Draco
Teatro.
Essa é a palavra que descreve minha família.
Tudo não passa de como as pessoas nos vêem, de manipulá-las para acharem que somos perfeitos e se por um acaso eu sair desse papel minha vida passaria a ser um inferno.
Fui ensinado desde muito cedo a manter a máscara fria dos Malfoy, de desinteresse e insignificância para todos aqueles que julgamos não serem os melhores.
Sempre fui o melhor nas aulas, no futebol, no box, na aula de tiro, de natação, de violino, de piano. Eu tinha que ser melhor, mesmo se meus dedos sangrassem por causa do violino, se meu corpo estivesse ardendo por causa do sol forte da piscina ou se minhas costas estivessem doendo por causa de cinco horas seguidas treinando piano.
E eu era o melhor. E tudo isso para que? A resposta, meu pai, ele gostava de se gabar para seus amigos, de falar que eu era melhor que seus filhos.
Que eu era um herdeiro Malfoy perfeito.
E eu era.
Eu tinha onze anos a primeira vez que presenciei minha mãe apanhar.
Estava passando pelo corredor quando escutei os gritos dele, a porta onde ficava o escritório do meu pai, que minha mãe sempre me aconselhava a nunca entrar, estava encostada, minha curiosidade foi maior. Quando olhei pela fresta percebi que os gritos eram direcionados a minha mãe, e ela estava com uma expressão de raiva e desgosto no rosto.
Ela começou a gritar também e eu não consegui entender direito sobre o que era, mas quando ele levantou a mão e lhe deu um tapa e então eu percebi que tudo aquilo que vivi foi uma mentira.
O bom pai que se orgulhava da família, que falava o quanto sua esposa era maravilhosa para os sócios, o quanto seu filho lhe orgulhava não passava de uma farsa.
Teatro.
Então quando eu vi o tapa a verdade caiu sobre mim como um balde de água gelada.
Raiva.
Eu senti raiva, e quando se está com raiva não pensamos direito. Com impulsividade abri a porta e gritei com meu pai, gritei para ele não bater nela.
Lógico que ele não ficou muito feliz com minha interrupção e veio em minha direção, naquele dia, naquele maldito dia eu percebi que meu pai era um grande filho da puta. E como um filho da puta ele pegou sua bengala e me bateu acertando minha costelas.
Minha mãe tentou me defender mas ele a acertou também. Quando eu perguntei o porquê ele estava fazendo aquilo comigo e com minha mãe a resposta dele ainda ecoa em minha mente.
"Porque eu posso".
Desde então eu parei de fingir. Parei de tentar ser perfeito em tudo.
Abandonei as aulas de violino e natação, claro que meu pai não ficou muito feliz o que me rendeu uma surra e duas semanas comendo somente na escola.
Mas eu estava melhor, estava contente comigo mesmo de fazer finalmente o que eu queria mesmo que isso resultasse consequências.
Mas o limite para meu pai foi quando ele descobriu que eu era gay. Ele ficou furioso, me trancou no quarto e me bateu falando que eu era a desgraça para minha família, para meu sobrenome.
Ele me obrigou a viver aquele teatro de novo, me forçou a conviver com pessoas insuportáveis de filhos mais insuportáveis ainda.
Mas agora as coisas estão diferentes, eu não sou mais aquele muleque magricela que tem medo do pai.
Então quando eu cheguei de madrugada em casa e escutei minha mãe gritar eu sabia o que estava acontecendo.
E eu percebi que agora eu conseguiria ajudar minha mãe.
Os barulhos vinham do maldito escritório dele, apressei o passo e abri a porta com força, mas nada me preparou para aquela cena.
Minha mãe com sua blusa rasgada sendo segurada em pé, pelos cabelos, por ele.
Eu não iria mais aturar isso, não iria mais abaixar a minha cabeça porque minha mãe pediu, não era mais um criança que tinha medo de ficar preso no porão, e o mais importante eu ia meter um soco nesse desgraçado.
Sem dizer nenhuma palavra fui pra cima dele que jogou minha mãe no chão. Não prestei atenção no que ele gritou e isso pouco me importa.
Com minha mão direita acertei o rosto dele tão forte que o tombou pra trás, e olhou pra mim incrédulo, e pela primeira vez eu vi meu pai com medo, e o mais importante ele tinha medo de mim.
- ESCUTA AQUI SEU FILHO DA PUTA - me aproximei dele lhe acertando outro soco no rosto - VOCÊ. NUNCA. MAIS. VAI. TOCAR. NELA - a cada palavra proferida eu lhe acertava um soco nas costelas.
Ele tentou me acertar com um tapa, que patético, segurei ele pela sua camiseta e lhe joguei contra a escrivaninha a derrubando junto.
Me viro para trás e percebo que minha mãe está no chão na mesma posição de quando caiu.
- Mãe, você está bem? - pergunto preocupado. Ela acena confirmado com a cabeça.
- Consegue levantar? - pergunto me aproximando dela. Ela confirma novamente.
Ajudo ela a se levantar, andamos até a porta e de repente ela para, olha pra mim e acena com a cabeça pra trás.
- O que foi? - pergunto pra ela que indica meu pai com a cabeça.
Ele está caído sobre a escrivaninha no chão, agora que eu percebi, ele está desmaiado.
Eu desmaiei ele no soco.
Bem feito, devia ter batido mais.
Merda.
Quando ele acordar...
- Vamos embora - minha mãe diz interrompendo meus pensamentos - Vamos arrumar as malas, não passo mais nem um dia nessa casa.
Subimos para seu quarto. A ajudei a limpar o rosto e arrumar suas coisas, depois fui em direção meu quarto.
Sempre detestei essa casa, os corredores escuros cheios de quadros de pessoas estranhas da família Malfoy.
Os rostos dos homens loiros e velhos sempre me deram nojo, talvez seja porque eles eram estranhos ou porque lembram meu pai. Acho que um pouco dos dois.
Chego em meu quarto e logo me deparo com uma bagunça sem fim.
A cama fora do lugar, as roupas jogadas no chão, os meus materiais escolares rasgados e jogados.
Provavelmente foi obra dele.
Pego a mochila que estava jogada perto da porta e vou guardando o que não foi destruído. Me agacho ao lado da cama e tiro o piso falso do chão de madeira polida.
Quando tinha quinze anos descobri esse esconderijo, comecei a guardar tudo que era importante pra mim e meu pai não poderia saber. Os poemas, livros de romance, dinheiro e minha músicas.
Os pego e guardo em minha mochila. Saio do quarto e vou em direção a sala onde minha mãe espera sentada na poltrona em frente a lareira.
- Pronto? - ela e pergunta com um sorriso discreto no rosto.
- Tudo pronto. Já sabe em que hotel vamos ficar? - pergunto indo ao lado de fora chamando um motorista pelo aplicativo.
- Não vamos ficar em um hotel. Ele iria atrás de nós - ela fala com preocupação notável na voz.
- Ligue para Severus - diz me deixando confuso - Se há alguém que pode nos ajudar é ele.
☉☉☉
Oii,
Espero que tenham gostado do capítulo, se acharam algum erro podem me avisar :)
Bjs,
~ Rodrigues
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O Caminho Até Você || Drarry
FanfictionHarry Evans Potter só queria que seu último ano no ensino médio fosse "normal", mas agora ele percebe que nem isso vai ter. Draco Black Malfoy sempre quis poder fazer suas próprias escolhas, e agora ele pode ter isso. Adolescência é uma fase complic...