Under Study | IMAGINE - Sebastian Michaelis

Cinco

- Eu estou dizendo, ele é o homem mais fofo e mais romântico que já existiu na face da terra! - Sieglinde gritou eufórica do outro lado da linha. Estreitei os olhos quando senti meu ouvido zunir e afastei o celular alguns centímetros para logo depois trocar de orelha.

- Uau, pelo visto Wolfram está sendo bem legal com você... - murmurei sarcástica, mordiscando meu sanduíche. Minha amiga respondeu com uma série de risadinhas.

- Não só legal! Ele é completamente diferente dos outros caras que já conheci - ela continuou. Dei uma segunda mordida em meu sanduíche, observando as pessoas transitarem pelo saguão repleto de mesinhas ocupadas por algumas pessoas que também estavam no horário do almoço. - ele é mente aberta, sabe escutar. Chega quase a ser esquisito, mas parece que sempre temos assunto!

Ouvir isso me fez erguer uma sobrancelha desconfiança. Pensamentos suspeitos pipocaram em minha mente, mas me esforcei ao máximo para os afastar.

Eu não queria ser injusta com Sieglinde, muito menos azedar aquele momento açucarado em que parece que estamos nas nuvens quando nos apaixonamos. Estava completamente fora de cogitação eu ser, literalmente, a nuvem negra e carregada que cortaria o barato. Não mesmo.

Mas, mesmo assim, eu não conseguia parar de achar estranho a maneira como ela e aquele homem estranho e desconhecido tinham se tornado tão íntimos em questão de dias. Eu ficava quieta, por mais que as minhas suspeitas fossem grandes, além disso, eu não tinha nenhuma prova de que aquele relacionamento poderia ser nocivo para Si que não fosse só minha extrema aversão à relacionamentos virtuais.

Mordi o lábio assim que finalizei meu sanduíche e espanei os farelos de pão do meu colo. Resolvi continuar calada e ouvindo os devaneios românticos da minha amiga que já havia emprestado seus próprios ouvidos várias vezes quando passei por todas as fases de um relacionamento.

Apesar daquela desconfiança chata que insistia em cutucar no fundo da minha intuição, eu me sentia feliz por Si finalmente ter encontrado alguém de que pudesse falar tão bem desse jeito. Não foram poucas as vezes que ela já havia dito que não esperava dar certo com ninguém.

- Tá bom, mas acho que chega de falar de mim. - ela finalizou. - Você vem dormir aqui em casa hoje? Ou será que o chefe maravilhoso vai estragar seus planos mais uma vez?

Fiz uma careta e estalei a palma da mão na testa. Eu havia esquecido completamente do que tínhamos combinado.

- Pelo seu silêncio acho que sim.

Engoli em seco.

- Não é nada disso Si. - eu disse desconfortável. - Na verdade hoje o pessoal da redação tinha planejado fazer um happy hour, mas eu me esqueci completamente de que tínhamos combinado outra coisa antes, só isso. - fiz uma pausa, afastando o celular do rosto e constatando que eu ainda tinha cinco minutos até que meu horário de almoço terminasse. - mas não se preocupe, vou dizer a eles que não posso ir dessa vez e na próxima vou com certeza.

- Eu me sinto lisonjeada por você considerar furar o happy hour com seus colegas de trabalho. Quer dizer... Eu já me sinto especial quando você decide sair do céu cárcere estudantil e fazer alguma coisa de pessoas da nossa idade comigo - revirei os olhos, pude ouvir Si dar uma risadinha do outro lado da linha quando me ouviu suspirar com força. - Mas eu não sou uma amiga tão má assim. Você precisa ir à esse happy hour!

- Não preciso não!

- Shiu! Precisa sim! Você não é britânica de nascença, mas eu sim. E acredite, você não vai querer furar um programa planejado com antecedência por um britânico.

- Ótimo! Agora está fazendo com que eu me sinta culpada por furar algo que planejei com você Si!

Ela desdenhou com um 'pffft'.