O começo do fim

466 10 8
                                    


Acordei no meio da noite com o barulho do farfalhar de folhas em minha varanda. Desci de minha cama e me agachei próxima à porta da varanda. Ele saltou na varanda e caiu no chão todo desengonçado.

— Você devia fazer aulas de parkour. — Abri a porta da varanda rindo.

— Não arrancaria esse sorriso lindo do seu rosto se fosse profissional. — Levantou e se recompôs.

Era a quarta vez na semana que Jake "caia do céu". Me preocupava o fato de algum dia ele se machucar de verdade fazendo aquilo devido ao seu tamanho.

— Vamos, entre logo. Não quero que os vizinhos pensem que namoro um ladrão. — Puxei-o para dentro.

Eu e Jake estávamos indo bem nas últimas semanas, mesmo com todas as brigas em sua casa e o divórcio dos pais em andamento. Depois de algumas visitas noturnas suas começara a pensar que ele estava me usando como refúgio de tudo aquilo. Não o julgo, sua casa devia estar insuportável e inabitável com tudo isso.

— Qual foi o motivo da queda desse anjo em minha varanda? — disse numa tentativa de tom cordial.

— Está me chamando de Lúcifer? — ele riu enquanto se limpava — O de sempre. Meus pais brincando de esconde-esconde.

As brigas e o divórcio criaram uma espécie de clima demoníaco naquela casa e então todos pareciam querer fugir de lá. Sua mãe dizia dormir na casa de uma amiga e só voltava no almoço, enquanto seu pai aparecia bêbado sem aviso prévio.

— Já faz quantos dias que seus pais não dormem em casa? — perguntei sentando-me na cama ao seu lado.

— Acho que duas semanas ou mais. - disse tirando os sapatos. — Desculpa aparecer assim de novo, mas não consigo ficar naquela casa nem por mais um dia.

— Você não tem que se desculpar, sabe que é sempre bem-vindo aqui em casa e pode vir quando quiser. — O abracei. A situação de Jake me preocupava, mas eu gostava do fato de tê-lo comigo quase todos os dias. — Meus pais estão preocupados com você.

— Comigo? O que eu fiz de errado? — disse ele espantado.

— Não é nada ruim, Jake. Só estão preocupados com essa situação e de como está lidando com isso. — disse calma.

Meus pais sempre se preocuparam com Jake, às vezes até mais do que comigo. Eles achavam que ele não tinha a atenção necessária dos pais. Eu discordava. Jake sempre se deu melhor sozinho do que com os pais. Tinha dezoito anos e sempre soube se virar. Era o jeito dele, durão e mal-encarado, mesmo assim eu entendia os meus pais.

— Phoebe, me desculpe, mas não quero que seus pais se envolvam nisso. — disse em tom firme.

— Eu sei, eu sei. Eu disse isso a eles, mas você sabe como eles são. Sempre querendo ajudar e resolver situações de tudo e de todos. — Revirei os olhos. — Além do mais, seria reconfortante dormir com a certeza de que vou acordar com você do meu lado... — escondi o rosto nas mãos.

— Do que você está falando? — disse ele puxando meu braço.

— Eles querem que você fique aqui com a gente. Comigo.

Eu sabia como Jake iria reagir, mas não custava tentar. Meus pais queriam que ele ficasse até as coisas melhorarem em sua casa e isso não seria um sacrifico para nós. Sem contar que eu não iria reclamar de ter meu namorado vivendo comigo.

— Não. — disse seco.

— Como assim? Por que não?

— Eu sei o que eles pensam de mim, eu sei o que você pensa de mim, Phoebe. — Ele me disse em um tom decepcionado que eu não pude entender. — Além do mais, eu vim hoje para te mostrar uma coisa que você vai gostar muit... — disse ele colocando a mão num bolso da jaqueta, mas foi interrompido.

PrisonersWhere stories live. Discover now