Faz alguns meses daquele contato íntimo com Sherlock Holmes. Continuo negando o que aconteceu pois nem eu mesmo consigo acreditar no que fizemos. Lembro-me que depois daquela noite, deitamos, cada um em seu respectivo quarto e em total silêncio, fiquei a refletir sobre o que de fato tinha acabado de acontecer. Em que momento tinha me entregado tanto para um homem que tinha praticamente acabado de dividir um apartamento comigo? Como um sujeito tão esquisito e reservado me despertou atenções tão diversas e desejos tão profanos? Isso nunca havia acontecido antes e, pra mim, e pelo visto, para ele, não havia de fato acontecido. Nesse meio tempo as coisas fluíram normalmente. Quer dizer, o normal de Sherlock costuma ser agitado e eu, como um desamparado em ócio, sentindo falta do campo de batalha, passei a acompanhá-lo pelas ruas de Londres perigosamente investigando crimes.
- Bom dia, John. A senhora Hudson foi bondosa e preparou o café, deixou o seu na cozinha, do lado das orelhas do Sr. Peacock.
- Ah, quê???
- Já leu o jornal de hoje? 6 assassinatos em série em menos de uma semana, que maravilha, parece natal! Mal posso esperar para o Garry e a corja de incompetentes virem me procurar.
- É Greg. Como tem tanta certeza de que eles vão te procurar?
["Plimmm" - barulho de mensagem no celular]
- Eles sempre procuram. (Sherlock sorri levemente)
Sherlock pega seu sobretudo pendurado na cadeira e agita os cachos dando um longo suspiro, enquanto eu dou alguns goles no café processando as notícias do jornal.
- Aonde você vai?
- Aonde vamos! Cardiff, encontraram um corpo perto de uma antiga escola e parece não fazer muito tempo.
- Mas eu nem terminei o café.
- Quem precisa de café quando se tem assassinatos em série, John? Ver um cadáver fresco é suficiente para lhe manter acordado.
- Tenha compaixão, Sherlock! É uma pessoa.
- Já estou acostumado com cadáveres. E, com certeza, você também. Vamos, o táxi chegou!
Com a xícara pela metade, deixei o café frio e segui com Sherlock descendo as escadas enquanto a Sra. Hudson carregava uma bandeja cheia de biscoitos que pareciam deliciosos, meu estômago implorava por pelo menos 10 deles mas para aquele homem não havia tempo de sobra.
- Meninos, aonde estão indo?? Fiz biscoitos, deveriam me agradecer pois nem sempre estou de bom humor...
Sherlock respondeu entrando rapidamente depois de mim no táxi:
- Desculpe, Sra. Hudson, fica pra outra hora. O jogo!
- Que jogo?! (disse ela, gritando pois o carro já se distanciava levemente)
Sherlock rapidamente põe a cabeça para fora da janela:
- COMEÇOU!
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Elementar, meu caro tempo.
RomanceDoutor Watson, ex-fuzileiro de Northumberland, está perdido em Londres, sem destino, sem ninguém. Ele conhece um sujeito muito misterioso e intrigante. O que está por vir ?