18. Controlo

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Abalada emocionalmente seria considerado um eufemismo para como Clarke se sentia no momento. Ela tinha certeza que estava segurando forte o braço de Bellamy a ponto das suas unhas pressionarem na pele dele mesmo por cima do traje. Mas ele se afastou tão rápido quando reconheceu a forma em frente a eles, que o choque dela a impediu de alertá-lo para não se aproximar demais.

"Me ajuda"

Com a voz totalmente irreconhecível e frágil, ela, que um dia já fora uma bela mulher, implorava atenção em específico a Bellamy, pois não tirava o olhar de cima dele. Isso não cheirava coisa boa para Clarke, mas a confusão e a surpresa a anestesiou, talvez a todos ali. Menos a Bellamy, que não tardou a parar de frente a ela e tocar-lhe o rosto. Echo não parecia mostrar qualquer emoção de reconhecimento, mas de alguma forma parecia saber que era a ele quem deveria recorrer.

Os outros três que seguiam viagem com eles mal soltaram a respiração. Bellamy olhou brevemente para trás, para ver se alguém se disponibilizaria a ajudar e quando não viu indício algum falou com a Echo.

- O que eu posso fazer por você?

A ardência que Clarke sentiu com a fragilidade e doçura na voz dele, ela nem quis pensar demais para não dar um nome. Parte dela, a pior parte, não achava que, independente da circunstância, Echo merecia compreensão. Mas ela não a conhecia como Bellamy a conheceu.

Echo recua em passos lentos e rastejantes e dá a volta, com Bellamy em seu encalço. Clarke de dentro da sala percebe que ela tinha alguma coisa envolta de uma camisa ensanguentada na mão esquerda, antes atrás do corpo, mas quando se vira ela leva para frente. Mesmo assim, o objeto não apareceu, estava muito bem escondido.

Lincoln se junta a ela e tira a dúvida.

- Vocês realmente a conhecem?

Clarke assente. Infelizmente.

- Uma outra hora eu te conto.

Ele aceita e acena para a porta.

- Agora seria bom que nós os seguíssemos. Vocês podem conhecê-la em uma versão anterior mas eu não confio nem um pouco nesta versão.

Eles avançam para a direção em que Bellamy saiu com ela, o mais rápido e silenciosamente possível. Até então só ouvia murmúrios baixos e passos arrastados.

Bellamy decidiu absorver o que via apenas com os olhos. Se guardasse em sua mente, teria pesadelos pelo resto da nova e miserável vida. Um rastro de sangue fresco e vermelho manchava agora os pés de sua ex, mas ela parecia não dar a mínima. Ele fez o possível para não pisar nas pegadas, com certeza aquilo seria um sinalizador para os demais perigos naquele lugar.

Ele para quando Echo faz o mesmo e aponta para o chão. Quando ela se afasta do que escondia, ele tenta cobrir o nariz mas lembra que está de capacete então apenas prende a respiração e sente a acidez em sua bile querendo dar "Oi" ao lado de fora. O odor pútrido era tão forte que o incendiou por dentro do uniforme.

"Me ajuda"

Ela repetia como um disco arranhado. Podia jurar que ela estava em transe, insensibilizada pela dor.

No chão, abaixo de onde seu dedo apontava estava Hope, ou o que um dia já foi dela. Bellamy se forçou a não imaginar as possibilidades do que poderia ter acontecido para deixá-la naquele estado. Dobrou-se nos próprios joelhos apenas para mostrar a Echo que se importava, embora nada pudesse fazer. A coloração azulada já estava sobre todo o corpo e o seguimento de onde começava sua barriga estava aberto, como em uma biópsia de emergência. Sem um órgão qualquer por dentro. Mas muitos coágulos de sangue.

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