamente. — Eu sinto como se uma parte do meu corpo tenha sido arrancada e levada junto com ele... Nunca vou poder ser mais grata a Deus por ter me dado um homem tão bom e que acolheu o meu filho como se fosse o seu filho. Mark era um homem bom não só para mim e para Josh, mas para todas as pessoas que tiveram o prazer de conviver com ele. Espero que um dia possamos nos reencontrar na eternidade. — Ursula terminou e desabou em lágrimas mais uma vez, seguida de outras pessoas que estavam na igreja e dos familiares de Mark que estavam sentados do lado esquerdo do local.

— Eu sempre falei para ele que ele foi o pai que eu nunca tive. — Josh começou. — Se hoje eu estou onde estou, é por causa dele e da minha mãe. Mark sempre apoiou meus sonhos e me incentivou para que eu corresse atrás de todos eles de forma honesta e digna, e sempre me ensinou que eu podia ser o que eu quisesse ser, bastava confiar em mim mesmo. Hoje eu percebo que ele era tão bom que Deus quis que ele fosse morar com ele mais cedo do que deveria, Mark deve estar feliz aonde quer que esteja. — O loiro terminou e seus olhos estavam vermelhos como fogo, culpa das lágrimas. Ele deu alguns passos e se sentou ao meu lado, procurando minha mão e quando a encontrou apertou fortemente.

Mais algumas palavras e em seguida todos nós nos dirigimos até o cemitério. Fiz questão de estar ao lado de Josh e Ursula o tempo todo, deixando claro que eu estava os apoiando e que eles podiam contar comigo para qualquer coisa.

Assim que chegamos ao local, o clima era de total comoção e tristeza, e quando o caixão foi colocado dentro do buraco grande na terra o pastor falou as últimas palavras e depois tudo foi finalizado. Josh apertou minha mão mais uma vez e eu passei a mão livre em suas costas.

Saímos e fomos para a casa de Ursula. Ela se trancou no quarto e não quis sair para nada, e Josh não disse uma palavra.

— Você quer um chá? — Perguntei, me sentando no sofá ao lado dele.

Ele não me respondeu. Estava perdido em seus próprios pensamentos e eu preferi deixá-lo assim. Não fazia ideia do que se passava na cabeça dele, mas tinha certeza de que ele pensava em como o pai tinha destruído tudo mais uma vez.

Tomei um banho relaxante e peguei um dos meus pijamas da bolsa que tinha trazido para cá. O nosso plano inicial era de vir para almoçar com Ursula e Mark e ir embora no final da tarde, mas tivemos que reorganizar absolutamente tudo por causa dos acontecimentos. Iríamos embora em dois dias e Josh queria que a mãe se mudasse de casa, mas a mesma disse que iria permanecer pois tinha vivido momentos únicos e incríveis com Mark.

Decidi deitar na cama e ler um livro pelo kindle quando ouvi a porta ser aberta. Josh estava vestido com um short e uma blusa e seus cabelos estavam molhados, recém saídos do banho.

— Eu posso dormir com você? — Ele perguntou e sua voz falhou.

— Claro que sim. — Falei e ele andou até se aconchegar ao meu lado na cama. Abracei seu corpo e ele envolveu seus braços na minha cintura, e eu podia sentir sua respiração pesada se chocando na blusa do meu pijama.

— Any?

— Hum?

— Eu ainda não acredito que ele se foi. — Josh falou e imediatamente larguei o kindle em cima da mesinha de cabeceira e me aconcheguei mais nele.

— Eu sei o quanto ele era especial para você, meu amor. — Alisei seus cabelos. — Você não precisa falar nada agora, tudo bem? Tem todo o direito de sofrer e sentir essa dor insuportável.

— Só de pensar que eu poderia ter te perdido também... — Josh falou e as lágrimas começaram a descer dos seus olhos. — Eu não sei o que eu faria se você também tivesse partido, Elly.

— Shiu... — Passei a mão em suas costas, que já subiam e desciam pelo choro descompassado. — Eu estou aqui, certo? Você não vai me perder.

— Eu te amo tanto, Any... — Ele disse em meio ao choro. — Você é importante demais para mim.

— Você também é, meu amor. Lembre-se sempre de que somos uma dupla, independentemente de estarmos juntos ou não. — Beijei o topo de sua cabeça.

— Você pode cantar uma música? — Josh pediu e me assustei com o seu pedido repentino.

— Josh... Eu não sei cantar, minha voz é péssima.

— Tenho certeza de que não.

Suspirei. Tentei pensar em uma música que fizesse com que ele ficasse calmo e respirei fundo antes de cantar o primeiro verso.

Minha voz preencheu o ambiente baixinho e continuei a acariciar os cabelos de Josh, que tinha as lágrimas mais controladas agora.

Cantei apenas um pouco pois era totalmente insegura com a minha voz mas pareceu ser o suficiente para Josh, pois o mesmo havia parado de chorar e estava dormindo. Decidi me juntar a ele e adormeci após alguns minutos.

𝗿𝗲𝗱 𝗱𝗿𝗲𝘀𝘀 | 𝗯𝗲𝗮𝘂𝗮𝗻𝘆 ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora