Capítulo três

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Quando Laís acordou no dia seguinte, havia uma agitação fora do comum na unidade, algumas pessoas corriam para o Norte, tentando entender o que estava acontecendo, ela saiu do jeito que tinha acordado.
– O que… o que aconteceu? – perguntou um pouco bêbada pelo sono.
– Um avião da Delta explodiu ontem, aquele que saiu à noite daqui. – a jovem menina murmurou, Laís se lembrava dela, tinha feito a classe de economia com ela.
Mas a informação que ela tinha lhe dito era mais importante, ela sabia quem estava naquele avião e só por isso, ao invés de ir para o Norte, foi para o Sul.

Ao encontrar a amiga, sabia que ela já estava ciente do que acontecerá. Bêbada igual um gambá, Muriel não parecia surpresa, mas sim desesperada.
– Mu… – ela começou.
– Por favor, me leve ao meu quarto! – a voz carregada de tristeza era um contraste para sua feição marcada pela frieza… ela sabia, que Deltas nunca deveriam mostrar emoções numa missão, mas não imaginava que isso valia para a vida pessoal.
Apoiando o corpo da amiga com sua lateral, carregou o corpo dela para a ala dos instrutores. Breno estava em pé do lado de fora do seu quarto e teve a decência de não falar nada, parecia estar se compadecendo da amiga.
Laís sabia que aquele era um daqueles dias que seriam intermináveis, mesmo assim fez um esforço para tirar a garrafa de bebida da mão da amiga e arrastá-la para debaixo do chuveiro. O seu estômago nem protestou pela falta de comida, a fome tinha desaparecido completamente.
– Laís… eu sou a próxima. – ela murmurou depois de tomar banho e devidamente vestida. Os olhos cheios de lágrimas, tingidos de desespero.
– Do que você está falando? – questionou, tentando não parecer agressiva, como era de praste de sua postura.
– Eles de alguma forma sabiam… eles a mataram, eu sou a próxima – de repente algo atingiu a mente dela, a missão pessoal que Agnes faria.
– Muriel… o que… A missão pessoal. – murmurou totalmente atordoada.
– Sim, você entende né? O pen-drive que eu te dei, vai libertar você daqui! – murmurou, abrindo um esconderijo no piso e puxando  uma bolsa de dentro. – Se algo acontecer comigo, aqui tem alguns documentos e dinheiro. – Muriel era especialista em falsificação, por isso aquela sentença não confundiu Laís, mas o fato dela estar falando sobre aquilo com ela sim.
– Por que você acha que eles vão atrás de você? – Laís estava apavorada.
– Porque eles sabem que Agnes e eu, somos casadas. – aquela revelação sim tinha caído como uma bomba, ela sabia que ambas estavam juntas, mas casamento… – eles não ajudaram a esconder o casamento, não era bom para os negócios, mas agora… – balançou a cabeça.
– Você precisa descansar. – Laís murmurou por fim.
– Por favor… apenas lembra-se, essa é uma profissão que o plano de aposentadoria é o caixão. Você precisa sair daqui, leve os seus amigos… eu sei que você tem e são os mesmos que os meus… prometa, você vai fazer todos ficarem em segurança. Me prometa! – exigiu.
– Tudo bem! Não pense nisso agora, se eu sair daqui você vai comigo – ela prometeu a amiga.
– Você é nova nisso tudo. Agora saia daqui e alguém perguntar, eu desmaiei no banho. Você não pode contar pra ninguém o que eu te falei, até você ter certeza que não tem escutas, você me entende? – perguntou por fim, recebendo um aceno de concordância. – Bom, eu posso ficar tranquila. – ela recostou para trás por fim, fechando os olhos inchados.

Enquanto treinava boxe no horário especificado para sua agenda no dia seguinte, Laís observou que os instrutores ainda conservavam a tensão do dia passado, o que lhe surpreendeu foi ver Muriel aparecer para treinar. Negando com a cabeça qualquer aproximação que ela tinha iniciado em fazer, ela olhou para a direção oposta, quando chefes da diretoria apareceram. Aquilo se tornou mais confuso do que ela imaginara, não era costume a alta cúpula se aproximar dos subordinados.
– Se aproximem todos. – um deles ordenou. As pessoas largaram tudo e Muriel a olhou de canto.
– Vamos passar por uma simulação de respiração essa madrugada. Os médicos estarão observando todos os batimentos cardíacos de todos vocês enquanto vocês dormem. A ideia é abrir um curso de mergulhador, para caso houver uma missão dentro da água. – ele falou, olhando todos os olhos em expectativa para ele. – Apenas os que passarem, poderão fazer o curso. – ele determinou.
– Essas são pílulas que farão o coração trabalhar com o dobro de capacidade por um pouco menos de uma hora. – Laís não precisava ser gênia para saber que havia sérios riscos à saúde, mas sabia também que como em tantos outros simulados, todos estariam dispostos a dar sua vida para aprimorar suas habilidades no emprego.
– Não tome! – Muriel murmurou passando por ela, em direção ao bebedouro.
– Façam uma fila, todos devem tomar! Até os instrutores. – coordenou, um dos chefes.
– Coloque debaixo da língua. – novamente Muriel passou por ela.

Enquanto esperava na fila, Laís sabia que tinha que tomar uma decisão. Não era como se ela sentisse prazer em desobedecer seus superiores, mas achava que talvez Muriel tivesse razão, ela precisava saber o que estava por vir... sua intuição não falhava, algo estava pra acontecer e ela estava disposta a descobrir.

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