Quatro

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- ... E não se esqueçam: Semana que vem iniciamos a aula com nosso debate sobre os limites da liberdade de expressão! Leiam os artigos que disponibilizei no e-mail da turma e procurem achar matérias e textos base que os ajudem a defender o seu ponto de vista! Nos vemos na próxima quinta!

Inspirei conforme comecei a alongar as costas. Ouvi uma série de estalos vindos da minha coluna maltratada pela cadeira tão desconfortável da sala de aula e fiz uma careta. O ruído de cadeiras arrastando e cadernos se fechando permeava a sala e me trazia uma sensação familiar. Tudo naquela sala parecia estar acontecendo conforme a rotina.

Fora, é claro, a ausência de Sieglinde na cadeira ao meu lado.

No mesmo instante, como que por transmissão de pensamento, senti meu celular vibrar sobre a mesa. Apertei os olhos, tentado afastar a letargia, e desbloqueei a tela.

[Hoje, às 13:30 PM] Si: É, agora é oficial. O médico disse que estou com insuficiência de vitamina D. Isso explica a fadiga, maravilha :')

Sorri para a tela luminosa. Depois de guardar meus cadernos e o estojo na mochila comecei a teclar em resposta:

[Hoje, às 13:33 PM] Você: Viu só? Nisso que dá ficar o tempo todo enfurnada em casa e nunca sair para pegar sol. Já não é de hoje que venho avisando você, Si!

A resposta veio imediata:

[Hoje, às 13:33 PM] Si: Eu sou uma criatura da noite! Não preciso da luz do sol, preciso da luz brilhante e energizadora da mãe lua!

[Hoje, às 13:33 PM] Você: Bom, você quem sabe. Mas não acho que a luz brilhante e sei lá o que da sua mãe lua vá salvar você de ter um osso quebrado por causa dessa falta de sol...

[Hoje, às 13:33 PM] Si: Ha-ha-ha... Muito engraçado! -_- Mas me diga, perdi muita coisa nas aulas de hoje?

Levantei a muito custo, colocando uma alça da mochila sobre o ombro e encarei o questionário preenchido que a coordenação do curso havia me dado mais cedo sobre minhas experiências no estágio. Talvez, se eu fosse rápida, poderia entregá-lo à caminho da saída. Com um suspiro, segurei o papel entre os dedos e rumei para a saída da sala distraída enquanto digitava:

[Hoje, às 13:34 PM] Você: Não muita coisa na verdade. Posso te mandar as fotos do caderno quando chegar em casa, mas agora preciso correr. O The Times me espera! :)

Passei pela porta, ainda segurando o celular. Abri o bolsinho na lateral para guardar o celular, e quando dei uma última olhada, li na barra de notificações a mensagem:

Si: E o demônio do The Times também ;)


Revirei os olhos, mas de alguma forma acabei sorrindo pelo menos um pouco. Afundei o aparelho no bolso, entre papéis de bala e notinhas fiscais. Segui andando, completamente distraída pelos corredores enquanto brigava com a fivela de graduação de uma das alças da minha mochila. Estalei a língua irritada, por pouco não percebendo a presença de alguém se aproximar rapidamente de mim.

Senti mãos firmes me segurarem pelos ombros, salvando não só a mim, mas também a pessoa de um impacto acidental. Ouvi uma risadinha, e isso já foi o bastante para que soubesse quem era.

- Deveria tomar mais cuidado, pequena detetive - meu professor de inglês, Undertaker disse em um tom estranhamente sugestivo. Na verdade eu sabia que seu nome verdadeiro era Adrian, todos sabiam, já que ainda estava na planilha de horários fixada no mural da entrada do prédio de jornalismo. Mas por algum motivo esquisito sempre pedia para todos os alunos o chamarem de Undertaker. - qualquer dia desses pode se machucar de verdade sendo tão distraída.

Under Study | IMAGINE - Sebastian MichaelisOnde histórias criam vida. Descubra agora