when all those shadows

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Pov Soluço.

Há alguns momentos na vida onde nós podemos sentir perfeitamente que algo de ruim está prestes a acontecer.

Como quando se coloca um vidro de uma substância inflamável perto de uma fogueira ou tenta mexer com os ovos de uma mamãe dragão. Há também os momentos onde você percebe que a sela do seu dragão está muito gasta tarde demais ou que talvez você não devesse ter falado para sua vizinha que já te odeia que os sabonetes dela são fedorentos.

Essas situações, porém, nem ao menos chegam perto de uma verdadeira sensação de mau presságio. De medo do futuro, do que pode acontecer. Quando, de repente, a imagem que você criou dos seus próximos dias, meses e anos se torna nebulosa outra vez. Pensei em Jack ontem à noite, que pareceu sentir isso na pele com o que quer que a Lua tenha falado para ele.

Mas, diferentemente dele, eu não precisei que ninguém me alertasse de nada para ter essa consciência. 

Apenas precisei colocar os pés dentro de casa. 

Porque assim que nós passamos pela porta de madeira foi impossível não notar a figura gigante e imponente parada no meio da sala, parcialmente iluminada pela luz da fogueira. Ele estava de costas para a porta, mas era óbvio, tanto por ser incrivelmente incomum que estivesse em casa àquela hora quanto por sua postura tensa, que estava esperando alguém. Esperando a mim.

Engoli em seco. 

Ele se virou para nós, nos observando em silêncio por longos segundos antes de fixar os olhos em Jack.

— Jack — começou, e instintivamente me aproximei do meu namorado. Porque Stoico estava usando sua voz grave e séria de Líder de Berk, e ela nunca significava boa coisa. Eu já não a ouvia há muito tempo. — Você pode nos deixar a sós por alguns minutos? Eu preciso conversar com meu filho. 

Olhei para Jack, quase pronto para implorar que ele não me deixasse sozinho. Mas Jack estava olhando para meu pai com os olhos de cristais semicerrados em desconfiança, os lábios pressionados em uma linha fina. Essa expressão, no entanto, durou apenas um piscar de olhos. Ele logo estava sorrindo despreocupadamente para mim, como que para me transmitir força e coragem, e começou a caminhar em direção a cozinha.

— Certo, vou deixar vocês com seu papo de pai e filho super sério e confidencial e tudo o mais. Enquanto isso vou preparar o nosso jantar, já que eu sou o único cozinheiro decente dessa casa.

— Ei — meu pai franziu as sobrancelhas grossas e espetadas, por um momento parecendo distraído de nossa conversa iminente. — Eu cozinho bem também! E, aliás, fui eu quem te ensinou a cozinhar!

— Uh, fica frio, sogrão — Jack sorriu com deboche, e eu reprimi uma risada quando ele assoprou uma lufada de neve na barba ruiva quando passou por meu pai. — Mas essa gororoba que vocês chamavam de comida realmente ficou melhor depois que eu assumi a cozinha. E olhe que eu nunca tinha cozinhado na vida.

Jack então nos deu as costas e continuou caminhando, e eu pensei que teria que agradecê-lo depois por sua personalidade petulante que me deu coragem para encarar o que estava prestes a acontecer.

Então meu pai se virou para mim.

— Vamos fazer uma caminhada lá fora — falou.

Girei nos calcanhares e voltei a atravessar a porta, sabendo perfeitamente que nós só estávamos indo fazer essa “caminhada” porque ele não queria correr o risco de Jack nos escutar. E, se ele estava tomando essa precaução, então consequentemente era algo sério de verdade.

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