Ângela - 5

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A melhor parte do dia para Ângela era quando o sol caia e a noite chegava e com ela o silêncio. Tinha um conforto que a escuridão trazia. A noite era o momento que ou todos estavam no conforto da sua casa aproveitando o silêncio das suas formas próprias, ou saindo, tornando elas igualmente quietas.

Pegou um dos vários livros que tinha no estante lateral que ficava no lado da cama e começou a ler um dos seus livros favoritos, mas então o seu celular começou a tocar sem parar e quando ela foi pegar o dispositivo viu uma mensagem "me liga" de Emylie.

- O que aconteceu?

- Um agente da polícia acabou de sair daqui, precisa fugir o mais rápido possível - Escutava vários barulhos de coisas sendo movimentadas pelo chão - Tenho certeza que não vai demorar muito parar eles descobrirem o que comunicados Ângela, ele chegou a questionar por você. Sei que não pode ser nada, mas mesmo assim ...

- Se fugirmos agora vai ficar muito evidente nossa culpa, siga o nosso plano e devolva como roupas de volta para o armário. Ângela Montclaire não se rende fácil.

Colocou o celular fragmento novamente no criado-mudo e começou a fechar os olhos respirando fundo. Não foi a primeira vez que cometeu um crime e, talvez não fosse à última. A primeira vez foi quando ela tinha 12 anos, quando ela decidiu dar um basta na vida abusiva que estava vivendo. Era abusada pelo pai e a mãe era conivente com a situação deplorável, uma noite pediu para os pais para dormir no apartamento de uma amiga do mesmo prédio. Ângela voltou de madrugada para o próprio apartamento, ligando o gás de cozinha e ateando fogo no apartamento com os pais dentro.

Ninguém suspeitou dela, não quando em tese era para ela estar no apartamento de uma amiga naquela noite. Todos encararam aquilo como um milagre, ninguém iria desconfiar que uma garota de apenas 12 anos pudesse ouvir fogo e matar seus próprios pais carbonizados.

A repulsa por toques de homens se revelou evidente conforme vivia a vida, o trauma que os pais provocaram persistia e talvez nunca fosse de fato abandonar sua vida. Tudo bem, ela conseguiu seguir a vida mesmo com o sombrio passado. Não permitiria que pessoas que já fizeram mal a ela prejudicassem seu presente e muito menos o seu futuro.

John Carter mereceu morrer. Ele não passava de outra maçã podre existente no mundo.

Então pegou as chaves do carro e dirigiu até a casa de Emylie, tentando impedir que a amiga estragasse tudo que planejou durante semanas. Batendo no portão e esperando que a amiga recebesse naquela noite fria.

- Ele sabe - Ela disse com convicção - Ele apareceu aqui falando da morte do João como se eu fosse o alvo número um e estava com um dardo na mão pronto para atirar.

Ela se sentou no sofá confortável de Emylie e respirou fundo.

- Emylie às vezes você não pode deixar ser levada tão fácil pela situação. Tem uma frase que eu gosto muito "inocente até que se provo o contrário" e querida, posso afirmar que eles não vão ter provas.

- E aquele garçom que entregou o bilhete? Ele não poderia relatar aos agentes da polícia sobre uma garota de cabelo castanho e olhos do mais azul intenso entregou um bilhete naquela festa justamente ao homem que foi instalado no terraço?

- Por Deus Emylie, acha mesmo que iria ser tão estupida de deixa-lo viva? Obvio que ele já está morto faz tempo. Acabou "escorregando após sair do banho e morreu com uma fratura craniana".

Emylie fez uma careta e se jogou finalmente no sofá encobrindo o rosto com as mãos.

- Acho que matar John foi uma péssima ideia. - Ângela foi para perto da amiga e olhou dentro dos olhos âmbar dela.

- Ruínas de pessoas devem pagar pelo que fizeram. John mereceu o destino que teve e agora você vai poder começar uma vida nova, mas se você simplesmente sair da cidade agora, ai sim os policiais vão ter motivos para acharem que foi você. Precisamos ficar nessa cidade durante um tempo e depois começarmos do zero em outro lugar.

- Aquele Agente não vai sair do meu pé tão cedo - Emylie entregou para ela o cartão do "Agente 53".

Ângela sorriu com o cartão maquinando um plano.

- Ótimo, deixe ele bem grudado no seu pé. Tenho um plano. 

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