Turco enrolou e enrolou pra falar e até agora não chegou onde o assunto fica interessante, só soube contar de uma chuva forte que teve, coisa que a gente já sabia. Ele tava contando da chuva como se fossemos de outro planeta.
- Vai fala o que tá acontecendo ou vou ter que tirar sua língua fora? - Victor cobrou a parte importante pela terceira vez.
- Cara eu só queria te pedir uma ajuda, a escolinha aqui da comunidade caiu pela estrutura mal feita mas eu to sem grana pra refazer - explica - As crianças estão tudo em casa e as mulheres não saem pra trabalhar porque não tem ninguém pra cuida.
- Já fez pelo menos a planta da escola?
- Já tá tudo certo.
- Então o problema é o dinheiro.
- Por isso te chamei..
- E cadê?
- Persa, pega o projeto lá - a mulher que foi lá na mansão vai até a estante e pega um cartaz - Quando uns filho da puta me pagar eu vou te devolvendo a grana.
Victor pega o cartaz e abre colocando ele no nosso colo, aproveitei pra olhar porque não sou besta. A creche não é tão grande, ela inteira só da a sala da casa do Victor e olhando assim ela é linda e bem aconchegante pra todo mundo. Quando desci o olho pro canto da folha quase engasguei com o preço.
- A gente tem 30 mil investido mas o resto que é difícil - Turco explica.
Victor bebeu a cerveja olhando pro papel deixando o clima tenso.
- Tá pode fazer - olho pra ele surpresa.
No final ficou $ 100.000,00 pro Victor dar.
- Oh meu chefe valeu mesmo cara - respira aliviado.
Victor enrolou a cartolina de novo e entregou ela pra tal de Persa que saiu logo em seguida. Achei legal da parte dele fazer a escolinha mas é muito dinheiro, veio na minha cabeça que o Victor até tem o dinheiro de sobra mas esse Turco não vai ter pra pagar e isso vai dar um ruim.
Eles ficaram um tempo conversando e eu fiquei só do lado do Victor sem falar nada.
- E o Russo ainda tá contigo? - Turco pergunto.
- É, ele tá.
- Beatriz continua a mesma né não?
- Continua, só mudou as roupas mas é a mesma garota.
- Será que ela sabe dança ainda? - um dos cara diz rindo.
- Fala isso perto do Russo, tenho certeza que você leva uma bala na cabeça - diz sério e o cara para de rir.
Ele virá logo terminando a cerveja e deixa a garrafa na mesinha.
- Clark tava perguntando de você esses dias atrás - Victor arqueia a sobrancelha.
- Quem é Clark?
- Da escola, que era sua namoradinha antes - ele explica e Victor da risada.
Meu Deus.
- Sei, a rata e ela tá aqui ainda?
- Todo mundo tá aqui Dk, só você que ficou rico e vazou.
- O irmão dela tá aqui ainda?
- Tá no hospital, caiu de moto semana passada.
- Senti saudade de morar aqui não Dk? - o cara pergunta.
- Nem um pouco.
- Ele mora em uma mansão que é do tamanho de um colégio e você acha que ele senti falta desse muquifo?
Meu braço tava dormente já com peso do braço do Victor encostado em cima, tirei ele e não tinha onde colocar. Apoiei meu antebraço no ombro do Victor e ele nem percebeu.
- Sinto falta do futebol só.
- Sabe quem faleceu? A dona Guti.
- Da venda de doce?
- É.
- Morreu porque? - Victor pegou minha mão que tava pendurada no ombro dele.
Olhei pra ele estranhando mas ele tava tão vidrado na conversa que nem deve ter percebido. Pelo menos era o que parecia.
- Câncer.
- E a filha dela?
- Caso e foi embora.
- Logo ela?
- Pois é, logo a que todo mundo pegou - Turco ri.
Que horror, conversa desnecessária.
- Me tira disso aí.
O celular dele apitou vibrando na minha coxa nos fazendo olhar pra baixo, foi só ai que ele percebeu onde a mão dele tava e soltou minha mão na hora.
Acabei vasculhando e vi que era uma mensagem do Russo, quando fui ler Victor desligou o celular deixando ali mesmo e foi até o Turco.
- Eu tenho que ir.
- Já vai meu rei? - ele levanta e eles batem as mãos.
- Levar ela embora e o Russo tá lá em casa também - ele olhou pra mim - Vamos?
Peguei o celular dele e levantei do sofá, Turco beijo minha mão e Victor me guiou pra fora. Fomos pra área daquela piscina lá que tava rolando o furdúncio de bunda e peito, nada contra favela mas confesso que não via a hora de sair desse lugar.
- Ah mentira - uma voz enjoada brota atrás da gente - Dk em carne e osso aqui? - a mulher grita.
Ele para de anda e segura meu braço me fazendo parar também. Olhamos pra trás avistando uma mulher bonita que estava vindo, cabelos rosas corpo definido com um belo biquíni preto e salto.
- Oi Clark - ele diz e ela quase se abre toda.
Então essa é a rata.
- Caralho mas você continua lindo em, ganhando respeito de todo mundo aí tocando o terror - diz tocando o peitoral dele.
- Pois é né.
Ela percebeu minha presença e desceu olhar pro meu braço onde ele segurava.
- Opa, e essa aqui quem é? - ela vem até mim.
- Mariana - respondo.
- É um prazer - ela me da um beijo na bochecha me marcando de batom - Nossa em, se superou agora - diz depois de um tapinha no braço do Victor me analisando e balançando a positivamente.
- Rata tenho que ir.
- Mas já? A festa mal começou.
- Tenho outras coisas pra resolver.
- Ok então, tchau - ela passa a mão no braço dele - Tchau moça bonita.
- Tchau - digo e Victor me puxa dali.
Finamente descemos as escadas e fomos pro carro, que lugarzinho conturbado esse. Tava rezando mentalmente pro Victor não resolver ficar pra curtir seus amigos antigos..
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Querida Mariana
Action+16 | Mariana, uma menina ingênua, pelo menos era aos seus 12 anos, vivenciou a pior cena que uma criança poderia presenciar. Seus pais sendo mortos na sua frente, executados por uma máfia temida e respeitada por muita gente. Hoje em dia já crescid...