Under Study | IMAGINE - Sebastian Michaelis

Três

Sem sucesso, eu tentava dar sentido a declaração de um político brasileiro e torná-la ao menos plausível para os leigos na política internacional.

O que era difícil, porque eu nunca fui exatamente uma expert em política.

Apertei os olhos e me concentrei na última linha da declaração e a traduzi. A comunidade internacional estava começando a se alvoroçar diante de tantos sequestros. A maioria continuava a ser de britânicas, mas agora algumas meninas brasileiras estavam se juntando as estatísticas - isso explicava a declaração insossa que eu me via obrigada a traduzir por ser a única fluente em português no departamento - . Pais estavam entrando em pânico, escolas estavam terminando suas aulas mais cedo para o recesso de inverno afim de diminuir os riscos.

E enquanto isso, Sebastian ficava sentado na santa paz de seu escritório todos os dias, desde as 6h às 22, talvez até mais, dependendo do que precisasse fazer ou pistas que tivesse que analisar. Mas para mim não fazia muita diferença, já que ele não tinha a bondade de compartilhar absolutamente nada comigo.

- Dia difícil hein? - ouvi alguém dizer atrás de mim em um tom provocativo. Fechei os olhos por alguns segundos, contando de cinco até zero, e quando me voltei para quem havia dito, me deparei com o rosto magistralmente maquiado de Beast.

Me surpreendi pelo fato de estar desfilando assim em plena redação. Qualquer pessoa que a encontrasse na rua chutaria que ela era algum modelo de uma marca de maquiagens nova ou uma blogueirinha que ganha a vida fazendo tutoriais e propagandas de marcas que ninguém mais conhece.

Se bem que, eu não me surpreenderia de que ela tivesse isso como uma segunda profissão.

- Trabalho é trabalho. Difícil ou fácil. - eu disse. Ela trazia um típico sorriso falso no rosto. Me convenci a pelo menos botar no rosto uma expressão amigável.

As vezes trabalhar em grupo pode ser muito exaustivo.

- Uau, então a definição de trabalho difícil para você é traduzir uma entrevista? - ela estalou língua, simulando uma expressão de pena que fez meu café da manhã revirar no estômago. - Talvez devesse pedir para que Diedrich desse de volta para você o cargo de fazer cafézinho e carregar papéis pelo prédio, você era tão boa nisso...

Apertei os dentes uns contra os outros e engoli em seco. Beast tinha unhas postiças enormes com adesivos de oncinha e batia elas nas várias pastas que apertava contra o peito. Ergui uma sobrancelha quando vi isso e tomei coragem para soltar a farpa.

- Ah não, não precisa se preocupar comigo. - estiquei as palavras em inglês, da mesma forma que ela fazia. - Você parece estar se saindo melhor do que eu nesse cargo.

Se um olhar fosse capaz de pôr fogo em alguém, eu com certeza teria entrado em combustão naquele exato momento. Beast parecia querer me picar em pedacinhos.

- Para a sua informação, só estou entregando estes papéis porque Diedrich em pessoa me pediu. - ela disse com a voz tensa, talvez se controlando para não avançar para cima de mim com suas unhas de animal print que com certeza deveriam ter custado uma fortuna na manicure.

- Claro que sim. Isso é exatamente o tipo de coisa que eu fazia. - emendei, sentindo que já começava a passar dos limites. Mas não conseguia evitar. Ao que parecia Beast desenvolvera algum tipo de antipatia pela minha pessoa desde que havia pego ela e Sebastian no flagra em plena redação. Ela fazia questão de me irritar, e eu, como uma boa latina com sangue correndo pelas veias, lhe oferecia uma resposta sempre a altura.

Na maioria das vezes, é claro.

- Estou contando os dias para que você dê o fora daqui, estagiária. - Beast espetou por último. Mordi a língua, ciente de que continuar com aquela guerrinha de nervos não me levaria a nada, e muito menos me ajudaria na tradução que realmente precisava da minha atenção. - Essa sua carinha inocente não engana ninguém, sei que está de olho em outra coisa, e não é em uma promoção. Vou dizer só uma vez: Fique longe dele.