POESIA

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O café-da-manhã tinha passado de forma silenciosa na maioria do tempo. Ocasionalmente houve um comentário ou outro de seu irmão e seus pais, mas, se manteve calada.

Arizona não estava com humor para nenhum tipo de conversa. Quando um deles perguntava-a se estava bem, de imediato respondeu com um simples "sim" afim de evitar uma extensão do assunto. Bem, pelo menos fez o máximo possível para evitar.

— Zona, filha... O que pretenderá fazer com seu tempo livre hoje? – Questinou a rainha, querendo trazer algum assunto em relação a ela.

— Não sei. Talvez eu vá na biblioteca ler algo, sei lá. –  Respondeu desinteressada.

E foi só.

Callie se mantiverá em seu lugar, atrás da princesa, sua expressão impassível. Internamente, a latina estava magoada, só que percebeu que, em sua posição, não tinha direito de ficar.

Reparou que mulher tinha um jeito um pouco, difícil. E escondia algo por trás de sua pose, sentia isso nas palavras que eram direcionadas a ela.

Mas logo se acostumaria.

Pensou se devia ou não seguir a princesa quando a mesma terminasse de comer, mas parecia que a loira já tinha tomado a decisão, quando levantou-se.

— Estou satisfeita, obrigada. – Disse a um dos servos responsável por trazer a comida. — Vou indo. Se vocês me dão licença.

— Toda, minha filha. Tenha um bom dia! – Desejou o rei.

— Obrigada, papai. Tenham um bom dia vocês também. – Declarou, e virou-se para sua serva. — Calliope, venha. – Ordenou, seguindo seu caminho em silêncio para a biblioteca.

Elas entraram em um salão, com enormes janelas e cortinas de veludo vermelhas, poltronas localizada em frente à uma lareira, uma mesa de leitura no centro e claro, diversas estantes e prateleiras de livros. Muitos, muitos livros...

Arizona parece ter em mente o que ler, pois foi diretamente em uma das prateleiras e tirou um livro, sem pestanejar.

— Você sabe ler, Calliope? – Perguntou, virando-se para vê-la.

— Sim, alteza. Eu tive ótimos professores na minha adolescência e sempre fazia questão de ir a biblioteca. – Forneceu.

— Certo. – Encarou-a, a latina estava imóvel em seu lugar, olhando as estantes de livros, com os braços cruzados atrás das costas. Inconscientemente, a loira pensou que talvez pudesse lhe dar alguma folga pela explosão de hoje cedo. — Escolha um livro e sente-se, pretendo passar um bom tempo aqui dentro.

E era verdade, a biblioteca é uns dos poucos lugares que conseguia relaxar.

A jovem Torres, surpresa pela atitude, a olhou rapidamente, como se estivesse perguntando se a mesma tinha realmente certeza daquilo. Arizona simplesmente acenou com a cabeça, e a latina, temida que pudesse mudar de idéia, fugiu em direção a sessão de poesia.

Seus grandes olhos castanhos brilharam quando ela pareceu achar um livro de seu agrado.

Callie retornou com ele em mãos e sentou-se no carpete felpudo, ao pé da poltrona que a princesa estava sentada.

Passaram-se algumas horas em que ambas mantiveram-se entretidas em suas leituras. Entretanto, vez ou outra, Arizona desviava sua atenção para serva, que estava completamente alheia de seus olhares, vidrada no que lia.

— Você gosta de poesias, Calliope? – Indagou, com uma sobrancelha arqueada, ganhando a atenção da latina.

— Sim, alteza. Sempre gostei! – Ela franziu o cenho enquanto pensava um pouco antes de voltar falar. — Quando eu era mais jovem, minha mãe sempre me incentivou a ir para as artes. Ela pagou excelentes professores para que me dessem aulas extras de canto, música e literatura.

— Isso é um grande privilégio que você pôde prestigiar. – Sorriu de canto, mirando o nada. — A arte é uma das poucas coisas que pode-se notar em praticamente tudo que vemos. – Declarou voltando a observar a morena.

— Reconheço. E o amor dela era tanto, que escolheu meu nome em homenagem à deusa mitológica da música e da poesia. – Sorriu tristemente pela lembrança de sua mãe. — Me falou que o significado é bela voz. – Suspirou. — Vivia dizendo também que a poesia era simplesmente a alma do poeta registrada em uma tinta no papel. Que toda e qualquer poesia, por mais simples que fosse, revelava parte de alguém. Porque poesia não é apenas um conjunto de versos e rimas, poesia é puro...

— Sentimento. – Arizona completou, intensificando seu olhar na mulher que mirava o livro nas mãos.

— Isso. – Susurrou, permanecendo com a cabeça baixa.

Se mantendo calada, a loira registrou as palavras de sua serva. As orbis azuis pareciam querer penetrar na latina e o silêncio desconfortável se instalou entre as duas.

Callie prendeu a respiração interpretando errado a quietude da princesa e ficou de joelhos na frente dela.

— Desculpe-me alteza. – Pediu.

Arizona inclinou a cabeça, em confusão. — Por que estás me pedindo desculpas, Calliope? – Indagou completamente sem entender a atitude dela.

— Falei mais do que a senhorita me autorizou a dizer. – Justificou.

Automaticamente a loira revirou os olhos pelas palavras ditas.

— Você não tem que se desculpar por aquilo que não fez, Calliope. Eu lhe perguntei sobre. – Afirmou. — Além disso, foi uma história interessante. Sua mãe deve ter sido uma mulher inteligente e sábia. – Meditou.

Neste mesmo estante, a latina quebrou uma das regras impostas à servidão, quando seus olhos de tom chocolate encontraram os azuis penetrantes, sem reservas. A tristeza profunda presente neles foi algo que Arizona nunca tinha visto, o que a pegou de surpresa. Não esperava ser afetada, porém a dor ressaltada atingiu-lhe como um soco no estômago.

Engolindo seco, Callie conseguiu responder. — Ela foi alteza, ela foi...


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Será que teremos uma trégua entre elas? até eu torço por isso.

Me deixem saber o que estão achando, por favor. Espero que estejam gostando do que estão lendo.

Beijos! CS.

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