Capítulo quatro

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— Merda! Merda, merda! – Laís sabia que aquilo era uma complicação sem tamanho. Ela tinha feito uma escolha e não propriamente era a escolha que ela considerava a mais acertada.

— Você não tomou, né? – o susto que tomou ao ter o quarto invadido por Muriel foi sufocado pela raiva que sentiu da amiga, ela estava numa situação delicada por causa dela.

— Você sabe o que fez? Sabe o que eles farão se ao menos souberem que… – incapaz de completar a frase quando a amiga a interrompeu novamente, o corpo pendeu em cima da cama, mostrando o esforço que ela tinha para não desmoronar.

— Você não tomou, ótimo. – Muriel estendeu a mão com um pequeno comprimido para a amiga. — Esse é um comprimido que vai fazer seu coração trabalhar em dobro, sem riscos colaterais, como te dopar. – Laís pegou o comprimido e olhou desconfiada para a amiga. — Eu acho que fui comprometida, você precisa garantir a sua sobrevivência, eles não sabem do seu envolvimento. – Laís totalmente quieta engoliu o remédio. — O pen drive, tem outra pasta importante, minhas contas, dinheiro e movimentações financeiras. E esse aparelho celular, tem uma pasta com um plano de ação para tirar você e uma equipe que eu já escolhi a dedo daqui. Você precisa convencer cada um e tem tudo anotado de como você fará isso… – Muriel parou e olhou para a amiga. — Me prometa que não vai se meter, se algo acontecer. – seu semblante estava negro, dificilmente Laís se lembrou da amiga assim.

— Eu ainda não entendo nada disso. – era a pura a verdade.

— Sabe porque eu entrei no programa Delta? Minha mãe foi estuprada e morta pelo meu pai, um chefão do tráfico em São Paulo, e eu só pensava: se alguém tivesse feito algo antes… – Muriel agora tinha a expressão sofrida, quase como se estivesse revivendo toda aquela situação. — O problema é que agora eu desconfio que o trabalho que fazemos aqui é justamente para beneficiar um tipo de gente igual meu pai. – Laís levantou rapidamente da cama, desnorteada tentando entender a situação.

— Isso não é verdade… – Laís serviu uma bebida forte para ela e tomou tudo num gole, tentando ser coerente.

— Você está maluca, você tomou remédio agora. – Muriel olhava desacreditada para a amiga, imprudente e chocada.

— Me diz, como você pode ter certeza disso? – Laís estava brava, ela tinha matado pela projeto Delta, se isso fosse verdade… ela não conseguia nem pensar.

— Eu pesquisei sobre as pessoas mortas na sua última missão. Jonas e Helena Dias, tinham a ficha mais limpa que um anjo na terra. A não ser por Jonas, que tinha acabado de fazer uma denúncia sobre um narcotraficante carioca e foi morto antes de ser capaz de ir aos tribunais… – Laís não estava bem, o coração começou a bater rápido, ela sentia que teria uma parada cardíaca. — Eu sinto muito, acho que nos usaram, não apenas uma vez… – Muriel suspirou cansada.

— O filho deles está órfão… – Laís sabia exatamente o que aquilo significava, ela tinha feito um outro ser humano passar pelo menos o que ela passou sem necessidade.

— Você entendeu? O governo aceita proposta de assassinatos de quem pagar mais, não para ajudar a população. – Muriel olhou para frente com um olhar sombrio. — Agnes desconfiou disso primeiro. – olhou para a amiga com profundo pesar. — Ela sabia do que estava acontecendo, e por isso foi morta. – revelou.

— Eu não entendo, o avião… – começou.

— O piloto que deveria estar no avião está vivo e bem, quando eu perguntei porque ele não foi naquela noite ele desconversou. Eu invadi o sistema e ouvi a gravação daquela noite, ouvi tiros e gritos, e o capitão é o mesmo cara que está vivo e bem. – murmurou por fim. — A gravação está no celular, talvez você consiga descobrir alguma coisa que eu não descobri. 

Alguém bateu na porta com força, ambas se entreolharam, apesar de totalmente nervosa e sabendo que tinha sido enganada, Laís sabia que tinha que manter a calma, ser fria como lhe ensinaram a ser. Abriu a porta e encontrou Breno do lado de fora, Muriel de forma rápida tinha se escondido dentro do banheiro.

— Que foi? – questionou, o homem tinha as mãos dentro do bolso e parecia estranhamente sem graça.

— Vim ver se você está bem. – murmurou.

— Eu tô ótima. – tentou fechar a porta.

— Ei, calma! Eu queria me desculpar, não quero que as coisas fiquem estranhas… eu sinto muito por ter sido rude no outro dia. – ele agora parecia estranhamente distante, olhando para o outro lado, como se alguém pudesse livra-lo do que parecia ser uma tortura. Laís cruzou os braços na frente de seu corpo e lhe encarou com muita força.

— Desculpas por que? – falou petulante, recebendo um olhar profundo do homen a sua frente, ele era lindo, não podia negar, com os olhos mais intensos que ela já vira. Ele cruzou os grossos braços na frente do peito, numa atitude que embora parece intimidadora, para ela parecia tímida. — Por me ameaçar? – ela arqueou a sobrancelha.

— Eu não te ameacei, eu falei sério quando disse que isso poderia causar sua morte, gostaria de falar tudo o que eu sei! Mas você deve ter cuidado, eu só espero que você consiga me desculpar. – agora a voz dele parecia mais baixa,bela sabia porque aquele desconforto, ela mesma tinha achado que eles estava encaminhando para algo mais que amizade antes da última missão.

— Desculpas aceitas, se é só isso… – deixou no ar.

— Sim, obrigada Laís. – da forma que tinha vindo, ele se foi, deixando uma Laís muito confusa.

— Ele gosta de você, parece que o remédio começou a fazer efeito. – Muriel arqueou a sobrancelha ao ver a amiga extremamente trêmula. — Eu já vou, tente dormir um pouco. – passando por ela, a mulher deixou o quarto.

Laís teve a certeza de que algo estava muito esquisito, Breno e Muriel pareciam mais enigmáticos do que deveriam, e ela podia jurar que seu estava trêmulo não tinha nada a ver com o remédio, que Deus lhe ajudasse.

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