O sol tinha acabado de se levantar quando o rapaz fugiu da aldeia com o menino. Aos poucos, a luz começava adentrar pelas árvores e iluminar o caminho. Algumas horas depois, quando o sol estava a pino, a criança começou a chorar baixinho.
— Mamãe? — o menino balbuciou.
— Está em um lugar melhor— Kad respondeu com a voz embargada. — Ela está junto de meu pai.
O jovem acariciou os cachos do garoto com delicadeza. O menino diminuiu o choro e começou a dormir em cima do cavalo que galopava devagar naquele trecho já distante da aldeia.
Algumas horas se passaram em meio a vegetação seca e amarelada quando Kad ouviu cascos e olhou esperando o ataque.
Para sua surpresa, um casal de meia idade que morava na mesma aldeia passava por ali em cima de um cavalo velho.
— Do que estão correndo? — o rapaz gritou chamando a atenção.
O casal o encarou e o reconheceu. Diminuíram um pouco a velocidade e foram até ele, mas mantiveram uma distância segura, como se Kad fosse um inimigo.
Os dois estavam nervosos, olhavam para trás com os olhos atentos, como se esperassem que alguém fosse sair das sombras e os atingir.
Suas roupas estavam sujas de poeira e tinham alguns rasgos causados pelos galhos da floresta. A mulher possuía um pequeno corte próximo a sobrancelha e o homem um corte profundo no braço.
— Eles estão atrás de nós! — a mulher exclamou com a voz aguda repleta de medo. — Não estão muito perto, mas ainda podem nos alcançar.
Kad pensou por um momento e aguçou os ouvidos. Podia ouvir a respiração pesada do casal, mas além disso só escutava o canto de pássaros. Os soldados ainda estavam longe.
Kad reparou que o cavalo do casal estava magro e machucado, não aguentaria uma viagem longa. Até o fim do dia os soldados poderiam os alcançar. Ele desceu do cavalo com o garoto e se aproximou do casal que se afastaram com o cavalo. A mulher o encarou desconfiada, sem entender.
— Fujam com o menino, eu vou distraí-los.
— Como? — ela perguntou incrédulo.
— Peguem meu cavalo e corram o mais rápido que puder para o norte, onde existem algumas aldeias ciganas — ele ordenou.
O casal não se mexeu. Continuaram em cima do cavalo manco.
— Eu ficarei aqui. Esperarei que eles se aproximem e correrei para o leste com seu cavalo, eles não vão encontrá-los.
— Por que irá nos ajudar?
— Não sou capaz de cuidar de uma criança — ele afirmou. — E tenho mais chances de sobreviver sozinho do que vocês.
A mulher trocou um longo olhar com o marido, que apenas concordou com a cabeça careca. Eles desceram do cavalo e pegaram o menino no colo. A criança não chorou ao ser segurada pelo homem.
Kad aproximou-se da mulher e tocou sua perna, tentando ajudá-la a subir no cavalo. Ela soltou um leve gemido de dor e afastou a perna. O rapaz estendeu o braço e ela se apoiou para conseguir subir no cavalo. Ele também se aproximou do homem, mas esse negou sua ajuda e conseguiu subir sozinho.
Eles ficaram parados por alguns segundos.
— Vão logo! Ou vamos todos ser mortos! — Kad deu um tapa no lombo do cavalo.
O cavalo correu, deixando apenas um rastro de poeira para trás. Kad não relaxou e continuou parado enquanto os escutava correr e amassar as folhas secas no caminho. Quando o barulho ficou quase inaudível, Kad começou a pensar em um plano.
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O sol estava se pondo, mas os inimigos ainda não tinham chegado. Kad olhou para o céu e viu várias nuvens escuras, sinalizando uma tempestade a caminho. O rapaz subiu até o topo de uma árvore robusta.
O rapaz avistou um grupo de soldados correndo a uma certa distância dali, em direção ao norte, onde o casal e a criança fugiram.
Ele pulou da árvore ralando seus joelhos nos galhos e subiu no cavalo debilitado. O cavalo relinchou e empinou as patas dianteiras. O rapaz segurou as rédeas firmemente tentando controlar o cavalo e deu um grito para chamar a atenção dos soldados.
Sons de galhos sendo quebrados e a ausência do canto dos pássaros mostravam que os soldados estavam se aproximando.
Kad olhou para trás e conseguiu ver entre as árvores alguns vultos distantes. Ele esticou sua perna e deu um chute no cavalo que correu em meio às árvores. Ele puxou as rédeas com força e guiou o cavalo para o leste.
O cavalo galopava com dificuldade, mancava e tropeçava nas pedras enquanto os inimigos se aproximavam. Kad afrouxou as rédeas por um instante. O suficiente para que o cavalo tombasse para o lado e batesse sua lateral nas árvores.
Com o impacto, Kad tentou se segurar, mas caiu no chão. Bateu as costas e parte de trás da cabeça no solo duro. A vista ficou um pouco turva. Ele ergueu a cabeça com dificuldade. Viu a silhueta do cavalo ficando cada vez mais longe.
Ele fechou os olhos. Ouviu os passos dos soldados que se aproximavam. Algumas gotas começaram a molhar seu rosto sujo de poeira. Kad se mexeu um pouco para alcançar a bolsa na lateral do seu corpo. Com uma das mãos ele pegou a pequena adaga de sua bolsa.
Ele rastejou lentamente sem fazer barulho até atrás de uma pequena árvore e se escondeu. Os homens se aproximaram. Começaram a vasculhar perto de onde o rapaz estava.
Olhavam o topo das árvores, atrás dos galhos e troncos. Estavam chegando cada vez mais perto de Kad. Ele prendeu a respiração para não fazer nenhum barulho. O jovem viu a sombra de um dos soldados em frente a árvore que estava. Ele se mexeu um pouco, continuou escondido, e deixou a lâmina preparada.