"A vida não precisa ser
perfeita para ter um amor extraordinário."É FATO, A MAIORIA DAS PESSOAS que passam pela Bienal não vão lá para comprar livros, pois, de alguma forma, o local acabou se tornando um atrativo ponto de pegação. Se você vai à Bienal, fatalmente alguém irá te perguntar "quantos livros você comprou?" na intenção de "quantas pessoas você beijou?", e Lisa sabia disso. A garota estava farta de ter que separar inúmeros casais dentro do estande onde trabalhava.
Ela pensava que naquela tarde não seria diferente, por isso, estava mal-humorada, e arrumava os livros resmungando já que não havia ninguém com ela.
— A livraria não fez uma boa escala, e se eu precisar sair por alguma emergência? Quem vai cuidar daqui?
Proferiu antes de fechar sua destra deixando uma pequena marca de suas unhas ali, mas foi interrompida com o barulho simplista que o chão do estande fazia. Havia chegado alguém, ela, a garota que mudaria sua vida de cabeça para baixo, Rosé.
Rosé definitivamente não tinha nada contra as chuvas, exceto quando precisava sair de casa enquanto um temporal desabava sobre a cidade. Mas valeria a pena, sim, valeria. Rosé amava ir à Bienal, não só por causa dos livros e sim devido a todas as pessoas que ela conhecia. Gostava de apoiar especialmente os autores autônomos, os quais estavam ali com impressões por contra própria, sem o apoio de uma editora. Rosé se via ali, entre eles, com seus próprios livros... quem sabe um dia...?
A garota saiu de casa naquele dia com a intenção de gastar todas as suas economias em livros, como ela bem costumava fazer sempre que tinha oportunidades de ir a esses eventos. Seu objetivo era encher aquela estante do seu quarto de livros incríveis, sempre ali disponíveis para serem lidos a qualquer momento de um dia chuvoso ou entediante. É que o mundo dos livros era seu refúgio, por muito tempo foi, até que tudo mudou... E a responsável era aquela Bienal.
Molhada pela chuva e desesperada, Rosé já tinha dado adeus para seu estado físico que deverás estar lastimável. Ela só precisava ser uma das primeiras daquele estande, pois, ali possuía os livros que ela não poderia viver sem. Seus sonhos se tornariam realidade agora!
— Oi, bom dia. Por tudo que é sagrado, me diz que você tem um exemplar de "O Pequeno Príncipe"? — foi logo perguntando a primeira atendente disponível. Sequer olhando para a moça e se arrependendo no segundo seguinte pela pressa, céus... Tão bonita que sentiu uma fisgada no lado esquerdo do seu peito. Leu seu nome no crachá: Lisa. Rosé ficou sem graça, seus cabelos ruivos deveriam estar uma repleta confusão. Não estava em sua melhor apresentação.
— Santa paciência! Será que... — Por um momento a estagiária quase se engasgou, havia gritado com Rosé por seu mau-humor, mas logo abaixou o tom de voz assim que viu quem estava falando. A garota estava toda molhada e provavelmente morreria de frio se continuasse assim ali. Lisa se preocupou.
— Você realmente enfrentou essa chuva toda pra ler O Pequeno Príncipe? — Ainda perplexa e sem acreditar, Lisa desceu da escada de onde arrumava os livros e se aproximou da garota, em seguida tirou seu casaco e colocou nas cotas de Rosé, se aproximando mais para poder conferir a temperatura da garota, ela poderia estar com febre, doente ou até pegar um resfriado se continuasse molhada daquele jeito.
— Não precisa, tá tudo bem... — Sentiu suas bochechas ficarem vermelhas de tanta vergonha, definitivamente a vendedora não estava de bom humor. Mesmo assim, o casaco foi colocado sobre si.
— Me desculpa ter chegado assim e te atrapalhado, já pedindo algo. É que esse é o único estande que provavelmente terá esse livro e sim, enfrentei tudo para comprá-lo, é importante para mim. — Tinha um valor emocional muito forte para Rosé. De qualquer forma ela se aconchegou no casaco oferecido, pensando que quem passaria frio seria a garota que lhe emprestou esse casaco. — Meu guarda-chuva quebrou no caminho. — Sorriu sem graça e logo seus olhos analisaram o local.
Ah, estar em meio aos livros era tudo para si. Definitivamente tudo. Gostava até do cheiro, seus olhos brilhavam para cada obra impressa diante de si.
Calma, Rosé, calma, tenha controle. Você não tem dinheiro para levar a loja inteira.
Assim que comprasse o único livro que fazia questão de ter, devolveria o casaco para a menina e Lisa pediria um Uber de volta para casa.
— Obrigada, Lisa... — sorriu sem jeito para a moça bonita. — Pelo casaco, eu te devolvo antes de ir.
As bochechas rosadas da garota e seu jeito fofo que fizeram Lisa dar seu primeiro sorriso naquele dia, ela se sentia confortável ao lado da ruiva ensopada em sua frente de alguma maneira, não sabia como, mas gostava daquilo, da companhia dela mesmo que por alguns segundos.
— O livro que você quer está aqui, vem comigo — mas antes que a atendente prosseguisse com aquilo, falou: — Se você não se importar eu posso te dar o meu guarda-chuva, e eu não faço questão do casaco, apenas que você chegue bem em casa.
— Não precisa, eu vou chegar bem, pegarei um Uber. É mais rápido, mais quente e seguro. Com sorte a chuva vai estiar — disse a fissurada em livros, acompanhando a vendedora até o local onde o exemplar que queria estava.
Era uma versão totalmente diferente, essa editora havia lançado a história do Pequeno Príncipe com uma capa luxuosa e ilustrações ainda mais detalhadas.
Num momento difícil de sua vida esse livro a salvou e agora poderia ter a sua versão, só sua. Certificando-se que suas mãos estivessem secas, pegou um exemplar, sorrindo para a capa bonita cuja passou as mãos para sentir a textura. Seu coração ficou quentinho.
— Muito obrigada e... posso imaginar o quanto é difícil trabalhar na Bienal, mas espero que seu dia seja melhor. Você é muito gentil — disse enquanto seguiram juntas até o caixa do estande.
— Obrigada... sabe, você é a primeira pessoa com menos de 40 anos que entra aqui pra definitivamente comprar alguma coisa — Lisa falou antes de dar uma risada e se colocar atrás do caixa e pegar o dinheiro com Rosé.
Não sabia se poderia arrepender-se mais tarde de sua atitude, mas estagiária não exitou, colocou o dinheiro dentro do livro sem que Rosé percebesse, queria que fosse um presente para a garota. Não havia um marca-texto original para o livro, mas havia um de A culpa é das estrelas, e como na história, cujo imaginou que a garota conhecia por sua admiração em livros evidente, falou com suas bochechas em tom rosado:
— Depois de ler, me liga.
Pareciam uma dupla perfeita de tomates, já que ao entender as intenções e referências da garota Rosé também ficou de bochechas rosadas. Não se lembrava da resposta exata que Hazel deu a Gus, mas com certeza ligaria para ela.
— Então é bem capaz que eu te ligue ainda hoje.
҂ 𝑏𝑖𝑒𝑛𝑎𝑙𝑑𝑎𝑐h𝑎𝑒𝑙𝑖𝑠𝑎︕ ꒱
𝐀𝐎 𝐒𝐄 𝐄𝐒𝐐𝐔𝐄𝐂𝐀 𝐃𝐄 𝐕𝐎𝐓𝐀𝐑!
2021, 1ª edição. © todos os direitos reservados.
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A Bienal e Seus Tomates - Chaelisa
Romance[FINALIZADA] Quando você procura o exemplar de "O Pequeno Príncipe" e se apaixona por uma bibliotecária mau humorada, um clichê de "A Culpa é Das Estrelas" pode ser a única solução para o seu romance em meio aos livros. FANFIC CHAELISA Enredo funcio...