Um

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- Se eu tiver que fazer mais uma hora extra, eu juro que vou até o almoxarifado para chorar em posição fetal. - sussurrei, encarando a tela brilhante na área de trabalho do computador.

Suspirei e massageei as têmporas com vigor. Pelos meus cálculos, eu tinha no máximo uns dez minutos até que mais alguém do andar pedisse uma outra rodada de café. Com sorte, eles poderiam aguentar até minha hora do almoço, assim eu poderia me livrar dessa obrigação tediosa por uma hora.

Ou, se eu estivesse com azar, Sebastian Michaelis poderia pedir um café expresso da Starbucks do outro lado da cidade.

Sorri da maneira temerosa enquanto arredava a cadeira giratória mais para a esquerda. As persianas de plástico preto estavam parcialmente abertas, de forma que eu poderia ver com clareza o homem mais bonito e mais endiabrado da redação. Ele empurrava os óculos com o dedo indicador de uma maneira despretensiosa enquanto digitava vigorosamente em seu notebook preto metálico. Se eu não tivesse sido obrigada a conviver com Michaelis por duas semanas seguidas, eu diria que ele se parecia com um anjo caído do céu.

Oh sim. De fato, um anjo caído.

Estremeci ao imaginar seus olhos castanho avermelhados se voltando para mim para mais um pedido impossível, e como se pudesse sentir meu olhar, ele se voltou para mim. De dentro de seu mundinho particular que chamava de escritório, franziu as sobrancelhas para mim, como se eu fosse alguma espécie de stalker maluca e se inclinou para puxar a cordinha de sua persiana. O plástico caiu sobre a janelinha com uma rapidez extraordinária.

Grunhi e apoiei a testa na mesa.

- Ah, que ótimo - sussurrei. - Agora além de me odiar, esse cara deve achar que sou algum tipo de admiradora maluca sua. - virei o rosto para o lado, encarando com uma atenção chorosa a cafeteira na mesinha próxima a mim. - Eu odeio ser uma universitária dependente de estágio. Será que não posso pular para a parte em que me torno a cronista fofa que presenteia os colegas com cupcakes? - murmurei em português.

- Amiga? - ouvi a voz de Mey atrás de mim. - Você está bem?

Me voltei para ela depois de me endireitar.

- Maravilhosamente bem. - passei por entredentes. - Estou esperando que peçam a nova rodada de cafezinho. Aparentemente, o meu café é mais aromático pelo simples fato de eu ser brasileira, da pra acreditar?

Ela riu.

- Então eles vão ter que esperar o seu café aromático, já está na hora do seu almoço. Quer ir comigo até o restaurante da esquina?

Automaticamente, foi como se uma nova energia caísse sobre mim. Sorri com gratidão para Meyrin enquanto levantava da cadeira e desligava o computador com gosto.

- Tem certeza de que seu nome não é anjo?

Ela inclinou a cabeça para o lado, como um cãozinho confuso.

Anjo? - a palavra em português saiu de seus lábios com um tom estranho. Mey parecia estar falando algo em grego. - O que isso significa?

Ri com gosto enquanto enlaçava meu braço no dela para nos dirigimos ao elevador do andar.

- No Brasil, são pessoas gentis como você.

《•》


- Me desculpe a indiscrição mas... - Mey começou deixando seu suco sobre a mesa. - Menina, o que você está fazendo tão longe de casa?!

Soltei uma risada longa, quase engasgando com o hambúrguer. Tossindo, limpei a boca com um guardanapo.

- Estou um pouquinho longe do Brasil, não é? Devo culpar meus pais, especialmente meu velho pai.

Under Study | IMAGINE - Sebastian MichaelisOnde histórias criam vida. Descubra agora