Capítulo dois

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Laís andava pelo corredor deixando claro em suas expressões de que não estava feliz, o jornal apertado na sua mão era prova de que alguma coisa estava errada. Alguns Deltas olharam de relance e preferiram ficar longe, pelo menos os mais espertos.

– Ei Laís, aonde você vai com tanta pressa? – ela ouviu a voz da amiga, Muriel e apenas ignorou continuando sua caminhada. – Calma ai mulher, eu realmente preciso falar com você. – correu atrás da menina raivosa.

– Não é uma boa hora Muriel. – esbravejou.

– Eu vejo, você poderia passar mais tarde no meu quarto? – perguntou sabendo que não receberia uma resposta verbal, mas sabendo que a amiga iria mesmo assim.

– Opa, sessão colação de velcro, quero participar. – o engraçadinho estava no chão com o nariz sangrando antes que pudesse dizer outra coisa. Laís realmente estava sem paciência, geralmente ela era mais paciente com as babaquices de Murilo, amigo de Muriel.

– Qual foi? – perguntou para Muriel, vendo que Laís nem ao menos parou para olhá-lo.

– Cala a boca. – Muriel revirou os olhos e deixou-o com o nariz recém fraturado sozinho.

– Que porra é essa? – Laís esbravejou, rompendo a porta do quarto sem ser anunciada.

– Olá pra você também. Eu estou bem, a propósito. – o homem falou sarcástico esticando a perna sobre a mesa de centro.

– Eu tenho cara de palhaça? – ela gritou. – O que significa isso? – jogou o jornal com raiva em cima dele. A manchete era clara, Romeu e Julieta moderno, deixam órfão o filho de dois anos. – Isso só pode ser brincadeira, né? – ela estava espumando, tendo ficado órfã tão cedo, lhe embrulhava o estômago ter participado daquilo.

– Deltas não fazem… – ele começou, mas se calou quando o olhar no rosto da mulher inflamou mais ainda.

– É… Deltas não fazem perguntas… eu sei! Mas Deltas também não entram em contato durante uma missão, então Breno ou você me conta o que está acontecendo, ou eu farei uma reclamação formal junto a comitiva internacional, dizendo que o Delta Brasil quebrou uma das principais regras. – o olhar de pavor no rosto do homem a confundiu.

– Quer morrer, porra? Você é só um bebê nessa profissão, então cala a porra da boca se você não quer amanhecer morta. – irritado, trancou a porta no trinco, passando as mãos sobre o cabelo.

O silêncio que se estendeu foi longo e desagradável, antes que ele falasse.

– Os dois coordenavam uma máfia de grupos armados aqui no Brasil, se matássemos um e o outro não, não adiantaria. A criança está com a avó materna, que parece ser uma excelente pessoa. – ele murmurou por fim. Ainda irritada e sem esperar uma segunda explicação ela saiu do quarto, pisando duro e tentando se acalmar.

– Eu sabia que você viria. – Muriel parecia nervosa, não que ela fosse muito diferente.

– Você viu o jornal hoje? – Laís serviu uma dose de whisky puro, as mãos tremendo.

– Sua primeira missão, né? Usou as nanocápsulas? – Muriel também se serviu com uma bebida. Laís sabia que aquela estava virando sua marca, usar tecnologia de ponta para resolver uma missão. – Eu fico imaginando quando você vai terminar as bio cápsulas, acho que serão mais eficiente sem precisar que ninguém fique para limpar a bagunça. – Muriel sorriu, depois de sorver a bebida ainda parecia nervosa.

– O que está acontecendo, Mu? – o apelido carinhoso para quem era tratada como número, tinha a função de conexão, e ambas sabiam disso. Muriel era mais velha, fazia parte do programa a bons anos antes de Laís e por isso tinha sido a treinadora pessoal da mesma.

– Agnes vai para uma missão na Europa. – Laís franziu a testa. Agnes era namorada de Muriel e embora ela fosse uma das poucas pessoas a saber disso, era extremamente raro Muriel falar dela livremente, era um namoro esquisito, mas que funcionava. Mas a parte que mais chamou a atenção dela foi Europa, era bem verdade que o projeto Delta era um projeto internacional. O Brasil sendo ponte da América Central e do Sul, nunca em outro continente.

– Estranho, eles nunca mandam para outro continente. – ela murmurou.

– Exatamente, mas tem algumas coisas acontecendo e ela vai fazer uma missão pessoal! Eu descobri algumas coisas e espero de coração que não seja verdade! – ela murmurou.

– O que? – Laís agora a olhava com interesse.

– Você não acha esquisito que a maioria das pessoas que matamos sejam homens de negócios? Quer dizer, nenhum traficante, chefe de comunidade? Nada!!! – Laís já tinha pensando nisso, mas achava que aquilo tinha uma explicação bem simples, tirar pessoas corruptas de circulação poderia significar evitar mais mortes. – Eu não quero colocá-la em perigo, mas quero que você me prometa que vai tomar cuidado! – Muriel parecia estar falando sério, se levantou e voltou com um pen drive na mão– Sei que você é muito boa com tecnologia e não estaria pedindo isso se não fosse importante… tem uma pasta, chamada 12590S, você precisa descobrir  tudo que puder, não deixe ninguém saber. Guarde o pen-drive e só me dê daqui a um mês se nada acontecer. – ela olhou para amiga, o pedido mudo no olhar– Por favor, Laís, isso é muito importante, se algo acontecer comigo, você estará em perigo– ela pegou um pedaço de papel e empurrou na mão da menina– São algumas informações que você pode precisar… vamos esperar que a Agnes volte bem! – murmurou pegando a bebida da mão da amiga e bebendo tudo. Laís parecia chocada! 

– Muriel… – murmurou tentando entender o que estava acontecendo.

– Não, não posso te falar mais nada! Eu já te coloquei em mais perigo do que eu gostaria– o olhar raso, cheio de emoções tocou o dela. – Você é uma irmã pra mim Laís, espero que você saiba que eu nunca faria algo intencionalmente para feri-la, é por isso que eu preciso que você siga o plano no papel, passo a passo. Por favor… – muito embora não entendesse, Laís sabia que algo muito sério estava para acontecer e esperava que aquele sentimento ruim que se apossou dela, não fosse o que ela estava imaginando, ou ela estaria em mais encrenca do que gostaria.

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