💛Cap. 1 - Quadro Clínico.💛

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  Mais um dia... Acordei na cadeira desconfortável do hospital, sentindo uma dor intensa nas costas. O chão de linóleo e a poltrona de hospital, rígida e fria, não eram o melhor lugar para passar a noite, mas eu me sentia presa ali, quase como se a minha própria dor fosse parte do ambiente. A noite havia sido longa e inquietante, repleta de sonhos confusos e breves momentos de vigília, onde eu observava os monitores ao lado da cama da minha mãe. Cada bip e cada alarme parecia ser um lembrete cruel da fragilidade da vida, uma constante vigilância que me impedia de encontrar paz.

  Como de costume, o som das batidas na porta me despertou abruptamente. Era um som que eu já conhecia bem, um prenúncio do começo de mais um dia de hospital. A grande porta branca e pesada se abriu com um rangido irritante, revelando a figura familiar da enfermeira. Eu a chamava de "enfermeirinha", não por respeito, mas por falta de um nome melhor. Seu rosto estava imerso em uma expressão cínica e cansada, como se a vida tivesse lhe tirado qualquer resquício de simpatia.

  Ela nem sequer me deu um bom dia. Seus olhos passaram rapidamente por mim antes de se fixarem na janela. Com um gesto brusco, ela puxou as cortinas, deixando que a luz da manhã invadisse o quarto com uma intensidade quase violenta. A luz parecia cortar o silêncio do quarto como uma faca afiada, e eu me forcei a apertar os olhos contra o brilho. O quarto estava agora inundado pela luz, revelando a palidez das paredes brancas e o cheiro inconfundível de desinfetante, um cheiro que eu já associava à angústia e à espera.

   — Acorde! Já são 7 horas, Senhora Lee — disse ela com uma frieza cortante, sua voz ecoando na pequena sala. Seu tom era impessoal, e o olhar desdenhoso que ela lançou na minha direção era quase palpável.

  Mesmo que ela se dirigisse à minha mãe como "senhora", era evidente que essa formalidade não era um sinal genuíno de respeito. O tom de desdém na sua voz parecia um constante lembrete de que, para ela, estávamos apenas mais um número na longa lista de pacientes.

   — Mãe, acorde, você precisa tomar a medicação — minha voz era suave, mas carregada de uma preocupação que eu tentava disfarçar. Cada palavra era um esforço para manter a calma, para não deixar transparecer a angústia e a ansiedade que me consumiam.

  Minha mãe abriu os olhos lentamente, piscando contra a luz que parecia cada vez mais implacável. Eu segurei sua mão, tentando transmitir algum conforto através do toque. Seu olhar frágil e cansado encontrava o meu, e eu sabia que nada que eu fizesse poderia realmente aliviar a dor que ambos estávamos sentindo. As lembranças de sua vitalidade, de sua presença firme e reconfortante, eram agora um contraste doloroso com a fraqueza e o sofrimento que ela enfrentava. Eu podia sentir a força dela enfraquecendo a cada dia, e isso me partia o coração.Sentir aqueles tubos conectados a ela e vê-la naquele estado era devastador. Cada visita ao hospital era um lembrete cruel da nossa realidade: o quarto, com suas paredes brancas e o cheiro constante de desinfetante, havia se tornado uma prisão silenciosa e angustiante para nós duas. O ambiente estéril e impessoal não fazia nada para aliviar a sensação de desespero que me envolvia.   

   — Olá, querida. Você deveria estar em casa, descansando — murmurou minha mãe com um sorriso fraco, um esforço visível para manter alguma normalidade. A fraqueza na sua voz e a dificuldade em manter o sorriso mostravam o quanto ela estava lutando para não ceder ao sofrimento.

   — Eu também acho — a enfermeira interrompeu, seu tom seco interrompendo o breve momento de ternura entre mãe e filha. Ela se aproximou da cama com um passo rápido e impessoal, enquanto preparava a seringa. Seus movimentos eram eficientes, mas a falta de tato era palpável, como se cada gesto fosse uma obrigação a ser cumprida com a menor quantidade de humanidade possível.

Pacto com o Diabo - J.J.KOnde histórias criam vida. Descubra agora